O melhor passatempo de todos é pensar.
As horas passam, o tempo não cansa, não há plano para ir nem hora de volta nem
abrigo onde ficar, basta tão só saber declinar pelos verbos fora e escolher a
melhor encosta por onde deslizar, se sou, tenho, faço e quero ou não, e pelo
contrário, porém, contudo, mas...e volto para trás porque regras não há e a
escolha me pertence se sou ave, mortal, leitura, compasso, gerundio, processo,
alegria ou estou por nascer no sorriso de alguém, abrando, abordo o infinito
com o gerúndio, sempre, tenho tempo, não há pressa, ninguém me espera num
abraço ou talvez, quem sabe, porventura, quiçá e se entrasse por essa porta,
agora perdi-me porque é doce o entardecer e escolho cores subtis, aromas
quentes, sabores a perder de vista, pego na caneta e escrevo uma ode à saudade,
um verso de amor, uma carta a um amigo e um apanhado da minha vida, já cá não estás
nem sabes a falta que me fazes, a luz esmorece, recolhida e esvanceci, sou três
pontos supensivos de silêncio, um compasso de espera, estou no intervalo e saio
para arejar e embarco, vamos, depressa, corro, já não chego a tempo, que
aflição e porque é que é sempre assim, assim, assim, quem diria, e sou eu ou é
um passatempo, um passar o tempo a passar o tempo a pensar como passa,
passando, passando a declinar ou declinando, sem abrigo, vagabundeando, com
atropelo ou sem ele, imaginando, saboreando, derramando sobre o papel o que nem
forma lhe dou nem pretensão possui nem espero partilhar, o melhor passatempo,
passar o tempo a pensar. 
Excertos do "Aberto todos os dias, férias, feriados e faltas", do "il est l'heure de s'ennivrer de", do "l'art du temps" e finalmente do "Hier encore", in domingo de manhã, 2013.
 
 
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