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quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Inveja

A inveja é um sentimento menor, da coleção daqueles que arrancam lá do fundo das fragilidades e que curiosamente acabam por se impor a muitos outros bons sentimentos e até à inteligência. Apesar de tudo e bem vistas as coisas, a inveja também faz parte daquele set de sentimentos que podem ser equiparados a uma má postura física; é passível de correção. Deveria haver aulas de pilates para corrigir a inveja, simples exercícios que explicassem e provassem que se trata de uma fragilidade emocional interna que nasce algures na madrugada da existência e leva o ser humano a edificar o seu valor à custa da desvalorização alheia. Ora, todo o ser humano tem valor próprio, pode crescer com pujança e brilhar com luz própria. Tantos ginásios que se criam para corrigir posturas físicas e tão poucos nascem para erradicar este mal que corrói e mina a vida em comum. Estou a falar a sério. Existem tantos movimentos de entreajuda para suprir as carências materiais das pessoas e tão poucos para pacificar a alma dos invejosos, que os há aos magotes e em excesso nas nossas vidas, à nossa volta, espalhados pelas instituições, em lugares onde poderiam destacar o que há de bom na coletividade. Às vezes era tão fácil encontrar a explicação certa para as anomalias do nosso país. Muito do que nos acontece, muito do que sucede à nossa volta, alguma das causas do nosso insucesso coletivo derivam desta postura errada de quem teve ou tem capacidade para transmitir à sociedade qual deveria ser a postura certa. A inveja acaba assim, por força desta influência, um sentimento coletivo dominante na sociedade, enquinando completamente o sucesso coletivo. Mandela foi um líder de exceção não porque tivesse sido um político sagaz e oportunista mas porque no seu interior prevaleceu um conjunto de sentimentos que forraram as suas convicções políticas de uma generosidade que entrou na História da Humanidade. Se tivesse deixado que a inveja e outros sentimentos semelhantes prevalecessem sobre outros bons sentimentos, hoje ninguém se lembraria dele e sabe-se lá o que poderia ter acontecido na África do Sul...A quem sente vocação social-empreendedora, a minha sugestão é: no nosso país, o combate à inveja é de interesse geral. Basta calcular o que deixámos de ganhar pelo facto desse sentimento -e podemos estar de acordo nisso -ser um sentimento dominante na nossa sociedade. Um ginásio anti-inveja tem um impacto social garantido! E a sua replicação a toda a geografia nacional poderia mudar o rumo do país! Ou não?

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