Para a minha amiga Joana Freudenthal, amante, como eu, desta árvore que enche os espaços com uma beleza tão frágil, tão delicada, tão elegante. As suas formas, cores e cheiro fazem lembrar as salas de casa das avós, repletas de objetos de tartaruga, prata rendada, ouro fino, cortinas de cambraia e almofadas de sedas gastas, porcelanas finas, azuis, rosas, verdes, com flores, dragões, figuras do Oriente de há séculos atrás, salvas enegrecidas e snobs sobre contadores de marfim, cadeirões de veludos profundos e madeiras escuras e robustas. Paisagens que evocam amores dedicados, reuniões familiares ruidosas, tertúlias de dobrar de século, almoços que se prolongavam pelo entardecer e deixavam as salas enevoadas de fumo, lareiras a crepitar de aconchego e lumes bailarinos, criançada de vestidos vaporosos e joelhos feridos de quedas ousadas entre gargalhadas cristalinas e choros convulsivos, livros caídos no regaço com um sorriso enfeitiçado pelo sonho e o jacarandá no jardim, ao vento, à chuva, ao sol e na sombra dos dias, a refletir nos seus cachos airosos e bojudos o lilás dos tempos que nunca passam, nunca se esquecem e nunca se deixam de amar. Romantismo. O sabor mais gostoso da vida.




 
 
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