Portugal há muito que está numa
encruzilhada vital. Todos sabemos que se andaram a adiar – por interesse de
uns, negligência de outros e desleixo de todos – as reformas estruturais que
eram indispensáveis para que a nossa participação na União Económica e
Monetária fosse sustentável. Houve uma enorme irresponsabilidade colectiva na
forma como aderimos ao modo de vida barato e despreocupado que nos foi
facilitado pela aparência de uma riqueza que não produzíamos nem sustentávamos.
A agenda de austeridade e reformas do Governo, sendo um mínimo do que deve ser
iniludivelmente feito face à amplitude das ineficiências e nós cegos da nossa
economia, por si só não é, no entanto, suficiente para captar e mobilizar a
fonte de energias colectivas, única força capaz de transformar Portugal e de
levá-lo a superar com êxito o desafio crucial a que se enfrenta.
Levantar um país e dar-lhe um
novo rumo é bem mais do que executar uma incontestável agenda de austeridade e
reformas. A alicerçar e justificar essa agenda tem que existir um projecto
nacional consistente, ambicioso e inovador que desperte e aglutine o génio e as
paixões individuais e colectivas dos Portugueses. O nosso primeiro activo é o
nosso patriotismo, a nossa criatividade e universalidade. Deixar que este
capital intangível definhe, desmoralize ou emigre, deixa sem sentido qualquer
outra agenda e constitui um ónus bem maior do que todos os que herdámos do
passado. 
Mas não basta que exista um corpo
de iniciativas, metas e estratégias que nos projectem como colectividade no
futuro. É indispensável que aquele que assumiu a liderança da transformação do
país – liderança esta referendada pelos Portugueses – dê sinais inequívocos – nas
decisões e nos comportamentos, nos gestos e nas palavras e até mesmo na voz e
no olhar – da sua fé e convicção no caminho escolhido, demonstrando assim a sua
indiscutível capacidade para captar, mobilizar e dar vazão ao profundo desejo
que os Portugueses têm de construir, entre todos, um país melhor. 
Só a paixão inspira e mobiliza os
activos capazes de transformar-nos em seres excepcionais e esta é uma verdade
universal. Somos um povo que demonstrou sobejamente, em diferentes momentos da
sua História, que à competência há que juntar esse génio e que foi e será
sempre esta nossa aptidão muito particular para nos apaixonarmos colectivamente
pelo que nos propomos fazer também colectivamente que nos diferencia dos outros
povos. Sem uma liderança que assuma – convicta e descomplexadamente – esta
forma bem particular de ser português e que seja capaz de apelar a este
sentimento único e diferenciador, será indiscutivelmente mais difícil de
transformar com êxito o país.
 
 
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