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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Viagens pensadas


O melhor passatempo de todos é pensar. As horas passam, o tempo não cansa, não há plano para ir nem hora de volta nem abrigo onde ficar, basta tão só saber declinar pelos verbos fora e escolher a melhor encosta por onde deslizar, se sou, tenho, faço e quero ou não, e pelo contrário, porém, contudo, mas...e volto para trás porque regras não há e a escolha me pertence se sou ave, mortal, leitura, compasso, gerundio, processo, alegria ou estou por nascer no sorriso de alguém, abrando, abordo o infinito com o gerúndio, sempre, tenho tempo, não há pressa, ninguém me espera num abraço ou talvez, quem sabe, porventura, quiçá e se entrasse por essa porta, agora perdi-me porque é doce o entardecer e escolho cores subtis, aromas quentes, sabores a perder de vista, pego na caneta e escrevo uma ode à saudade, um verso de amor, uma carta a um amigo e um apanhado da minha vida, já cá não estás nem sabes a falta que me fazes, a luz esmorece, recolhida e esvanceci, sou três pontos supensivos de silêncio, um compasso de espera, estou no intervalo e saio para arejar e embarco, vamos, depressa, corro, já não chego a tempo, que aflição e porque é que é sempre assim, assim, assim, quem diria, e sou eu ou é um passatempo, um passar o tempo a passar o tempo a pensar como passa, passando, passando a declinar ou declinando, sem abrigo, vagabundeando, com atropelo ou sem ele, imaginando, saboreando, derramando sobre o papel o que nem forma lhe dou nem pretensão possui nem espero partilhar, o melhor passatempo, passar o tempo a pensar. 

Excertos do "Aberto todos os dias, férias, feriados e faltas", do "il est l'heure de s'ennivrer de", do "l'art du temps" e finalmente do "Hier encore", in domingo de manhã, 2013.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A verdadeira resposta da sociedade civil


Vemos aquilo que nos mostram, ouvimos aquilo que nos contam e lemos aquilo que nos explicam. A imagem do país agitado e agressivo é certamente real, mas parcial. Porque os holofotes vão onde há circunstâncias que permitem manter a atenção cativa, sem grande esforço. Somos audiência. 
Dito isto, na penumbra, onde a maioria de todos nós vive, silenciosa e ordeiramente, batalha-se, esforçadamente pela oportunidade. Os Portugueses são um povo de pessoas com ideias, imaginação, competência, talento e iniciativa. Face às necessidades que se acumulam, à margem dos holofotes, vão surgindo novas e inovadoras iniciativas empresariais e solidariedades, aqui e ali, um pouco por toda a parte, para abrir novos caminhos e oferecer novas respostas. Nas empresas, nos pequenos negócios, nas Instituições de solidariedade, nas Associações, nas redes informais, localmente. Propostas que entusiasmam, modernas, radicais.
E existe uma enorme convergência de ideias, de esforços, de soluções para as carências que todos constatamos. A páginas tantas, longe do ruído das ribaltas, constatamos como todos dizemos o mesmo, propomos o mesmo, andamos a fazer o mesmo e queremos o mesmo. E o mesmo é que a sociedade portuguesa precisa de unir as pessoas, as ideias, os recursos e chegar a soluções que tenham massa crítica e escala para que as medidas que hoje nos são propostas pelo Governo para estimular a economia, surtam pleno efeito. 
E o que falta para que isso aconteça? Liderança. Inteligência. Generosidade. Vontade e esforço. A sociedade civil não se organiza nem age à base de decretos nem se impõe por força de um poder organizado que a representa. É por isso urgente que uma série de pessoas, que a representam nas suas vertentes e facetas plurais, se unam para dar escala e força aos ativos de que dispõe: às ideias, recursos, talentos, vontades e esforços. Não é o Governo que cria postos de trabalho. É a sociedade civil. Não bastam os fundos do Estado e da União para estimular a economia, há que complementá-los com os fundos privados. Não são os diplomas que promovem o empreendedorismo que fabricam empreendedores, mas sim a sociedade avisada e com imaginação. Nem sequer é o Governo que exporta e conquista novos mercados, mas aquele que viaja, vezes sem conta, pelo mundo fora, à procura de novos clientes. Não se espere que o Governo se ponha a fazer o que só à sociedade compete e o que compete é aproveitar as condições que o Governo cria, para avançar com respostas, à escala do que pretendemos e sabemos que urge: transformar o país. 
Hoje, as luzes mediáticas incidem sobre ruídos legítimos mas inúteis e vazios, perspetivas desmoralizantes e sem saídas, propostas destrutivas e improdutivas, guerras políticas vãs e cansativas. A alternativa a este ruído virá quando a sociedade civil for capaz de articular os sons do silêncio e transformá-los numa incontornável narrativa de êxito. Todos sabemos como fazê-lo. Porém, há que articular-se, promover lideranças, agir e aproveitar o enquadramento de mudança que nos é proposto e avançar decisivamente. Esta resposta, a única que importa e urge, é a que irá gerar a dinâmica ganhadora e os holofotes não terão outro remédio senão retratá-la. A voz, a imagem e a história de um êxito. De todos.

domingo, 17 de fevereiro de 2013


Evangelho – Mt 6, 24-34: "Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles". Os lirios do campo são um dos melhores indicadores de bordo que podemos ter. Sendo algo exterior, é dentro de nós que os devemos procurar. E quando os encontrarmos e os soubermos apreciar e imitar, tudo o resto vem por acréscimo.

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