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quarta-feira, 25 de junho de 2025

Noites de agitada poesia

Sonhei que era uma lágrima brilhante que saltou sem querer do olhar tão triste da deusa que esperou em vão a noite toda pelo seu anjo e deslizou pela rama de um feto até à fonte onde muitas outras se iam dando as mãos para formarem um riacho e correrem, montanha abaixo, até ao mar.

Sonhei depois que era o riacho, que se deixa tropeçar alegremente nas pedras pelo prazer de ouvir as suas gargalhadas de cristal e de brincar com as cores em se decompõe a luz do sol que lhe ia batendo na pele, logo pela manhãzinha e de cantar com o pássaro de bico doirado, a alegria despreocupada de ser quem é.
Sonhei, por fim, que era esse oceano vasto e inquieto, salgado das lágrimas que a terra lhe traz das noites de amor que ficaram por cumprir, que rebenta a sua dor, por vezes doce, por vezes irada nas praias de areia fina e delicada, a mãe que tudo acolhe no abraço quente do sol-por.
E deixei-me levar pelo último raio de sol até aos céus onde vivem as deusas que procuram, eternamente, o amor que lhes foi prometido, para nelas voltar a ser a lágrima que será sonhada por outro alguém, na sua noite de agitada poesia.

25 junho 2025

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