Gosto destes dias de abril, de chuvas irregulares e abertas que já trazem nelas o apetite do verão, com luz até mais tarde e mais cedo pelo acordar da manhãzinha. Gosto do alternar entre a escuridão mais sombria e ameaçadora e o brilho intenso que irradiam as cores que crescem aqui e ali, nas rosas, nas estrelícias, nas glicínias, nos jarros selvagens que habitam o jardim. Gosto do pingar, gota a gota, que cai do beiral do telhado, e do calor que abraça o corpo nos momentos de sol. Gosto de sentir que o inverno já nos deixou e de que o verão está ali, ao virar da esquina, quando menos esperarmos. Gosto das fases intercaladas entre dois extremos, entre uma planície que nos expõe e uma floresta que nos protege, entre as emoções à flor da pele e as emoções aquém de um olhar traidor. Gosto de oscilar entre a paleta de cores esbatidas e aguerridas, o branco silencioso e o laranja exuberante, a água e o fogo, a terra perfumada de humidade e o fruto maduro e doce. Gosto de caminhar e de ver ao longe, no final da estrada de terra ladeada de plátanos e agapantos brancos e lilases, selvagens e espontâneos, a silhueta elegante da casa vestida de jasmim em flor e de parar o tempo nessa sensação de que a vida é uma transição para um momento que está ainda para acontecer e de que nas minhas costas, para trás fica o que um dia, quem sabe quando, voltará a acontecer...gosto deste caminhar que se chama presente, feito do compromisso entre extremos que se tocam. Agora saiu o sol que ofusca, há pouco chovia, sem piedade.
 
 
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