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sábado, 7 de maio de 2016

O "Eu - marca branca"

O final da Era do "Eu-marca branca" 
O "Eu - marca branca" somos todos. Seres sem rosto, que não interessa quem são, o que são, de onde vêm e para onde vão, apenas na medida em que alimentam a máquina que produz e vende, produz e vende, produz e vende, sem parar, 24 sobre 24 horas. É um ser alienado, sem poder algum, um escravo de uma felicidade prêt-à porter que consome sem freio algum e que algumas vezes vomita, quando é indigesta ou maligna. 
Acontece que esse Ser marca-branca (parecido àquelas algas cinzentas escravizadas pela polva-má do filme da Pequena Sereia) parece que começa a aperceber-se de que é mesmo "marca branca" ao serviço de um sistema e de uma máquina que montou, séculos atrás, como resposta aos males de então. Apercebe-se, finalmente de que a máquina, hoje, se lhe escapou das mãos e de "Eu vitorioso" aquando das revoluções liberais passou a ser o "Eu marca branca", escravo dessa grande invenção que foi o liberalismo. 
Poderei não assistir a essa grande revolução que se avizinha no horizonte e que só não deteta quem não quer, não lhe serve ou pura e simplesmente quem não consegue. A grande revolução virá montada no "Nós" qualquer coisa, um sistema que atravessará a Humanidade de lés a lés e que arrebanhará as pessoas propondo-lhes uma nova fraternidade, uma nova felicidade. Algo que passará pela premissa de que "só sou feliz com o outro, no outro e pelo outro". O que implica o desmontar completamente os alicerces e abrigos individualistas nos quais nos refugiámos sem ser conscientes. Vamos ter que aprender o "a-b-c" dessa nova liturgia que passa por conceitos-chave como a partilha, a comunidade, a co-criação, a colaboração, etc, etc. 
Porque é que isto me veio à cabeça hoje? Já flutua (com mais seriedade do que neste post de um sábado matina) na minha cabeça há alguns anos mas ontem presenciei uma manifestação muito real e sugestiva desse ocaso do Eu-marca branca, quando uma senhora, num evento que tinha como objeto organizar a "partilha de recursos destinada a co-criar riqueza comum" num espirito de comunidade de ação, se levantou e, como uma atriz numa peça de teatro, pos em cena e representou às mil maravilhas o papel desse "Eu-marca branca", egoísta, ego-cêntrico, portador do virus maligno da inveja, da self-comiseração, da amargura, da tristeza, da derrota...Teve um enorme impacto em mim e chocou-me imenso...Mas, para grande surpresa minha, apesar da violência com que irrompeu na reflexão e na partilha, percebi que a maioria das outras pessoas já não se deixou contagiar pela malignidade dessa alma penada, solitária e amarrada a si própria. Há dois anos atrás a mesma teria tido amplo eco e âncoras na audiência. Ontem, já não teve. 
No meu laboratório da realidade mais básica, onde observo, procuro e testo ideias, algo mudou. O que me leva a intuir (tenho pouca paciência para as teses doutorais) que a revolução está ao virar da esquina...Estamos a falar de fenómenos detetados nas profundidades mais profundas da Humanidade. Se algo está a mudar a tantos metros de profundidade, meus amigos, é porque se prepara um tsunami e não um mero tornado de salão. A marca branca tem os dias contados.

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