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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

"Os pontapés à esfera armilar"

Eu não jogo, não vou aos jogos, não vou ao estádio, não alinho em ações de bancada e não alimento este debate. 

Foi "O Expresso da Meia Noite". Mas podia ter sido "O Trio d'Ataque" ou o "Play Off" ou até "O Esférico Rolando sobre a Relva" do inesquecível "José Esteves" do Tal Canal...
António Pires de Lima, Miguel Poiares Maduro, Luis Capoulas Santos e José Gusmão. Comentadores: Ricardo Costa e Nicolau Santos. Foi mais ou menos assim:
APL: "Nós ganhámos, eles perderam e agora são eles que passam à fase seguinte? "
MPM: "Não eram essas as regras do jogo. Quem ganha é que passa e tem direito a jogar o próximo jogo. Prá-lem-disso, eles até renegam das regras da UEFA..."
LCS: "Vocês vão jogar o próximo jogo. Mas nós sabemos que vão perder. Não têm onze jogadores. Pra-quê jogarem?"
JG: "É isso mesmo. Vocês não têm equipa pra ganhar na próxima Jornada. Nem o Campeonato."
Intervém Ricardo Costa:
"Ó Gusmão, pá. A gente sabe que vocês são onze. Mas há alguns que dizem que não querem jogar ao jogo da UEFA. Só jogam pra que ali os outros não possam jogar."
Pisca o olho, malandro e cúmplice, aos tais outros.
Responde, Gusmão, com esperteza saloia: "Tá tudo combinado. Não vai haver grilo. O pessoal, nessas alturas, engole um "Valdispert" e joga na mesma."

Foi, é e será, previsivelmente, assim. É este o nível do debate. É este o nível de uns e outros. Também da Comunicação Social. É este o nível, a profundidade e a preocupação com que se discute a governação do nosso país. Tempo de antena para a frivolidade, a superficialidade, a irresponsabilidade e a aridez intelectual. Toques de bola com a esfera armilar, ontem ganhei eu, hoje ganhaste tu, amanhã ganha ele e perde, sem apelo nem agravo, o país. Se há reformas a fazer, que há e muitas, a mais urgente entre todas as inadiáveis, é sem dúvida a que os próprios partidos políticos têm que fazer, internamente. Não só a nível programático - para que ofereçam novas soluções para os novos desafios globais - mas também na forma servem o interesse geral. E isso passa pela criteriosa seleção das pessoas e pela forma como se organizam para poderem aspirar a gerir o interesse do país. Nenhum daqueles quatro que foram ao programa da televisão mostraram, por um momento só, estar a lutar pelo interesse geral do país.

O espetáculo foi lamentável. O atraso do país, as dificuldades das pessoas, as incertezas quanto ao nosso futuro coletivo ficaram nos bastidores do programa e estão, com toda a probabilidade, nos bastidores desta gente que elegemos para nos representar. Havendo pessoas sérias e sériamente comprometidas com o "interesse geral" do país...é no mínimo uma enorme irresponsabilidade coletiva que se continue a torcer por esta categoria de pessoas e de partidos. 


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