Na rampa de lançamento para mais uma noite de viagens interiores que nem eu sei como se organizam e se desenvolvem, por onde  andam e para onde vão. É toda uma vida de surpresas, fantasias, mistérios, aventuras, que deambula por autoestradas, estradas e caminhos neuronais e que, vistos à distância e em modo zoom out, configuram mapas, cenários, roteiros, geografias do eu que repousa sossegadamente, sem pés nem cabeça, nem eira nem beira nem rei nem roque! E não obstante esse emaranhado existencial absurdo em que me transformo cada noite sem querer e sem que ninguém me pergunte se quero ou desejo ser esse ser sonhado, sou sempre eu, desconstruída e reconstruída com as peças de que sou feita ainda que dispostas de outra maneira e vestida eu com as roupas que habitam a minha memória, tão guardadas nesse quarto secreto que se abre, apenas e só quando as pálpebras se me fecham e deixo para trás a realidade de mim…Nunca sei onde me levam os agentes de viagens que são esse batalhão de neurónios que me fazem e desfazem e voltam a fazer como se fosse feita de núvens esvoaçantes e líquidas…que resistência posso oferecer quando me empurram por um desfiladeiro ou me enviam numa nave para o espaço sideral ou me lançam nos braços de um alguém que me faria corar de vergonha? Eu bem tento nos momentos anteriores a estas excursões noturnas pelo meu mapa mundo,  influenciar a escolha dos caminhos por onde me levam, das histórias onde adoraria ser protagonista, dos amores que me fariam feliz, da pessoa que toma as decisões que jamais tomarei, mas nunca consigo…
Desta feita peguei nas paisagens frias, duras, escorridas e desoladas dos interiores humanos que a surpreendente escritora polaca Olga Tokarczuk traça sem piedade, para ver se me convenço a deixar-me ver o mundo com os seus olhos clínicos, ao menos por uma noite…! Já só vejo uma frincha de luz que se esgueira desfocada e cada vez mais distante de mim…Uma boa noite para todos!

 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário