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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Liderar para transformar



Portugal há muito que está numa encruzilhada vital. Todos sabemos que se andaram a adiar – por interesse de uns, negligência de outros e desleixo de todos – as reformas estruturais que eram indispensáveis para que a nossa participação na União Económica e Monetária fosse sustentável. Houve uma enorme irresponsabilidade colectiva na forma como aderimos ao modo de vida barato e despreocupado que nos foi facilitado pela aparência de uma riqueza que não produzíamos nem sustentávamos. A agenda de austeridade e reformas do Governo, sendo um mínimo do que deve ser iniludivelmente feito face à amplitude das ineficiências e nós cegos da nossa economia, por si só não é, no entanto, suficiente para captar e mobilizar a fonte de energias colectivas, única força capaz de transformar Portugal e de levá-lo a superar com êxito o desafio crucial a que se enfrenta.

Levantar um país e dar-lhe um novo rumo é bem mais do que executar uma incontestável agenda de austeridade e reformas. A alicerçar e justificar essa agenda tem que existir um projecto nacional consistente, ambicioso e inovador que desperte e aglutine o génio e as paixões individuais e colectivas dos Portugueses. O nosso primeiro activo é o nosso patriotismo, a nossa criatividade e universalidade. Deixar que este capital intangível definhe, desmoralize ou emigre, deixa sem sentido qualquer outra agenda e constitui um ónus bem maior do que todos os que herdámos do passado.

Mas não basta que exista um corpo de iniciativas, metas e estratégias que nos projectem como colectividade no futuro. É indispensável que aquele que assumiu a liderança da transformação do país – liderança esta referendada pelos Portugueses – dê sinais inequívocos – nas decisões e nos comportamentos, nos gestos e nas palavras e até mesmo na voz e no olhar – da sua fé e convicção no caminho escolhido, demonstrando assim a sua indiscutível capacidade para captar, mobilizar e dar vazão ao profundo desejo que os Portugueses têm de construir, entre todos, um país melhor.

Só a paixão inspira e mobiliza os activos capazes de transformar-nos em seres excepcionais e esta é uma verdade universal. Somos um povo que demonstrou sobejamente, em diferentes momentos da sua História, que à competência há que juntar esse génio e que foi e será sempre esta nossa aptidão muito particular para nos apaixonarmos colectivamente pelo que nos propomos fazer também colectivamente que nos diferencia dos outros povos. Sem uma liderança que assuma – convicta e descomplexadamente – esta forma bem particular de ser português e que seja capaz de apelar a este sentimento único e diferenciador, será indiscutivelmente mais difícil de transformar com êxito o país.

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