Portugal é um país exausto, depauperado, entristecido. Sentado à porta, no degrau da pobreza, lamenta-se profundamente com a sorte que não teve, o azar que se lhe cruzou no caminho, a desgraça que lhe entrou pela casa dentro, a saudade de tudo aquilo que nunca chegará a ter. Desiludido consigo próprio, zangado com o mundo, olha fixamente o chão, sem saber para onde ir, como recomeçar, que dias virão aí? sabe-se lá...
Não é fácil falar-lhe de esperança, de elogiar as suas capacidades, de aliciá-lo com slogans, assinalar casos de sucesso que despontam aqui e ali, como cometas que não vêm para ficar. Tudo à volta e ele próprio é uma planície arrasada onde ainda cheira a fumo, no rescaldo de um grande incêndio que fechou o ciclo de uma floresta pujante e que deu frutos, que saciaram uma sede que foi letal.
Olhar de frente. Olhar-se de frente. Cortar o que resta dos coutos enegrecidos, espalhá-los pelo chão e regar. Regamos todos, bendizemos a chuva, somos muitos a começar. Somos muitos a querer mudar de vida, a pisar as cinzas, acamar o chão, para deixar crescer. Não virá ninguém ajudar-nos, nem é preciso. Acreditamos que a terra onde nascemos nunca morre nem nunca arde até à essência. As árvores nascem, crescem, morrem e renascem de novo. E um povo que tem valores levanta-se sozinho, assim como as raízes, com o tempo, florescem de novo
 
 
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