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terça-feira, 25 de junho de 2024

A minha Pátria, diletante e fugidia

 A minha pátria é onde nasce, cresce, se reproduz, e vive e morre a beleza e harmonia das cores, dos sons, dos cheiros, dos horizontes escondidos nos recantos onde escorre a água que brota, sem pensar, irrequieta e traquina, entre os verdes das pedras lisas, redondas e escorregadias, são esses olhares que sonham até se perderem de vista e se confundem com o céu da cor do mar, lágrimas de saudade, soluços de amores, alegrias que se atiram contra as rochas e explodem em gargalhadas de espuma branca e salgada, abraços que escorrem e moldam a nossa sensualidade pela areia húmida até perderem o pé na cova onde borbulham águas revoltadas e correntes impetuosas que nos levam até onde está o ponto final no livro da nossa vida. Esta minha Pátria é a ternura, a devoção, o amor e a paixão que moldam a minha alma, me escrevem quem sou e me definem a razão última de ser, esta maneira estranha de sentir e a forma tão silenciosa e delicada de esgueirar-me por entre as coisas, roçar com a ponta dos dedos os seus aveludados, as suas rugas e durezas e deixar que a gota de água de cristal gelado escorregue, pelo bico da folha servil e disponível e se esgueire pelo corpo meio adormecido meio acordado entre os teus braços.

A minha Pátria não conhece o tempo
é tão diletante e fugidia
como o meu pensamento
ao despertar de cada dia.

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