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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Corre o rio 
tão veloz quanto o comboio, 
tem pressa de chegar a casa 
para colher uma flor dourada 
antes do sol se por no mar!

Photo: Corre o rio tão veloz quanto o comboio, tem pressa de chegar a casa para colher uma flor dourada antes do sol se por no mar!

Depois de passar em bicas dos pés entre a lixaria que vai por Lisboa, embarquei no Alfa Pendular (o nome de pendular é horrível) rumo ao Porto onde não há festa. Viajar de comboio é a forma mais simpática e civilizada de viajar. Ora bem. Cómodamente sentada, sem estar a cheirar com a ponta do nariz o estofo da cadeira reclinada do companheiro da frente, o telemovel a carregar mais o computador em cima de uma mesa ampla, folgada, o jornal, o café (muito mediocre, mas eram 7 da manhã e agradece-se) tenho Internet e posso aceder aos ficheiros do trabalho. Pelas vidraças, panorâmicas, sinto que viajo, que estou mesmo a viajar, ou seja, a paisagem vai desfilando à minha volta, tranquilamente e eu vou podendo apreciar os primeiros planos mais fugidios, os segundos, a uma velocidade cómoda que me permite ir identificando algum detalhe, e finalmente, com o devido sossego e parcimónia, o plano lá do fundo da paisagem, serrarias ondulantes ou planícies verdejantes, o mar...que maravilha, refrescante! Esperguiço-me, não incomodo, é quase como estar lá na minha sala, em casa, enquanto no entretanto, pela janela fora corre o filme do nosso país radiante e todo em flor. Recebo um abraço do querido amigo Antonio Rebello De Andrade, porque hoje é dia 13 de junho e se fosse viva, a minha mãe faria 81 anos. Logo à noite, em Sintra, vou por uma daquelas suas rosas na jarrinha ao lado da fotografia. A melhor homenagem que lhe podia fazer. De novo o mar, estamos em Espinho, quase a chegar. Que bom que é viajar. De Alpha...a desfilar a paisagem... pendular!

Dia de Santo António


Eu nunca percebi porque é que as pessoas se embebedam e menos percebo ainda porque é que têm forçosamente de se embebedar coletivamente nas festas, sejam elas populares ou não...vejamos: é mais divertida a festa quando, em virtude do alcool, se perde a noção onde se está, o que se faz, com quem e porquê? Eu já senti algumas vezes, pelo efeito do segundo ou terceiro copo de vinho tinto, esse delicado véu que tolda o olhar e o espírito e nos distancia da realidade mais imediata e posso imaginar que o véu pode deixar de ser um filtro velado para passar a ser um autêntico inibidor da razão e dos sentidos. Há mais e melhor festa com o alcool, é isso? Eu cá para mim, tudo o que passa desse limite da realidade deliciosamente toldada, é uma alienação e equiparo o alcool a uma droga como outra qualquer: Basta hoje andar pelos despojos da orgia coletiva espalhados pelas ruas de Lisboa e perguntar ao primeiro que zigzaguea com duas toneladas de ressaca em cima e um ar perdido no tempo e no espaço,se se lembra do que fez na noite anterior...não interessa a resposta...Graças a Deus que os festejos são na véspera do dia dedicado a S., Antonio. Se ele visse o que hoje vai pelas ruas de Lisboa então é que passava a ser definitivamente de Pádua. Não tenham dúvidas! Ou se têm, passeiem-se pelas ruas de Lisboa antes que passem os varredores. Nunca imaginei, de verdade!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Inveja

A inveja é um sentimento menor, da coleção daqueles que arrancam lá do fundo das fragilidades e que curiosamente acabam por se impor a muitos outros bons sentimentos e até à inteligência. Apesar de tudo e bem vistas as coisas, a inveja também faz parte daquele set de sentimentos que podem ser equiparados a uma má postura física; é passível de correção. Deveria haver aulas de pilates para corrigir a inveja, simples exercícios que explicassem e provassem que se trata de uma fragilidade emocional interna que nasce algures na madrugada da existência e leva o ser humano a edificar o seu valor à custa da desvalorização alheia. Ora, todo o ser humano tem valor próprio, pode crescer com pujança e brilhar com luz própria. Tantos ginásios que se criam para corrigir posturas físicas e tão poucos nascem para erradicar este mal que corrói e mina a vida em comum. Estou a falar a sério. Existem tantos movimentos de entreajuda para suprir as carências materiais das pessoas e tão poucos para pacificar a alma dos invejosos, que os há aos magotes e em excesso nas nossas vidas, à nossa volta, espalhados pelas instituições, em lugares onde poderiam destacar o que há de bom na coletividade. Às vezes era tão fácil encontrar a explicação certa para as anomalias do nosso país. Muito do que nos acontece, muito do que sucede à nossa volta, alguma das causas do nosso insucesso coletivo derivam desta postura errada de quem teve ou tem capacidade para transmitir à sociedade qual deveria ser a postura certa. A inveja acaba assim, por força desta influência, um sentimento coletivo dominante na sociedade, enquinando completamente o sucesso coletivo. Mandela foi um líder de exceção não porque tivesse sido um político sagaz e oportunista mas porque no seu interior prevaleceu um conjunto de sentimentos que forraram as suas convicções políticas de uma generosidade que entrou na História da Humanidade. Se tivesse deixado que a inveja e outros sentimentos semelhantes prevalecessem sobre outros bons sentimentos, hoje ninguém se lembraria dele e sabe-se lá o que poderia ter acontecido na África do Sul...A quem sente vocação social-empreendedora, a minha sugestão é: no nosso país, o combate à inveja é de interesse geral. Basta calcular o que deixámos de ganhar pelo facto desse sentimento -e podemos estar de acordo nisso -ser um sentimento dominante na nossa sociedade. Um ginásio anti-inveja tem um impacto social garantido! E a sua replicação a toda a geografia nacional poderia mudar o rumo do país! Ou não?

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Haja paciência!

Há dias em que há pachorra. Condescendemos simpáticamente com o mundo cão, minimizamos desportivamente alguma velhacaria mais grosseira, somos até capazes de produzir alguns tangos retóricos a quem não merece, distribuímos algumas flores mimosas a cepos aregimentados, uma frasezinha catita aqui, um piropo bem flausino acolá, pulverizamos o mundo com jasmim porque, de facto, é-nos possível dar cor ao regimento de macilentos e anémicos caráteres que "se arrecuam servis" ao nosso lado. Mas há outros dias em que não. Há outros dias em que o convívio com a grande legião dos intrigantes, dos bajuladores, dos ambiciosos sem agenda, dos sensaborões e dos hipócritas, que caminha únicamente pelo que algures é caprichosamente decretado como oficialmente transitável, nas nossas barbas, provoca dispepsia. Há dias em que acordamos com uma paciência reduzida a sujeito e predicado e não tolerante com adjetivos, advérbios, que ferve em dois dedos de água quando face a face com o espírito nacional do " imploro, submissamente a valiosa proteção de V. Exª", que os há, um pouco por todo o lado na organização geografica da nossa crosta social. Nesses dias, pois...não nos vale sequer uma qualquer sagaz e divertida tertúlia entre amigos precisamente porque verificamos que o vinagre agrava o enjoo e não cura contra a cor de cidra, o mau hálito, as pernas cambadas, a espinha torcida, algum tédio da vida e a muita caspa dos ilustres alquimistas que, para sobreviverem não se importam de fazer parte da galeria de personagens sagazmente retratados pelo nosso querido Ramalho Ortigão. E quando é ultrapassado esse obstáculo, que causaria horror a qualquer um, quando pouco importa a forma como a História pessoal e universal nos levará com ela retratados, não há nada a fazer...é esperar que a paciência nos venha com um dos muitos cafés que é preciso tomar ao longo do dia. A Uva, ao meu lado, parece dizer: "Não sejas tola". Mas como ainda não fala, não tenho a certeza de poder socorrer-me do conforto que seria estar a ser simplesmente tolinha...Paciência!

domingo, 1 de junho de 2014

Informação III

Ainda a propósito de informação e saltitando agora para outra pedra no charco desta deambulação, mais além, imagino também que o que vemos, porque é conduzido como "bit" através de um nervo para uma determinada zona do processamento cerebral, está condicionado ao que o terminal de chegada - a central de processamento - oferece e apenas a isso. Mas imaginemos que esse nervo, em vez de desembocar nessa central, é desviado para outra central, por exemplo, a que alberga os bits que formam as emoções, os sentimentos (se é que essa central existe, é claro). Pergunto-me: será que veríamos os sentimentos em vez de vermos a realidade física que tão familiar nos é? Que loucura! E se o desvio fosse parar à central da memória? Jesus...que será que veríamos? O passado? Maior loucura. Embora, bem vistas as coisas é tudo uma questão de condutas, terminais de chegada e mecanismos interpretativos, porque tudo são bits.E não se me diga que não há, na central da memória,mecanismos que possam processar ou interpretar os bits transportados até essa central por um nervo ótico despistado e que não se possa criar uma avenida de dois sentidos da "ótica da memória". Talvez houvesse, num primeiro momento, algum alvoroço mas estou convencida que rápidamente a circulação se restabeleceria porque o cérebro é criativo e prevalece o "instinto" de sobrevivência, logo de adaptabilidade. Estão-nos vedadas estas auto-estradas ou nunca foram criadas porque...não? Haverá alguma coisa que o impeça? Olhando para a vida passada, em que todos fomos uma célula raquitica, enfezadinha e de âmbito informativo básico, tudo me leva a pensar que o futuro é promissor no que diz respeito à aquisição de novas funcionalidades. Poderá levar milhares de anos mas é uma questão técnica de interfaces informativas. Ou seja, é como se hoje quiséssemos que a torradeira funcionasse pelo simples desejo de a por a funcionar. Era preciso que existisse um adaptador interpretativo e um qualquer circuito adequado...

Informação II


A verdade é que o nosso cérebro, imagino eu, apenas faz uso da função computadora para aquilo que é básico. Armazena "bits", infinitos, e põe-nos todos em relação uns com os outros. Se calhar não de uma forma ótima mas da forma mais eficiente que lhe deve ser possível. Mas depois (e continuo a imaginar) deve haver funções mais sofisticadas, em que da armazenagem e interelacionalidade passamos à criação virtual, ou seja, zonas ou momentos onde se criam e se desfazem, à velocidade da luz, universos informativos construídos a partir de processos de previsão espontâneos. Esses Universos informativos virtuais devem existir e imagino que chegam mesmo a formar-se mas devem desvanecer-se logo a seguir por falta de consistência, digo eu. Mas observar esse processo volatilmente criativo, deve ser fantástico. Quando a terceira e quarta dimensões da informação processada no nosso cérebro estiverem ao nosso alcance, nessa altura o mundo, à nossa volta, será para nós, os de hoje, completamente irreconhecível. Tão ou mais estranho do que o mundo do seculo XX poderia eventualmente ser para um cavaleiro medieval viajante no tempo. Tudo isso, imagino eu, deve acontecer hoje, já no nosso cérebro e mais. Só que o ignoramos. Estamos imersos numa realidade informativa que não passa de duas dimensões, dois planos, duas funções básicas. Isto poderá, como é óbvio, não fazer sentido nenhum para ninguém e até ser absurdo. Mas é assim que eu imagino. E não tem nenhuma pretensão, é apenas e tão somente uma deambulação de domingo.

Informação I


Em Barcelona, há que ver esta exposição sobre a explosão dos BIG DATA. Entramos de pleno na Era da Informação. Não que a informação não tivesse existido sempre mas porque hoje, o que conta é a forma como a usamos. Aprendemos a extrair a informação de tudo o que nos rodeia, a relacioná-la e a usá-la em benefício próprio ou da Comunidade. As empresas que lançaram os buscadores de informação (Google) ou as que fazem interagir informação para diferentes usos (social, para já) são apenas a pré-história desta nova ERA que irá dominar o mundo nos próximos milénios. Neste momento ainda só somos capazes de coligir e fazer interagir informação. Qual será a terceira dimensão da informação? E a quarta? Poderemos talvez prever, ou quem sabe se criar, a partir da informação. Virtualmente ou quem sabe se mesmo realmente. É uma questão de modelos, suportes e dispositivos. Imagino que as respostas virão à medida que se vá conhecendo o cérebro, essa máquina fabulosa de que dispomos e da qual apenas conhecemos uma ínfima parte. Engraçado. Todos temos um à nossa disposição e já há muito que nos deveríamos ter dedicado a conhecê-lo em vez de andarmos a explorar o fígado, o coração ou outros sistemas periféricos e colaterais. Tudo o que pode ser visto nesta fantástica exposição de Barcelona não é nada comparado com a nossa cabeça. Adorava conseguir explorá-la em ação, em tempo real. Com só o poder ver, por um breve instante, como se alinham os pensamentos antes de saírem ordenadinhos em palavras, já me bastava... Deve ser uma loucura. Para quem se diverte e se encanta com estes enigmas, como eu, aos domingos

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