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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Por uma nova economia social chamada "cívica"

"It is urgent that governments throughout the world commit themselves to developing an international framework capable of promoting a market of high impact investments, and thus to combating an economy which excludes and discards."

Estas são palavras do Santo Padre Francisco, que apelou à criação de um mercado de investimentos de impacto, ou seja, um mercado onde o investimento deixa de ter prioritariamente um retorno financeiro para passar a centrar-se no retorno social. 

No link abaixo, a reportagem do périplo do Ministro Poiares Maduro por Portugal em busca de projetos e iniciativas onde possa ser aplicado o investimento de impacto que será disponibilizado através do Fundo de 122 milhões de Euros, recentemente anunciado pelo Governo.

Um pouco mais abaixo faço referência a um artigo do New Yorker onde se explica que as empresas normais podem também desenvolver atividades de impacto social, um passo em frente na tradicional responsabilidade social corporativa, uma vez que os acionistas abdicam de parte da remuneração financeira do seu capital para darem relevância ao impacto social.

Destes três apontamentos podemos inferir que caminhamos todos no mesmo sentido. Para uma economia que deve estar orientada para a melhoria das condições de vida das pessoas, especialmente das mais desfavorecidas e excluídas e que não se centre apenas na remuneração do capital e menos quando essa remuneração "a todo o custo" conduz inevitavelmente ao aumento do fosso entre ricos e pobres. 

Tanto a economia essencialmente capitalista como a economia tradicionalmente social devem fazer um esforço para se encontrarem a meio de um caminho mais justo mas também mais sustentável. Uns devem abandonar a ideia da remuneração abusiva do capital e os outros devem evoluir da dependência do subsídio sem retorno nenhum para formas mais sustentáveis de prestar serviços. Nem uma coisa nem outra são admissíveis. Nenhum destes extremos conduz a uma melhoria efetiva das condições de vida das pessoas. E é este o verdadeiro objetivo de uma sociedade: organizar-se de forma a garantir o progresso e o bem-estar de todos. 

A transição para esta nova economia não é fácil. Em primeiro lugar porque não estamos organizados para garantir estes objetivos. Em segundo lugar porque para evoluir é necessário sair da zona de conforto e uns e outros estão ancorados na inércia, na tradição, na ganância ou na simples mediocridade. Vai ser necessário "revolucionar" e injetar na mentalidade das pessoas o gosto pela inovação social. A crise já obrigou muitos a procurarem soluções para as suas vidas mas são as Instituições as que mais necessitam dar este "salto mental" para novas formas de estar, colaborar, partilhar, construir. Somos todos chamados a colaborar para inovar e a não ver nisso uma temeridade mas sim uma necessidade absoluta de sobrevivência. E este apelo a todos é o que qualifica a nova economia social como cívica. Não se pode deixar apenas nas mãos dos agentes económicos e sociais a resolução dos problemas, necessidades ou desafios a que a nossa sociedade se enfrenta. Se queremos todos uma sociedade mais justa para todos, é como cidadãos que somos que temos a obrigação de colaborar e intervir. 

Há que repensar sériamente a forma como estamos organizados hoje e encontrar novas formas de participação e colaboração cívica, fórmulas estas que rompem as fronteiras das Instituições, as diluem, para encontrar novas formas de partilhar as responsabilidades pela ação política, económica e social. Cada um de nós conta e todos, em conjunto, contamos. O todos e cada um de nós fará com que a nossa democracia tenha que passar a ser da responsabilidade de cada um e massivamente de todos. Será uma micro-democracia massiva em torno de uma economia que investe na inovação com retorno e impacto social. 

Está aí, ao virar da esquina. São muitos a convergir para o mesmo. Queremos ser melhores do que somos e é urgente definir como vamos sê-lo.

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