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sábado, 31 de agosto de 2013

Diletantismo na areia


Uma tarde de diletantismo na areia. Ao longe, as vozes, as caras, o azul do mar, a brisa que atenua o calor, o gelado, a conversa, o corpo na horizontal, dolce fare niente...perfeito para pensar nas grandes questões, essas sobre as quais assenta o mundo...ensaiam-se ideias, exploram-se hipóteses, identificam-se caminhos...é tão bom, pensar, deitada na areia, a dois centimetros destes maravilhos cristais coloridos e cintilantes...nao sei se durmo, se estou acordada mas é tão bom este diletantismo horizontal, ao sol, ao longe, muito ao longe as vozes da realidade...quem inventou o "praiar", é um génio. Ou um artista, a julgar pela fotografia.
 

domingo, 11 de agosto de 2013

Relações afetivas singulares




Insisto em que temos com as plantas, como com as pessoas e os animais, um vínculo. Não sei a partir de que momento é que elas entram na nossa órbita mas não tenho dúvidas de que entram. É um vínculo menos sofisticado do que aquele que nos une aos animais, pois estes requerem, da nossa parte, alguma constância na manifestação do nosso afeto para que nos devolvam o seu. É certamente menos exigente mas não por isso menos devoto. Ontem e hoje dediquei-me a plantar, transplantar, limpar, varrer, e regar. Plantas, flores. Trouxe-as do viveiro e pu-las na terra e em vasos. Admirei-as, fiquei contente, dão cor, vida, criam ambientes, embelezam. E criam-se relações, uma interdependência. A beleza cessa quando nos descuidamos e volta quando perdemos tempo a cuidá-las. Já aqui disse um dia que as plantas rivalizam entre si pelo nosso afeto, a nossa atenção. Eu tinha uma palmeira que odiava as outras plantas que entravam em casa e que conseguiu que todas morressem até ficar só, no seu império afetivo...só não é estranho se pensarmos como abri esta crónica: que, queiramos ou não, aceitemos ou não, a verdade é que se criam laços com as plantas. Nem melhores nem piores...diferentes, adaptados às circunstâncias, singulares, como tudo no Universo dos seres vivos. Só a ignorância explica que ignoremos esta realidade...

domingo, 4 de agosto de 2013


 
Em maré de recordações, pensei que não mas adoro, convictamente, esta pequena religião de colocar a flor junto das fotografias das pessoas que nos fazem falta. A minha mãe tem outras fotografias mais institucional do que esta para estar na sala mas eu escolhi esta, em que esta com o meu tio Jerónimo, com um ar muito natural e cheia de vida. Lembro -me dela assim, vital, alegre, senhora de si. E fui buscar uma jarrinha que eu adoro pelo seu romantismo e delicadeza e pelo facto de poder levar apenas uma flor e não uma flor qualquer mas uma cujas pétalas não pesem como um fardo sobre os braços do anjinho. Uma rosa aberta em pétalas que parecem saiotes de seda em flor. Adoro este quadro, este nicho de saudade e recordação. Outros recantos como este existem na minha memória. Quando cá estou em Sintra, longe dos afazeres, enchem-me o dia. Uma outra forma de cuidar de um jardim. Não por isso menos exigente e menos gratificante.

Esta cameleira vem do tempo do meu pai. Era feliz, os miudos andavam de bicicleta à volta dela e quando dava flor, cor de rosa, vinha para dentro enfeitar as jarras. Depois do meu pai morrer, com as obras da casa, a minha mãe teve muito medo que a cameleira morresse também. Preocupava-a que o símbolo desaparecesse e falava dela, ao telefone, como se se tratasse de um familiar, dando noticias do seu estado. Não me lembro, agora, se antes de morrer pode ver como a cameleira, mãe, dava vida a um braço que agora rebentou viçosamente dando nova vida à velha cameleira. E hoje, sentada à sua beira, notei que perto do chão nasciam uns novos ramos, minusculos mas fortes. E não pude deixar de me senyir contente. Pelo meu pai, primeiro mas sobretudo pela minha mãe que tanto carinho tinha por esta cameleira. Onde estiver, a minha mãe estará contente. E eu também! Tudo resiste quando é cuidado!



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