Os Portugueses querem mais segurança. É uma opção válida, como qualquer outra. Tem vantagens e ganhos mas também tem desvantagens e custos.
Essencialmente pretende-se segurança para consolidar o que já se tem, preservar para o futuro aquilo sobre o qual se tem a certeza hoje. Prolongar o status quo. É possível fazer previsões, planear, programar e ter uma certeza razoável de que essas previsões poderão vir a ser executadas. Perfeito. Este é o lado positivo da segurança.
O seu lado negativo advém do compromisso que é necessário fazer com a liberdade. Quanto maior for a necessidade de segurança, menor é a liberdade de escolha, a liberdade de agir em função das circunstâncias.
Porque a segurança total significa que temos que reduzir ao máximo a margem de erro, a margem de imprevisibilidade, assumir o controlo total das circunstâncias que dependem de nós mas também daquelas que nos são exteriores e isso traz consigo, em última análise, a escravidão. Ainda que não exijamos a segurança completa algum grau de liberdade temos que estar dispostos a ceder para conseguir fazer esse tal planeamento da previsibilidade futura. E é aqui que há que ser consciente de que ao fazê-lo, reduzimos a nossa margem de manobra sobre oportunidades que podem surgir, do contexto. Porque optámos pela segurança e esta exige-nos o cumprimento de uma série de obrigações que reduzem a nossa capacidade de iniciativa, de maleabilidade, de agir com sentido da oportunidade e em função das oportunidades.
Ninguém descobriu ainda uma fórmula mágica que concilie a nossa necessidade de segurança com o desejo de sermos livres.
A ter que escolher, prefiro a liberdade à segurança ainda que a liberdade comporte riscos e uma certa dose de caos. Lamento, uma vez mais, que as opções políticas compitam entre si pela oferta de segurança e não pela oferta de liberdade. E essa liberdade consubstanciar-se-ía na oferta de um modelo de desenvolvimento social e económico baseado na partilha de talento, criatividade, inovação e na co-criação partilhada de soluções, num quadro de mutualização de responsabilidades entre todos os agentes e a Cidadania. Um novo modelo: mais liberdade, mais oportunidades, mais produtividade, mais valor acrescentado, mais riqueza...Um risco, como é lógico, para quem quer segurança...Mas também, menos oportunidades. Será mesmo de segurança que precisamos?
E por isso vou a correr escrever. Para que as ideias escorram depressa para o papel e dêem espaço às novas que se apressam a tomar forma. Escrever é forrar as paredes interiores de ideias arrumadas.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
sábado, 26 de setembro de 2015
Mais uma oportunidade de mudança que nos passa ao largo
Tenho pena, devo dizer, que estas eleições legislativas que poderiam ser determinantes para o desenvolvimento do país, fiquem apenas por uma mera disputa pelo poder que só entretém os meios de comunicação social e excita os "opinion makers" que animam os "reality shows" da nossa aldeia. Não é sério, não é edificante, não é útil, não é motivante...é algo que passa completamente ao lado dos verdadeiros desafios com os quais esta classe política e as elites que à volta dela se juntaram deveriam ocupar-se mas não o fazem.
É profundamente lamentável e por isso mesmo, triste que neste momento nenhuma das opções políticas:
(a) possua um modelo de país, de sociedade e de desenvolvimento. Os documentos poderão dizer tudo mas todos sabemos que esse modelo não é visível nem nas palavras nem nos atos, menos ainda nas políticas públicas que servem de traves mestras desse modelo. O divórcio entre a teoria e a prática assemelha-se a uma casa que vai sendo construída ao sabor dos quem vêm e vão, das táticas conjunturais, da falta de articulação e coordenação. Não quero nem imaginar a casa real na qual vivemos e que se chama Portugal...
(b) aborde a questão dos consensos societais que são urgentes para criar e desenvolver esse modelo de país. Se o presente é o que é, qual o nosso futuro coletivo, quando uns e outros puxam cada um para seu lado para favorecer a sua opção política em claro e gritante detrimento do bem comum? Desde a política externa, passando pela saúde, a educação, a cultura, o ensino, a coesão territorial e social, a investigação, a inovação, a fiscalidade, a demografia, as relações de vizinhança...tudo hoje, no espaço público, deve ser objeto de consensos e de partilha de responsabilidades. A imagem que tenho é a de dois grupos a puxarem, cada um, a corda que é o país para o seu lado...ora ganha um, ora ganha outro, o jogo continua até o país se romper, um dia destes.
(c) aborde, de forma coerente e integrada, a gestão e o aproveitamento dos recursos e ativos que temos, enquanto país geográfico, comunidade cultural e potência económica. Sabemos quem somos, o que temos e como tirar partido disso? De forma agregada para que estes ativos possam gerar valor e conseguirmos sair do aterro onde estamos há décadas. Não. Nem sabemos quem somos, nem o que temos nem o que com isso fazer nem como disso podemos tirar partido. Tanta informação que foi produzida estes anos, toda ela dispersa, sem utilidade nenhuma para a coletividade. O mar, a floresta, a cultura, a língua, as indústrias tradicionais, as criativas, a pesca? O que é que temos? Em que é que somos bons? Onde é que temos oportunidades? São questões que devem ser pensadas e desenvolvidas em conjunto, por todos.
(d) aborde as profundas injustiças e desequilíbrios que se geraram ao longo destes anos na nossa sociedade: a penalização e exploração do trabalho, a manutenção, através do fomento da caridade, de situações de pobreza estruturais, o fosso económico que se cavou entre os que têm muito e os que pouco ou nada têm, a ausência de proteção da família, da conciliação entre o trabalho e a vida familiar, os desequilíbrios territoriais, o deterioro do ambiente e dos espaços públicos, e a lista não tem fim. Sabemos como pretendem as forças políticas combater estas injustiças e desequilíbrios?
(e) proponha uma outra cultura e modelo de gestão do bem comum, do interesse geral. Os desafios são todos conhecidos, estamos em profunda mudança e há que adaptar-se à realidade onde vivemos. A divisão entre setores, entre Estado e agentes privados é um modelo obsoleto, pela incapacidade de liderar e estruturar a sociedade do século XXI. A imagem dessa sociedade que nos é transmitida pelos políticos e que está patente nos tais documentos, é uma imagem que não se ajusta à imagem real da sociedade. Hoje, como todos sabemos e experimentamos no nosso dia-á-dia, os desafios requerem coligações transversais de informação, conhecimento, saber e de meios de ação. Transversais, multidisciplinares, inter-dependentes e flexíveis. Ao invés, os discursos e as propostas estão todas compartimentadas e arrumadas em caixinhas refletindo a imagem que têm na cabeça e o modelo de gestão que propõem para o país: aglomerados de coutos de poder ordenados na vertical, como se fosse um parque de contentores empilhados...
Face a esta minha visão - real, penso eu - do país, a palavra de ordem não devia ser nem segurança nem confiança, mas sim MUDANÇA. Esse é que é o único conceito e a verdadeira proposta a serem apresentados e debatidos pelas forças políticas que se apresentam à eleição. Mas há medo, há a crença de que a mudança é um fator de insegurança, um cenário de risco, um caminho de interrogações a evitar. Quando o verdadeiro perigo, a ameaça mais real são o imobilismo. Deveríamos ter medo de passar ao largo desta oportunidade de mudança, sabendo o custo que tem para todos nós e para o nosso futuro, não mudarmos. A luta que presenciamos hoje é uma mera luta de poder para a não mudança. Permaneceremos neste aterro cultural, económico e social em que se transformou o nosso país por mais quatro anos, seja quem for que conseguir juntar as papeletas necessárias para ocupar o poder.
É profundamente lamentável e por isso mesmo, triste que neste momento nenhuma das opções políticas:
(a) possua um modelo de país, de sociedade e de desenvolvimento. Os documentos poderão dizer tudo mas todos sabemos que esse modelo não é visível nem nas palavras nem nos atos, menos ainda nas políticas públicas que servem de traves mestras desse modelo. O divórcio entre a teoria e a prática assemelha-se a uma casa que vai sendo construída ao sabor dos quem vêm e vão, das táticas conjunturais, da falta de articulação e coordenação. Não quero nem imaginar a casa real na qual vivemos e que se chama Portugal...
(b) aborde a questão dos consensos societais que são urgentes para criar e desenvolver esse modelo de país. Se o presente é o que é, qual o nosso futuro coletivo, quando uns e outros puxam cada um para seu lado para favorecer a sua opção política em claro e gritante detrimento do bem comum? Desde a política externa, passando pela saúde, a educação, a cultura, o ensino, a coesão territorial e social, a investigação, a inovação, a fiscalidade, a demografia, as relações de vizinhança...tudo hoje, no espaço público, deve ser objeto de consensos e de partilha de responsabilidades. A imagem que tenho é a de dois grupos a puxarem, cada um, a corda que é o país para o seu lado...ora ganha um, ora ganha outro, o jogo continua até o país se romper, um dia destes.
(c) aborde, de forma coerente e integrada, a gestão e o aproveitamento dos recursos e ativos que temos, enquanto país geográfico, comunidade cultural e potência económica. Sabemos quem somos, o que temos e como tirar partido disso? De forma agregada para que estes ativos possam gerar valor e conseguirmos sair do aterro onde estamos há décadas. Não. Nem sabemos quem somos, nem o que temos nem o que com isso fazer nem como disso podemos tirar partido. Tanta informação que foi produzida estes anos, toda ela dispersa, sem utilidade nenhuma para a coletividade. O mar, a floresta, a cultura, a língua, as indústrias tradicionais, as criativas, a pesca? O que é que temos? Em que é que somos bons? Onde é que temos oportunidades? São questões que devem ser pensadas e desenvolvidas em conjunto, por todos.
(d) aborde as profundas injustiças e desequilíbrios que se geraram ao longo destes anos na nossa sociedade: a penalização e exploração do trabalho, a manutenção, através do fomento da caridade, de situações de pobreza estruturais, o fosso económico que se cavou entre os que têm muito e os que pouco ou nada têm, a ausência de proteção da família, da conciliação entre o trabalho e a vida familiar, os desequilíbrios territoriais, o deterioro do ambiente e dos espaços públicos, e a lista não tem fim. Sabemos como pretendem as forças políticas combater estas injustiças e desequilíbrios?
(e) proponha uma outra cultura e modelo de gestão do bem comum, do interesse geral. Os desafios são todos conhecidos, estamos em profunda mudança e há que adaptar-se à realidade onde vivemos. A divisão entre setores, entre Estado e agentes privados é um modelo obsoleto, pela incapacidade de liderar e estruturar a sociedade do século XXI. A imagem dessa sociedade que nos é transmitida pelos políticos e que está patente nos tais documentos, é uma imagem que não se ajusta à imagem real da sociedade. Hoje, como todos sabemos e experimentamos no nosso dia-á-dia, os desafios requerem coligações transversais de informação, conhecimento, saber e de meios de ação. Transversais, multidisciplinares, inter-dependentes e flexíveis. Ao invés, os discursos e as propostas estão todas compartimentadas e arrumadas em caixinhas refletindo a imagem que têm na cabeça e o modelo de gestão que propõem para o país: aglomerados de coutos de poder ordenados na vertical, como se fosse um parque de contentores empilhados...
Face a esta minha visão - real, penso eu - do país, a palavra de ordem não devia ser nem segurança nem confiança, mas sim MUDANÇA. Esse é que é o único conceito e a verdadeira proposta a serem apresentados e debatidos pelas forças políticas que se apresentam à eleição. Mas há medo, há a crença de que a mudança é um fator de insegurança, um cenário de risco, um caminho de interrogações a evitar. Quando o verdadeiro perigo, a ameaça mais real são o imobilismo. Deveríamos ter medo de passar ao largo desta oportunidade de mudança, sabendo o custo que tem para todos nós e para o nosso futuro, não mudarmos. A luta que presenciamos hoje é uma mera luta de poder para a não mudança. Permaneceremos neste aterro cultural, económico e social em que se transformou o nosso país por mais quatro anos, seja quem for que conseguir juntar as papeletas necessárias para ocupar o poder.
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Sonhar o país
“Every time we think we have measured our capacity to meet a challenge, we look up and we’re reminded that that capacity may well be limitless,” President Bartlet said. “This is a time for American heroes. We will do what is hard. We will achieve what is great. This is a time for American heroes and we reach for the stars.”
É o sonho que norteia a vida, que lhe vai colocando o caminho por onde avançamos, os pés bem assentes na terra, o passo certeiro, o olhar atento, a mente aberta. É sonhando que definimos a estratégia para chegar onde queremos, trabalhando, metódicamente que conseguimos chegar ao objetivo. Mais do que noutra atividade humana, é na ação política que é preciso combinar sábiamente, equilibradamente a visão que nos é dada pelo sonho, o conhecimento que nos ajuda a transformar a realidade, a emoção que nos dá a capacidade para compreender o outro.
Antes de transformar um país é preciso tê-lo sonhado e para transformá-lo é preciso colocar a ambição no impossível, a imaginação e a criatividade no impensável e levar a generosidade, a dedicação e a entrega ao limite.
É o sonho que norteia a vida, que lhe vai colocando o caminho por onde avançamos, os pés bem assentes na terra, o passo certeiro, o olhar atento, a mente aberta. É sonhando que definimos a estratégia para chegar onde queremos, trabalhando, metódicamente que conseguimos chegar ao objetivo. Mais do que noutra atividade humana, é na ação política que é preciso combinar sábiamente, equilibradamente a visão que nos é dada pelo sonho, o conhecimento que nos ajuda a transformar a realidade, a emoção que nos dá a capacidade para compreender o outro.
Antes de transformar um país é preciso tê-lo sonhado e para transformá-lo é preciso colocar a ambição no impossível, a imaginação e a criatividade no impensável e levar a generosidade, a dedicação e a entrega ao limite.
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Uma é minha, outra é tua, outra é de quem a apanhar.
Uma novela escrita a seis mãos. Três pessoas, três olhares, três discursos, três filmes, três registos sonoros, três ensaios sobre uma mesma realidade. Onde está a verdade, onde está a mentira, onde está o certo e o errado, o começo, o final, o que importa e o que não? O que é que é absoluto e o que é relativo, o princípio, meio e fim, no que vemos ou não, no que nos contam, no que pensamos, sentimos, imaginamos? Pode ser divertido, pode ser cómico, pode ser trágico, surreal, inverosímil, angustiante, quem sabe, quem manda, quem diz, quem decide? A vida avança com interrogações, quando as certezas começam a vacilar e entre as brumas começa a despontar um novo caminho, dentro de nós. Corta, apaga, isso não serve, não encaixa, estraga. Mas para mim serve...Mas não faz sentido...para ti, não, mas para mim faz, é uma vírgula. Paramos para deixar que os sons se cruzem, se misturem, se desfaçam e se reorganizem, somos todos ondas num enorme aquário à procura de sermos atraídos pelo íman da criança, hop, fui eu, ganhei! Vá, apaguem a luz, continuamos amanhã, estamos todos cansados, estou farta de andar às voltas, hoje, foi-se-me a inspiração. Escrever é brincar à vida, com palavras. Com as minhas, as tuas, com as de quem as apanhar!.
Que alívio!
Há muito que era uma atividade à qual não lhe via grande sentido, esta de estar permanentemente ligada à rede de boletins informativos que é o facebook. Só hoje se me fez luz sobre a profunda perversidade deste instrumento que se diz e dizem ser de "comunicação". Não se comunica, não é verdade. Apenas tentamos dar visibilidade ao que pensamos, sentimos, desejamos...E para quê? Desde quando é que a relevância ou irrelevância que tem para os outros o que sentimos, pensamos, desejamos era apenas uma questão de visibilidade? Não era. Não é. Nunca foi. É-o para as pessoas que são amigas, que têm interesse em saber quem somos, o que pensamos, o que sentimos. E vice-versa.
Lê, pensa, reflete. Escreve sim, mas pouco, apenas quando voltares a sentir o sabor e a ver a cor e a sentir o cheiro e a suavidade do que és. Retorna a ti próprio, devolve-te à essência, não te gastes nem te uses em palavras que só o são em numero e peso mas ocas e sem que lhes consigas transmitir a tua densidade espiritual. Não insistas em ser em vão, em não dar-te sentido, pára, arrepende-te de continuar por essa encosta. Deus não joga aos dados, efetivamente, e portanto, volta à realidade.
Shut down. Leave it. Corta já antes que te transformes em Narciso de espuma volátil levado pelo vento que sopra lá fora no outono, gelado pelo rigor do frio ou derretido pela brasa impiedosa do verão.
Que alívio!
Lê, pensa, reflete. Escreve sim, mas pouco, apenas quando voltares a sentir o sabor e a ver a cor e a sentir o cheiro e a suavidade do que és. Retorna a ti próprio, devolve-te à essência, não te gastes nem te uses em palavras que só o são em numero e peso mas ocas e sem que lhes consigas transmitir a tua densidade espiritual. Não insistas em ser em vão, em não dar-te sentido, pára, arrepende-te de continuar por essa encosta. Deus não joga aos dados, efetivamente, e portanto, volta à realidade.
Shut down. Leave it. Corta já antes que te transformes em Narciso de espuma volátil levado pelo vento que sopra lá fora no outono, gelado pelo rigor do frio ou derretido pela brasa impiedosa do verão.
Que alívio!
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Baloiçar a alma
Há dias em que a vida faz sentido, 
há dias em que a vida não faz sentido nenhum.
Há dias em que a vida faz sentido
Há dias em que a vida não faz sentido nenhum.
Há dias em que a vida faz...
Há dias em que a vida não faz...
Há dias em que a vida
Há dias em que...
Há dias.
Enquanto os houver, há vida
com sentido, sem sentido,
sem sentido algum,
depende dos dias.
há dias em que a vida não faz sentido nenhum.
Há dias em que a vida faz sentido
Há dias em que a vida não faz sentido nenhum.
Há dias em que a vida faz...
Há dias em que a vida não faz...
Há dias em que a vida
Há dias em que...
Há dias.
Enquanto os houver, há vida
com sentido, sem sentido,
sem sentido algum,
depende dos dias.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Esta criança também fazia parte da minha Europa...
Assinei esta petição também para mostrar aos muitos cidadãos europeus que se opõem, que rejeitam, que se insurgem contra o acolhimento de refugiados vindos dos países em guerra. Porque também os há e muitos que querem guardar a riqueza, o bem-estar e a segurança que têm, atrás de muros, só para os europeus. Partilho o que tenho porque sou cristã, partilho o que tenho porque sou republicana. É esta a minha Europa. Esta pobre criança também podia ter feito parte da minha Europa.
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Quem morre cada dia na praia é a Europa. Somos nós!
A Ordem institucional que criámos e consolidámos a partir do Pós-Guerra e que tanto nos serviu para desenvolver e assegurar a nossa sociedade de bem-estar, a democracia e o Estado de Direito e a proteção dos nossos direitos fundamentais, hoje, afigura-se incapaz de dar uma resposta cabal aos desafios complexos com que nos deparamos. Somos todos responsáveis e estamos todos emaranhados num sistema que nos amarra a uma formalidade que nos impede de ver mais além, de ir mais além. Paradoxalmente quem deveria navegar numa jangada em busca de uma vida melhor, somos nós, os Europeus. Quem precisa de ser salvo, somos nós. Quem precisa de mudar de vida, somos nós. Quem deveria ter a coragem de lançar-se ao Oceano em busca da salvação, somos nós. Porque algo de profundamente errado há em nós, Europeus, quando uma criança de três anos dá à nossa costa sem vida...parece-me que quem morre um pouco cada dia nessas praias é a Europa. Somos nós todos
O grito!
Corrupção, tráfico de influências, chantagens, ameaças, hipocrisia, mentira, intolerância, vingança, medo, controlo, cobardia, vaidade, egocentrismo, incompetência, assédio, demagogia, abusos, indiferença, interesses, máfias, opacidade, culto da personalidade, adulação, incúria, comissões, luvas...somos nós que alimentamos tudo isto, com os nossos impostos, com o nosso voto, com o nosso silêncio, com a nossa indiferença, com a nossa inércia perante a necessidade de mudar. O grito, silencioso, é de profundo desespero.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Refugiados ou investidores gold?
Refugiados. Podemos oferecer-lhes um contrato para uma nova Cidadania. Precisamos mais deles do que dos investidores "gold"!
Portugal é um país que vive aquém do potencial que tem. Sem dúvida. Temos terras abandonadas, recursos por explorar, falta de população. Basta conhecer bem o país do lado direito da A1, essa enorme zona a que erradamente chamamos o interior que já não consegue atrair pessoas para que nela construam a sua vida e nela criem uma economia produtiva que sustente a sua fixação no território. Mas para quem tudo perdeu e nada tem, o nosso país pode ser uma boa opção para recomeçar. Foi este mesmo raciocínio que animou milhares de portugueses a abandonar o nosso país e a procurar na Europa e no Mundo uma oportunidade para recomeçar. Hoje, por esse mundo fora, existem terceiras gerações desses Portugueses emigrantes que estão perfeitamente integrados na sociedade que acolheu os seus ascendentes. É uma realidade. A mesma realidade pode vir a acontecer com os milhares de refugiados que buscam um país de acolhimento, uma nova oportunidade para recomeçar. Nem só de investidores "gold" vive o nosso país. Estas pessoas dão tudo para poderem recomeçar e não esperam nada mais, por ora, do que esse princípio de linha: um lugar, um contexto amigável e um conjunto de bens que lhe permita desenvolver o que sabem fazer em prol das suas famílias e certamente em prol da sociedade de acolhimento. É muito caro? Vai-nos custar a todos um investimento significativo? Sabem qual é o custo do despovoamento do chamado interior, a curto, médio e longo prazo, em Portugal? Sabem qual é o custo para as populações de não terem serviços públicos no lugar onde vivem? Sabem qual é o custo, para todos nós, de cada jovem que deixa de viver na sua terra e se fixa no litoral do país? O custo atual e o custo futuro? Existe um enorme potencial económico à espera de ser concretizado que pode sê-lo se soubéssemos integrar, no nosso país, esses milhares de refugiados que buscam uma pátria. Não é pacífico? Claro que não é pacífico. O que é que terão pensado os franceses, os belgas, os suíços de todos esses portugueses que se amontoavam nas "banlieus" para construírem uma vida melhor? Durante anos foram estigmatizados e viviam em guetos, a fazerem o que os anfitriões já não queriam fazer. Hoje somos nós, ou muitos de nós, que desconfiamos. Merecem essa desconfiança? Porque é que não sabemos por em cima da mesa um contrato para uma nova Cidadania e propô-lo a muitos desses jovens, casais, famílias para que venham para o nosso país ajudar-nos a fazer crescer a nossa economia? Colaborar connosco a melhorar as condições de vida de todos nós? A ajudar o "interior" do nosso país a aproveitar os seus recursos locais? Há uma coisa que eles têm e nós estamos em vias de perder: a esperança, o sonho, a motivação, a energia para recomeçar. Todos temos muito para dar e partilhar. Os contratos de confiança constroem-se. É uma oportunidade enorme. Que podia ser equacionada caso houvesse um mínimo de estratégia concertada...infelizmente, o sistema - o malfadado sistema - como disse ontem, tem-nos atados de pés e mãos e é incapaz de sair dos carris onde está encalhado há anos...que desespero!
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