Ninguém pode nem deve ser apreciado nem julgado pelos seus cinco minutos de brilhantismo glorioso. Está portanto errado o marketing que vive da cristalização desses minutos e faz bandeira desse momento único que até pode fazer imenso sentido, ser profundamente inspirador, revelador até de um enorme potencial...mas engana. Porque às vezes parece mas não é. Quer ser, mas não consegue. E quando se apagam as luzes, o som e as câmaras, a realidade desmente aquele instante, a inconsequência desfaz as aparências, a ausência de continuidade faz desmoronar pelas fundações os melhores propósitos. O único marketing válido é o antimarketing, aquele que começa e acaba nos bastidores, que dá conta da continuidade, o investimento que se faz no infinitamente pequeno, afinal, aquilo de que é feito o infinitamente grande. A luz está nas sombras, a glória nos bastidores, a fama nos longos 55 minutos que precedem e seguem esses cinco em que muitos investem porque sabem que outros não têm, outros não conseguem, outros não existem. Para muitos, finalizados esses cinco minutos, não há regresso a casa mas tão somente ao compasso de espera dos próximos. Ao hiato. Parece impossível. Há quem viva a investir nesses cinco minutos...porque o que manda é o mercado. Havendo procura, há oferta. Se são rentáveis, valem a pena. Só que, mudam-se os tempos, mudam--se as vontades. E antevejo que em breve o anti-marketing destronará o marketing e vai ser preciso ter agenda para aguentar 55 minutos de luz direta a incidir sobre a anti-gloria o anti-brilhantismo...Já imaginaram o que seria se as luzes incidissem 55 longos minutos sobre alguns dos herois e heroínas que hoje nos brilham cinco minutos nos écrans da televisão? Pode ser patético. Pode ser angustiante. Pode ser terrível. Entretanto, vamos continuar a assistir ao mercado da oferta e procura dos tais cinco minutos de glória e brilhantismo.
 
 
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