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sábado, 6 de janeiro de 2024

Para quê?

Somos tão efémeros e voláteis quanto este amanhecer que do outro lado da minha vidraça embaciada pelo frio deixa sós os braços da noite escura e se lança sem pudor nem remorso no colo do alegre despontar da alvorada.

A vida que dura e é eterna na nossa memória são esses instantes, esses longos e prolongados estados de alma que nos transportam de um momento para outro criando a ilusão de que fluímos sem cessar, que somos alguém, nesta imensa floresta que ladeia o curso do tempo, a correr, inexoravelmente até à foz.
Mas não é assim.
Eu nunca chego a ser. Apenas venho e vou e caminho sem cessar e sou feliz, imensamente feliz quando transito de uns braços que me acolhem na escuridão para o colo que me protege da luz que fere e cega.
Como este amanhecer que se desvanece nos brilhos do acordar da luz para além do meu horizonte, eu não sou, não estou e não ficarei nem sequer como pensamento ou memória.
Para quê?

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