Páginas

terça-feira, 25 de junho de 2024

Se todas as árvores tivessem um nome

O meu jacarandá, nascido nesta casa, há três anos, agora uma árvore adolescente e algo teimosa, espigada em direção à luz. Hoje já me oferece a sua sombra, a sensação de frescura entre o rendilhado das suas hastes. Amanhã vou levá-la para Sintra e enterrar as suas raízes na terra. É uma árvore, precisa de espaço e volume para se afirmar como tal e não como uma planta de varanda. Vou ter saudades dela, claro. Deu sentido a este espaço que criei, sobranceiro ao Largo e que me acolhe em dias de canícula como os de hoje. Fez-me sentir num jardim, num lugar onde só há carros e isso é de agradecer. Espero que saiba conviver com as rosas, a cameleira, o coqueiro, o azevinho e os ibiscos de Sintra. Acredito que seja capaz. Nunca foi uma planta mimada, antes aprendeu que a sua sombra e beleza só fazem sentido se existem outros para a apreciar e tirar partido. Ontem, nas confidências das vésperas de uma grande viagem, confessou-me que gostava que a chamasse de Amélia. Amélia? Sim, Amélia, um nome doce e antiquado mas que é da mesma cor com que Deus me vestiu quando me criou: o lilás." Seja, amiga árvore. Amanhã serás plantada na tua nova terra e apresentar-te-ei às tuas futuras companheiras com o nome com o qual te identificas. As árvores têm nome, sabem quem são e como querem ser vistas. Se todas as árvores tivessem um nome, será que isso faria alguma diferença?








Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores, fãs, detratores, amigos, interessados