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segunda-feira, 23 de maio de 2016

A lógica da eternidade

O branco está para as cores
assim como o silêncio está para o ruído
e é por isso que o branco é silencioso
e o ruído colorido.
E se o branco tudo absorve
e no silêncio tudo converge
então no princípio como no fim
tudo é e será,
branco e silencioso,
a cor do infinito
o som da paz
a lógica da eternidade.

domingo, 22 de maio de 2016

A história da linhagem de um Paraíso imparavel!


Era uma vez uma Terra, um Rio e as suas Gentes. No primeiro dia tudo era uma enorme planície gelada, escura, deserta. Ao segundo dia, o sol derreteu o gelo e a fúria da água presa entre as montanhas abriu-lhes uma fenda para poder correr livremente até ao mar. No dia seguinte, a Natureza sossegou e cobriu de urze, rosmaninho, alfazema, zimbro e papoilas as montanhas escarpadas e as encostas doces que serpenteavam alegremente entre os rios. Ao quarto dia, o bater de asas de uma águia real cortou o silêncio e do alto da falésia sobranceira ao rio observou, atenta, como apareciam as primeiras gentes e começaram a surgir as primeiras oliveiras, os sobreiros, as árvores de fruto, variadas, o trigo, o milho, a vinha, o linho, os animais, abelhas, pássaros, ovelhas e cabras, a primeira aldeia e a terra encheu-se de vida. Ao quinto dia, as gentes foram ter com o rio e a terra e ofereceram os seus talentos para trabalhar os seus frutos. O rio e a terra pediram tempo para pensar. Consultaram os seus, sem esquecer ninguém.
Mas a última palavra tinha-a o sol, a quem deviam o início de tudo, do que eram e tinham e foi ao final do dia, junto às suas escarpas imponentes, que o Rio, em nome da Terra e dos Animais assentiu ao pedido das Gentes com a condição de que os tratassem sempre com o mesmo amor com que tratavam os seus filhos. E foi sob a luz doirada dos últimos raios do Sol daquele quinto dia que a terra, o rio e as suas gentes se juraram amor e fidelidade eternos e inscreveram na pedra xistosa um pacto sagrado que deu origem a um Paraíso. Sob o olhar atento e vigilante da Águia Real.
Amanhã, sexto dia, é o dia do "mãos à obra"! O primeiro dia da história de um Paraíso cuja linhagem se perde na noite dos tempos e que vem certificada por esta jura de amor eterno gravada na pedra, entre os três que o criaram: a terra, o rio e as suas gentes. E que, por isto mesmo, é um Paraíso imparavel!








sexta-feira, 13 de maio de 2016

Os fundamentos do Mau-Estar da Humanidade


Mal vai a Humanidade. Nos Estados Unidos está montado um concurso Miss Universo para a corrida ao cargo político mais importante do mundo. No Brasil um derby entre fações de gangsters e na Europa um macro-jogo de Monopólio entre ricos e pobres. Qual é a chave para o denominador comum? Struggle for power. O poder pelo poder. Um sinal de alerta, um prelúdio da decadência, uma manifestação evidente da quebra do contrato social que tem contido o que de mais sórdido existe no Ser Humano. Todos os avanços conseguidos nos últimos dois - três séculos, que não foram lineares, mas que foram avanços na construção de uma Civilização de Valores que protegem e dignificam o Ser Humano, estão agora a ser engolidos pelo lado mais tenebroso existe no mesmo Ser Humano: o seu lado animal: homo hominis lupum, bellum omnium contra omnes. A Civitas, a Res- Publica e o Demos, tudo conceitos que a inteligência humana criou para limitar e gerir em prol do Bem de Todos, esta característica tenebrosa do Ser Humano, estão a ruir, à nossa volta sem que se vislumbre, no horizonte, uma Coligação capaz de lhes reforçar os fundamentos, o sentido e a utilidade. A máxima panglossiana do "Tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis" era uma sátira não um Manual de Instruções para um Estado de Felicidade ao virar da esquina. Os compromissos que temos vindo a fazer com a Civitas, a Res-Publica e o Demos, por desleixo uns, por convicção, outros, por medo muitos, por comodismo outros tantos, por irresponsabilidade, todos, estão a minar o contrato social de sobrevivência e de progresso para um maior Bem-estar e Felicidade coletivas. Podemos, evidentemente, discutir a premissa. Pessoalmente sou antropológicamente pessimista. Mas estou sempre aberta a quem me dê uma outra visão do Ser Humano. Ou então a discutir como se pode recuperar a solidez do contrato social. Ou ainda como detetar na sociedade os contornos e as tonalidades de uma nova esperança. O ser antropológicamente pessimista é o realismo necessário para precisamente estar em condições de detetar onde há bondade e inteligência para construir um novo caminho de esperança. Desde que não me queiram convencer de que existe algo de bom e positivo nos passatempos que se andam a organizar à nossa volta.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Quero ser

Quero ser 
uma gota de esperança 
num mar revoltado
um momento de esplendor
num céu de breu
uma palavra de amor
numa selva sem bonança
um abraço derramado
pelo Universo de Deus.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Serra da Estrela




A nossa Serra da Estrela bordada a luz na escuridão desta noite fria a valer. Há momentos e imagens em que o sentimento de identidade e de pertença a uma só Comunidade de valores e de partilha de um destino comum e fraterno emerge e se afirma com a simplicidade e o esplendor das Certezas. Somos.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Visão platónica


O nosso país é uma linha de produção de Chefes de Repartição e Mangas de alpaca, os segundos acedendo aos lugares dos primeiros quando as botas destes, de tão lambidas por aqueles, apodrecem e chegou a vez deste último de querer que lhe abrilhantem as dele. Quem não tem botas ou não sabe lamber as dos outros...pode sempre sentar-se à beira do rio da sua aldeia e filosofar sobre a sua sorte. A do rio, claro!

domingo, 8 de maio de 2016

O lugar das nossas elites


Se os países fossem um daqueles jogos digitais cujo objetivo é que o bonequinho consiga construir uma casa apesar dos impedimentos que lhe são lançados pelo caminho, as nossas elites mandantes instalar-se-iam sempre aos comandos do jogador que bombardeia o dito cujo com impedimentos. Mentalidades

Na minha República


A República que eu gostava de ter, construir, e estou disposta a financiar para deixar às gerações futuras, assenta (entre outros) na existência de um Ensino Público universal e gratuito que assegure a TODOS, todos, uma determinada educação e um determinado ensino. Esta Escola tem que estar presente em todo o território e o acesso a ela tem que ser garantido em igualdade de circunstâncias. Podemos e devemos discutir que valores, que educação e que ensino. Se deve ser mais descentralizado e dar mais autonomia às Escolas e Comunidades no que diz respeito aos conteúdos. Entre outras muitas questões que derivam deste princípio fundamental, tidas elas sobejamente conhecidas, estudadas e objeto de Relatórios que estão ao nosso alcance.

Todos somos chamados a definir a Escola e o Ensino Públicos. Faz parte do Contrato de Sociedade que subscrevemos como Cidadãos. A Educação sempre foi e cada vez mais é um âmbito estratégico para garantir a coesão e competitividade nacionais, logo, não apenas a nossa sobrevivência, enquanto coletividade, mas também aqueles níveis de bem-estar e progresso que quero para o meu país. Garantir esta "infraestrutura e Rede de conhecimento" está para o século XXI como a Rede de Estradas ou de telecomunicações estava para o século XX. 
Seja qual for o modelo da Escola Pública, ele deve existir e ser acessível a todos os Portugueses, esteja onde estiver, venha de onde vier. Uma função do Estado que não é concessionável ou teremos fracassado enquanto sociedade. Pode e deve haver uma Escola fruto da iniciativa privada que defenda e promova um modelo de educação alternativo? Claro. Mas os recursos públicos, os de todos, não devem financiar diretamente esses modelos. Podem e devem garantir que a iniciativa privada se desenvolva sem obstáculos e valorizá-la enquanto expressão da iniciativa privada. Mas nada mais. Isto, na minha República, claro está. Outros terão outros modelos

sábado, 7 de maio de 2016

O "Eu - marca branca"

O final da Era do "Eu-marca branca" 
O "Eu - marca branca" somos todos. Seres sem rosto, que não interessa quem são, o que são, de onde vêm e para onde vão, apenas na medida em que alimentam a máquina que produz e vende, produz e vende, produz e vende, sem parar, 24 sobre 24 horas. É um ser alienado, sem poder algum, um escravo de uma felicidade prêt-à porter que consome sem freio algum e que algumas vezes vomita, quando é indigesta ou maligna. 
Acontece que esse Ser marca-branca (parecido àquelas algas cinzentas escravizadas pela polva-má do filme da Pequena Sereia) parece que começa a aperceber-se de que é mesmo "marca branca" ao serviço de um sistema e de uma máquina que montou, séculos atrás, como resposta aos males de então. Apercebe-se, finalmente de que a máquina, hoje, se lhe escapou das mãos e de "Eu vitorioso" aquando das revoluções liberais passou a ser o "Eu marca branca", escravo dessa grande invenção que foi o liberalismo. 
Poderei não assistir a essa grande revolução que se avizinha no horizonte e que só não deteta quem não quer, não lhe serve ou pura e simplesmente quem não consegue. A grande revolução virá montada no "Nós" qualquer coisa, um sistema que atravessará a Humanidade de lés a lés e que arrebanhará as pessoas propondo-lhes uma nova fraternidade, uma nova felicidade. Algo que passará pela premissa de que "só sou feliz com o outro, no outro e pelo outro". O que implica o desmontar completamente os alicerces e abrigos individualistas nos quais nos refugiámos sem ser conscientes. Vamos ter que aprender o "a-b-c" dessa nova liturgia que passa por conceitos-chave como a partilha, a comunidade, a co-criação, a colaboração, etc, etc. 
Porque é que isto me veio à cabeça hoje? Já flutua (com mais seriedade do que neste post de um sábado matina) na minha cabeça há alguns anos mas ontem presenciei uma manifestação muito real e sugestiva desse ocaso do Eu-marca branca, quando uma senhora, num evento que tinha como objeto organizar a "partilha de recursos destinada a co-criar riqueza comum" num espirito de comunidade de ação, se levantou e, como uma atriz numa peça de teatro, pos em cena e representou às mil maravilhas o papel desse "Eu-marca branca", egoísta, ego-cêntrico, portador do virus maligno da inveja, da self-comiseração, da amargura, da tristeza, da derrota...Teve um enorme impacto em mim e chocou-me imenso...Mas, para grande surpresa minha, apesar da violência com que irrompeu na reflexão e na partilha, percebi que a maioria das outras pessoas já não se deixou contagiar pela malignidade dessa alma penada, solitária e amarrada a si própria. Há dois anos atrás a mesma teria tido amplo eco e âncoras na audiência. Ontem, já não teve. 
No meu laboratório da realidade mais básica, onde observo, procuro e testo ideias, algo mudou. O que me leva a intuir (tenho pouca paciência para as teses doutorais) que a revolução está ao virar da esquina...Estamos a falar de fenómenos detetados nas profundidades mais profundas da Humanidade. Se algo está a mudar a tantos metros de profundidade, meus amigos, é porque se prepara um tsunami e não um mero tornado de salão. A marca branca tem os dias contados.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Como TODO-O-MUNDO busca certezas e NINGUÉM quer arriscar


A grande maioria dos Portugueses (o Estado, como reflexo do que somos, está obviamente incluído) é acionista de uma EMPRESA DE RATING (que podia chamar-se "DUVIDA, PORTUGAL - em vez de acredita, Portugal) que apenas valoriza um ativo chamado CERTEZAS. Se não há uma CERTEZA, ninguém valoriza, ninguém dá crédito, ninguém aposta, ninguém arrisca, ninguém se mexe. O que eu digo é produto deste meu ano de trabalho no terreno, junto de centenas de pessoas, instituições, empresas, autoridades. Vem-me sempre à cabeça a sátira de Gil Vicente na qual o anjo "TODO O MUNDO" e o seu camarada "NINGUÉM" se vangloriam das suas virtudes, a subtileza do non-sense estando na contradição que nasce devido aos nomes que têm. No Portugal de hoje, TODO-O-MUNDO quer trabalho, riqueza, bem-estar, felicidade, casa, carro, escola, pontes, estradas, subsídios inclusivamente novas oportunidades e novos horizontes dando como certo, certíssimo que para que isso NINGUÉM precisa de dar valor a nada, de apostar em nada, de procurar nada, de sonhar nada, de imaginar nada, de arriscar em NADA. Já estou habituada a que me perguntem (os mais desinibidos) ou deixem pairar no ar (os mais trocistas) "A Dra. tem a certeza disso?"...Eu tenho duas: a de que todos morremos e uma segunda que me é dada pelos anjos: que só saímos deste pântano quando o anjo NINGUÉM buscar CERTEZAS e TODO-O-MUNDO quiser ARRISCAR. Faziam mais pelo país se obrigassem as pessoas a ler Gil Vicente com cabeça do que os milhares de apoios que inventam em todo lado e a todos os níveis para dar certezas às pessoas...Eu cá não sou acionista dessa empresa de rating.

terça-feira, 3 de maio de 2016

O fascinante do "mais além de", do para além de", do "por trás de"..


Não há casualidades na vida. Mentes privilegiadas e brilhantes são as que conseguem identificar as conexões e interações que são relevantes para explicar o que os olhos não vêem, o que a inteligência "quotidiana" não percebe, o que o conhecimento enciclopédico não resenha e o que os inúmeros acessórios, tão inúteis com que nos armamos e defendemos, obstaculizam, de forma irremediável. Esse ver "mais além de" ou "para além de". O mundo é realmente tão diferente quando esses sinais invisíveis se tornam visíveis. Como em tudo, é preciso ousar. E é isso que faz com que nem todos tenham a possibilidade ou a vontade de perceber "what really is going on around us". Algo fascinante!

domingo, 1 de maio de 2016

O azar de nascer folha em branco


Há páginas cuja sina é ficarem para sempre, em branco. Há anos que escrevo e nunca reduzi a escrito, numa folha de papel em branco, relato algum da minha vida e cruzo-me, cada dia, com mil e uma ideias que não se deixam acorrentar nas palavras que as representam e as reivindicam como se o que sinto ou penso pudesse alguma vez pertencer-lhes. Reconheço que alguma vez me senti tentada a fazê-lo, tenho milhares de cadernos novos, lindos, bem apessoados, chiques, uns de pano, outros de couro, outros vestidos de sedas deslumbrantes e com ar de escritor mas nem assim me deixei seduzir, porque à hora da verdade, as minhas ideias não se deixam apanhar, são vadias, diletantes, caprichosas e rebentam como as bolas de sabão assim que sentem que alguém as quer arrumar para sempre, bem dobradas, na gaveta de um papel em branco. Sorrio com condescendência e tento apaziguar a indignação dessas solicitas folhas nuas que esperam o dia de glória de se verem vestidas de palavras doutas e caras, redondas e engalanadas para puderem luzir, ante o mundo, por fim, a sua vaidade.
Sei que essas emproadas folhas em branco, nas minhas costas, me atribuem a responsabilidade de não ter mão no que sinto ou penso e me acham uma inútil incapaz, oiço-lhes o maldizer quando me afasto da minha mesa de trabalho mas nem assim lhes quero mal. A verdade é que as enganei quando as seduzi com a profusão de ideias originais e belas que se iam escrever por si próprias nas suas planícies a perder de vista, sem pausa, com fervor, alma e paixão, em episódios, contos, histórias e quem sabe se não poesia e até hoje...nem uma linha.
Não que não tenha tentado, já, sobretudo à hora do amanhecer, bem cedinho, quando as ideias ainda estão adormecidas e as disponho, certinhas, numa primeira frase de palavras bem pensadas mas nem assim, desta forma sorrateira, as consigo disciplinar. Nasci sem dono, sou vadia e livre e o que penso e sinto não tem forma nem maneira de encontrar palavras com as quais possam selar o compromisso, de se verem escritas, para toda a eternidade, numa simples folha em branco.

Para os meus três filhos


"Ser vossa mãe
é usar uma linha infinita
e sem ter sido ensinada
bordar na vossa vida
o meu amor inventado." 

Meus filhos

Meus filhos, 
gostaria tanto de vos poder dar, 
tudo aquilo que vos faz sonhar
mas tudo o que vos posso oferecer
é que no fundo do meu ser
choro sem dor nem tristeza
a enorme riqueza
de vos amar.

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