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domingo, 20 de março de 2016

O mistério das boas-vindas das glicínias

Pela janela do meu quarto, aberta sobre o jardim das minhas delícias, atravesso a porta de embarque para uma nova viagem que me leva a passear pelo mistério das minhas glicínias, as que plantei, deve fazer agora 20 anos, mais ou menos, nuns vasos grandes que ladeiam a porta de casa que se abre para o jardim. Comentava eu, ontem, ao meu filho Luis, expressando assim uma estranheza que me anda a incomodar há já umas semanas, que alguma explicação deve ter o facto de, pela primeira vez, desde que as plantei, as glicínias terem explodido numa profusão de cachos que anunciam, para os próximos dias, semanas, uma sinfonia fantástica de formas delicadas e graciosas de cor, como nunca vi, nunca pensei que pudesse acontecer e que me surpreende e me proporcionam esta viagem pelo pensamento em busca de uma explicação.
Já aqui expliquei que tenho uma relação especial com as plantas que habitam o meu Universo. Plantas que lutam umas com as outras para terem o meu afeto em exclusividade, plantas que se vestem de gala quando lhes dou atenção, plantas que me odeiam ou me ignoram mas plantas com quem (as quais) tenho uma relação especial. Terei sido planta, eu também, no começo dos tempos? Alguma das minhas partículas terá sido partícula a correr pela seiva de algum dos antepassados dessas plantas? É provável, sabe-se lá o que aconteceu há milhões de anos para trás e o que sabemos é que nada se perdeu e tudo se transformou e que todos somos feitos do mesmo...comentei, pois, ao meu filho Luis que as glicínias este ano estavam em flor, pela primeira vez, pela simples razão de que eu tinha vindo habitar a casa e que essa era a forma de elas expressarem o seu contentamento. Não lhes ligo nem mais nem menos do que o fazia no primeiro dia e tenho feito ao longo destes anos e é verdade que as plantei porque são as flores que mais adoro, logo a seguir às flores do jacarandá e dos lilases. Revejo-me nas cores, na delicadeza dos cachos, na força dos troncos, na teimosia do nós com que se torcem e resistem e insistem até chegar onde chegam. Algo devemos ter, pois, em comum e é a alegria dessa irmandade e fraternidade partilhadas que hoje leva as glicínias a florirem à porta do meu jardim. É um boas-vindas dito e expresso à sua maneira, que, por serem recebidas com amizade, carinho e respeito, as motivam a florir desta maneira exuberante e surpreendente. E regresso, pois são horas do segundo café!

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