Há dias em que há pachorra. Condescendemos simpáticamente com o mundo cão, minimizamos desportivamente alguma velhacaria mais grosseira, somos até capazes de produzir alguns tangos retóricos a quem não merece, distribuímos algumas flores mimosas a cepos aregimentados, uma frasezinha catita aqui, um piropo bem flausino acolá, pulverizamos o mundo com jasmim porque, de facto, é-nos possível dar cor ao regimento de macilentos e anémicos caráteres que "se arrecuam servis" ao nosso lado. Mas há outros dias em que não. Há outros dias em que o convívio com a grande legião dos intrigantes, dos bajuladores, dos ambiciosos sem agenda, dos sensaborões e dos hipócritas, que caminha únicamente pelo que algures é caprichosamente decretado como oficialmente transitável, nas nossas barbas, provoca dispepsia. Há dias em que acordamos com uma paciência reduzida a sujeito e predicado e não tolerante com adjetivos, advérbios, que ferve em dois dedos de água quando face a face com o espírito nacional do " imploro, submissamente a valiosa proteção de V. Exª", que os há, um pouco por todo o lado na organização geografica da nossa crosta social. Nesses dias, pois...não nos vale sequer uma qualquer sagaz e divertida tertúlia entre amigos precisamente porque verificamos que o vinagre agrava o enjoo e não cura contra a cor de cidra, o mau hálito, as pernas cambadas, a espinha torcida, algum tédio da vida e a muita caspa dos ilustres alquimistas que, para sobreviverem não se importam de fazer parte da galeria de personagens sagazmente retratados pelo nosso querido Ramalho Ortigão. E quando é ultrapassado esse obstáculo, que causaria horror a qualquer um, quando pouco importa a forma como a História pessoal e universal nos levará com ela retratados, não há nada a fazer...é esperar que a paciência nos venha com um dos muitos cafés que é preciso tomar ao longo do dia. A Uva, ao meu lado, parece dizer: "Não sejas tola". Mas como ainda não fala, não tenho a certeza de poder socorrer-me do conforto que seria estar a ser simplesmente tolinha...Paciência!
 
 
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