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terça-feira, 22 de maio de 2012

ODE À VIDA


Amo a vida! Adoro quando ela se manifesta numa gargalhada sonora, num abraço espontâneo, numa zanga monumental, num erro crasso, numa angústia corrosiva, numa espera ansiosa, num trabalho suado, numa conversa profunda, numa decepção monstruosa, num silêncio desgastante, numa mão estendida, num conselho avisado, num projeto partilhado e num beijo sem fim. Adoro quando ela nos deixa uma noite acordada a pensar e nos obriga a melhorar e nos desafia sem cessar a superar o impensável e inimaginável e nos transforma num alguém que ainda ontem não levávamos dentro de nós. Adoro entregar-me, vestir causas e partilhar entusiasmos, emocionar-me até à medula e sentir o nó que aperta a garganta e se prolonga e prolonga e não tem fim. Adoro essa vida que nos acorda primavera e deixa de ser colorida sem sabermos porquê e se descose ao entardecer pelas costuras numa torrente de lágrimas que encharcam, resfriam e constipam o dia de amanhã. Adoro caminhar lentamente a tristeza de uma ausência e sentir como nos enche o coração de saudade, adoro recordar e reviver momentos passados num sorriso que ilumina a alma, reencontrar pessoas, coisas, sítios, músicas, letras, palavras, vozes e encher delas os pensamentos pachorrentos de uma tarde de verão. Adoro amar tudo o que se cruza no meu caminho e me agarra com dois braços abertos e enche a noite de ternura e os dias de cumplicidade e dói quando se ausenta e atormenta quando se escapa. Amo demais os mundos escritos aprendidos de palavras com que forrei e enchi o meu próprio Universo e é nelas que espalho e espelho com delícia e prazer as cores, a música e os sabores das vozes da minha alma.  Adoro dar tempo e um compasso de espera à vida que se apressa a ser consumida no imediato e a deixar para amanhã o que poderia ser feito hoje e antecipar o que grita para ser deixado uns dias em cima da mesa, surpreender e ser surpreendida pelo que não espero, ficar sem voz, ficar sem fôlego, ficar sem forças e abraçar o milagre até ao café da manhã. É isso a vida, só assim sei viver e quero escrever os dias de mim, um atrás do outro como se tudo fosse acabar no segundo a seguir, entregue ao que sou, amando como sei, dando o que não concebo, assinando tudo o que faço sem nada negar ou esconder e de nada renegar porque vida há só uma, aquela a que Deus deu a bênção do meu nome e a competência para a ser.

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