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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Amor nas margens da vida louca

Parece banal e irrelevante face às prioridades e problemas que ocupam os seres humanos, que umas hastezinhas empertigadas e delicadas, tenham brotado de uma série de sementes minúsculas, sem graça nem elegância, colocadas dentro de umas ramas de algodão embebidas em água durante uns dias e aquecidas pelo sol, sempre pálido e tímido, o que entra pela minha janela. E no entanto, no entanto, como me ocorre tantas vezes pensar, é tão verdade que as maravilhas da vida estão é nestes minúsculos e irrisórios acontecimentos que vivem e se desenvolvem na dimensão de tantos "no entanto" que escapam à vida macroscópica que só tem olhos para o que é grande, uniforme e transacionável, ruidosa e que arrasta milhões de pessoas atordoadas. Plantei uma floresta de jacarandás, um facto absolutamente extraordinário que atesta aos gritos que entre humanos e não humanos existe um vínculo, uma cadeia de colaboração que dá origem à vida que garante a continuidade da nossa existência coletiva. É aqui, neste ponto de encontro, neste cruzamento, nesta precisa conexão que reside o segredo de tudo, do tudo, disso que andamos à procura como zombies e do qual nos andamos a afastar a uma velocidade estonteante. Eu falei com a semente na linguagem que ela percebe e ninguém me ensinou nenhum código nem tive que aprender programação ou criar um algoritmo. A IA não meteu para aqui nem prego nem estopa, as sementes e eu colaborámos em silêncio, devagarinho, com muito cuidado e delicadeza, intuitivamente, penso que se pode chamar a isso, amor. E volto sempre ao mesmo lugar. O que se situa à margem de tudo, nesta dimensão do "no entanto", é esta força misteriosa, de linguagem intuitiva, que não tem pressa nem código que se chama "amor". Cristalino como um diamante, elegante como a brisa, delicado como uma pluma...a força que ergue e sustenta as hastezinhas que despertaram no algodão em rama à luz que entra pela janela.

23 maio 2025



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