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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Onde estão os heróis do mar, o nobre povo, a Nação valente e imortal?

Discutia-se ontem, entre amigos, ao jantar, sobre o estado da Nação. Palavras duras, balanço severo: há a noção muito nítida de que uma geração inteira - a minha - se desentendeu dos destinos do país e, com essa atitude de desleixo e irresponsabilidade, deixou que o país chegasse onde chegou. É certo. Estamos onde estamos, nas mãos de quem estamos, sujeitos à maior humilhação a que um país pode es
tar sujeito, a braços com a maior crise económica e em breve social dos últimos tempos, endividados até à medula, hipotecados até às últimas, sem norte nem rumo, sem esperança e sem fé porque nos desentendemos quando não o deveríamos ter feito, entregando-o nas mãos de quem não estava à altura da missão de Estado que é o governo de um país, fechando os olhos à promiscuidade económica público-privada e aos conflitos de interesses mais chocantes e inadmissíveis, cuidando dos nossos interesses por cima dos interesses da coletividade, abdicando irresponsávelmente do exercício de uma cidadania exigente, rigorosa e intransigente no que diz respeito ao controlo do exercício do poder público...estamos onde estamos porque não quisémos ir mais longe, temos o que merecemos e o que merecemos deixámos de poder ter por negligência grosseira...São especialmente responsáveis as elites deste país, as traves mestras sobre cujos valores, princípios, competência e ambição se ergue um país. Onde estão os "homens bons" deste país? Porque se arrogam, em silêncio, da vitalidade de que o país necessita enquanto o país, nas suas costas, se vai lentamente e literalmente desfazendo e definhando e morrendo aos poucos, humilhado, maltratado, ignorado, abandonado? Porque sustêm, orgulhosamente, a negação da realidade e se agarram - como náufragos ansiosos e angustiado - aos poucos vestígios do que outrora poderá ter sido mas que hoje não passa do que desejariam que fosse, uma ilusão? A minha geração passará, sem pena nem glória, antes com culpa certa e pesada, à geração que vem, o testemunho de um país hipotecado, penalizado, deficitário, pobre e derrotado. E dela se escreverá o epitáfio mais severo que pode ser escrito de alguém: Deixou morrer o país...que de nós nem a letra do hino nacional se pode entoar, nem a Mensagem de Fernando Pessoa ler nem os versos de Camões, d'Os Lusíadas recordar. Enquanto houver brilho no olhar de alguns e convicções para afirmar, tudo é ainda possível. Caso contrário, de ruins, desfaleceremos antes do país. É revoltante...

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