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domingo, 26 de julho de 2015

Escavar e construir

Na vida tive dois brinquedos favoritos: Fazer perguntas, era o primeiro. Tantas vezes perguntei "Porquê", quando era pequena que a minha mãe, um dia me ofereceu um livro que se chamava "Porquê". Ainda o tenho. Era giríssimo. Dava respostas a tudo o que era possível, uma criança, perguntar. E ainda hoje me vejo como uma escavadora (de marca alemã, claro!) que passa o dia a escavar para encontrar a razão última e trazê-la à luz do dia para perceber como funciona. O segundo brinquedo eram as construções: Lego, Meccano, comboio elétrico, cartas e fósforos. Com tudo construía tudo. Quiz ser engenheira mas o meu professor de matemática, o temível Herr Leilich, avisou-me de que não ía conseguir lidar com o universo simbólico dos números, a minha cabeça organizava-se de acordo com palavras e aconselhou-me (à boa maneira alemã) a ir para Letras...Pena. Hoje se calhar tinha mais credibilidade do que a que pode ter alguma vez, neste país que venera, por parolice, os que percebem de números, os Humanistas...Adiante.
Ao longo da vida, estas duas facetas - escavar e construir - foram-se exercendo e estendendo a outros domínios (muitos, tantos, porque a minha curiosidade, para o bem e para o mal, não tem limites) e eis-me aqui, por um lado, a trazer à luz do dia, de forma incessante, causas e razões para perguntas que me inquietam e, por outro, a tentar construir, para essas perguntas, casas e edifícios que lhes tragam soluções.
Acho graça que o Partido Socialista tenha espalhado um reclame, um pouco por todo o lado, que diz: "Causa das causas: o (des)emprego". E penso para mim: Ainda só vão na primeira galeria das escavações. Há tempos que passei por ela...E percebo porque é que o Partido Socialista se fica por esta galeria: porque é a galeria onde o povo quer ficar. O Eldorado, para uns e outros. O passeio acaba aqui. É preciso que uns e outros se entendam exatamente na frequência em que, uns e outros, querem e podem estar. Por favor, não vamos mais longe! Uns e outros sabem que não haverá mais "empregos" mas para que os uns ganhem as eleições aos malévolos e os outros fiquem de consciência tranquila por ter cumprido com o dever de votar, o contrato é aceitável. 
É, porém, lamentável. Que os partidos continuem a ficar-se por aqui e que o povo se resigne a ficar por aqui. Pela primeira galeria das causas-soluções: um país atrasado, empobrecido, com circuitos duplicados, soluções desleixadas, um desperdício brutal de uma quantidade de recursos que Deus nos deu e nos quais temos vindo a investir o que temos e o que não temos...O maior défice, nestes 40 anos de democracia, é isso mesmo: os recursos que desperdiçámos e deixámos que fossem desperdiçados pelos que nos governam, pela falta de exigência. Pela pouca ambição. Pelo comodismo primário. 
Fala-se muito dos políticos. Fala-se muito dos empresários. Mas ninguém, do povo, avança para fazer auto-crítica e dizer: "A culpa é nossa, de todos nós, Cidadãos, que não soubemos nem quisemos ser ambiciosos, nem rigorosos, nem ir mais longe..." 
Por isso ando pelo país, a construir. Porque depois de muito escavar, acho que a chave está em nós próprios. A chave está em construir a partir da base, as respostas que precisamos. Começando bem fundo, na galeria mais profunda da nossa inépcia: a confiança em nós próprios. Na nossa capacitação para sermos Cidadãos exigentes, co-responsáveis por tudo o que é do interesse do país e de todos nós, ambiciosos na construção da sociedade que é possível face aos recursos que Deus nos deu e aos ativos que fomos criando. Também face ao dever moral que temos de deixar uma sociedade melhor, aos nossos filhos e não uma pior e encalhada na mediocridade. É caso para dizer: Às armas, às armas, pela Pátria, lutar. E a luta é connosco próprios, que somos o nosso maior inimigo. Mas também o nosso melhor ativo. Temos um lado escuro mas também temos um lado glorioso e brilhante. O lado que eu tenho visto pelo país fora, quando é possível falar individualmente com as pessoas, ouvi-las, fazer-lhes caso, deixá.-las fazer o que sabem fazer e fazem bem. O povo fica-se pela primeira galeria. As pessoas, individualmente, querem ir bem mais longe. Querem as estrelas. Têm ideias para lá chegar. Estão dispostas a isso. Para fazê-lo há que começar a construir, um a um, um com cada um, e todos em conjunto. Pela causa certa e não pela do reclame de profundidade 1, o refúgio para a mediocridade.

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