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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Contra a doença da paródia nacional, rir é o melhor remédio

Com grande tristeza e pesar meus, acabou ontem o folhetim da guerra mundial do Orçamento do nosso Estado. Eram mais ou menos 7 da tarde quando se ouviu o último estrondo de um daqueles mísseis que foram usados na era do maio de 68, muito desatualizados e rançosos, o firmamento se iluminou e houve gritos de extase e aplausos, muitos, embora não se tivessem registado danos de maior no campo adversário porque o mesmo falhou no alvo. Antes deste derradeiro e prodigioso arremesso, houve ali alguns momentos de frisson com o engenho avançado pelo lado oposto da barricada, um artefacto mais moderno e dinâmico, algo embirrento e pespireto no tom dos disparos mas que não passou disso mesmo, de zumbidos parecidos aos das bichas de rabiar. 
Eu ouvi a transmissão em direto deste último Capítulo da nossa grande Guerra Mundial no carro, pela IC-19 fora e devo dizer que tão pendente e envolvida estava eu no cruzamento de arremessos entre Suas Senhorias e sobretudo no desfecho final, esse corpo a corpo bravo, desesperado e impiedoso em que foram desferidos todo o tipo de golpes e usadas até facas de cozinha, penso eu, que foi por pouco que não fui parar a Rio de Mouro/Rinchoa/Mem Martins/Algueirão em vez de acabar à porta de casa, onde acabei por parar, desgostosa e triste pelo encerramento das hostilidades, e agora? Desde o tempo das Farpas, da guerra do Solnado, das aulas do Menino Toneca ou da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil do Badaró que eu não me ria tanto e tão gostosamente. Suas Senhorias e os exércitos de fervorosos de um lado e outro das barricadas esmeraram-se no conteúdo e nas formas de uma renovada paródia nacional que, há séculos e séculos que se re-inventa a si própria e não tem cura. E contra ela, diz o povo, rir é o melhor remédio.

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