Há dias que acordam tristes, forrados de cinzas deslavadas e frias como o tempo lá fora, que traz para dentro de nós uma angústia sem nome nem pertença de ninguém em especial, mas que entra pelas frinchas empurrada pelo vento fino e frio e paira pelos lugares por onde passamos e estamos e assenta em nós como a poeira. Peganhenta. Incomodativa, inquietante. Há dias assim que nos varrem a existência e nos levam o que pareciam sementeiras vigorosas, robustas, prometedoras, erguidas para os céus, de braços abertos para o futuro, confiantes, risonhas…há dias assim, sujeitos à intempérie, aos ventos malévolos que vêm sentados na ondulação de noroeste a rebentar sem obstáculo nem fronteira dentro de nós e nos empurram com fúria para as praias mais solitárias e desertas da nossa alma. Dias de exilio. Silenciosos. Olhar perdido, pensamento fixado no bater das horas, à procura do que não sabe o que encontrar. Dias assim, onde até o lilás do jacarandá, pela janela, se verga e se despede, mortiço, e se dissolve na poeira molhada. Não brilha, não inspira, não oferece conforto nem razões. Há dias em que viajamos até aos confins longínquos do nosso vasto império, onde o sol se esconde e a vida se atenua e esmorece e decai até à aridez mais plana e silenciosa. Dias com geografias assim, existem. Felizmente. Que o pendulo se inverte quando chega a um dos extremos, todos sabemos. O drama de uma existência é quando não se mexe das profundezas da gravidade. Nada nos salva de essa tenebrosa quietude.
 
 
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