Hoje e sempre fará sentido parar no caminho. E regressar a casa. Ao lugar onde se guardam as essências, os fundamentos, a lógica estrutural que dá sentido às escolhas que nos levam aos lugares desejados. Faz ainda mais sentido quando no caminhar o desconforto se faz evidente, se acumula e o cansaço se torna insuportável.
Regressar a casa é um risco. Mas maior é ainda o de continuar sem dar ouvidos a esse desconforto. Porque se ele existe, não pode nem deve ser ignorado. Há que medir os seus contornos, procurar-lhe as causas, detectar o seu alcance. Fazer-lhe face.
É bom regressar a casa. Abrir a porta, deixar cair os pesos no chão, percorrer lentamente os cantos esquecidos, colher os cheiros familiares, encontrar de novo o sentido a essa paisagem interior que nos caracteriza. É bom voltar, abrir as janelas, preparar um café, deitar-se no sofá de sempre, olhar em volta e ir identificando, uma a uma, as razões de ser dessa familiaridade acolhedora de sempre.
É bom acender o primeiro cigarro, deixar que aquelas músicas de sempre encham o ar dos afectos cálidos e doces arrumados em casa e ir saboreando-os sem lhes opôr resistência. Começa-se por revivê-los tal como foram vividos no passado embora nos vamos dando conta, à medida que o tempo vai passando, que uma nova maneira se os sentir se sobrepõe à antiga e que a eles se juntam agora os novos afectos colhidos pelo caminho.
E lentamente, muito lentamente, começa a aventura de saber exactamente onde se situam as novas coordenadas afectivas, a razão de ser da paragem no caminho, a necessidade absoluta que sentimos de ultrapassar o desconforto e recuperar o sentido às escolhas feitas.
É preciso dar tempo ao tempo. A paragem, em casa, tem que demorar o tempo que for preciso. Não é fácil abordar desconfortos. Não é fácil perceber porque surgem. Não é fácil apreender e compreender o alcance que têm. Por vezes nem é fácil desenhar-lhes os contornos. Por isso regressamos a casa. Se pudessem ser resolvidos sem este regresso ao conforto das essências, sê-lo-iam. E só tempo e o silêncio e esta estadia serena em casa permitem identificar as razões pelas quais fomos levados a parar. O tempo, o silêncio e a rotina caseira. Sós, connosco e em silêncio a deixar que o tempo corra e vão surgindo elementos para as coordenadas futuras...onde deixem de existir os desconfortos e se possa de novo empreender as caminhatas que dão sentido à vida.
Faz tanto sentido...
 
 
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