Tarde de inverno, recolhida
serena, pálida, esmorecida,
crepita baixinho o fogo, amarelado,
pouso as histórias do passado
versos soltos, esfarrapados
que se esvaem, sonolentos
na fumaça ondulante
silenciosa e baça.
Tarde de paz aparente
deitada na moleza 
que pouco a pouco
se vai reduzindo
às brasas rubras,
e incandescentes
que fervilham na alma,
a mais crua realidade
que procura, insatisfeita,
incessante e inquieta,
a voz de um sentimento 
que resiste, teimoso e inacessível
a ser palavra e melodia
de uma rima, um verso
uma canção, a poesia.
Entrada a noite,
o braseiro apagado,
na sala fria, só e desolada,
foi-se o encanto, a luz, o brilho
das memórias passadas, 
reduzidos ao sabor triste e amargo
de um poema, para sempre
inacabado. 
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário