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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um ano na Bulgária I

Estive um ano na Bulgária a trabalhar. Estava numa posição (num dos centros do poder) onde pude estudar a anatomia do poder. Tive ótimos professores. Antigos espiões do regime comunista, agora estratégicamente colocados na nova Nomenklatura pós queda do muro. Foi um ano de uma aprendizagem que nenhuma academia, curso, livro poderia ter-me dado. Para além de única, a experiência foi fascinante. E ú
til, extraordináriamente enriquecedora. Uma formação ímpar (Se fosse como o Relvas, a experiência que tive dava direito a doutouramento). Adiante. O curioso é que a anatomia do poder na Bulgária é a mesma - mutatis mutandis - que a de Portugal. Tenho andado a identificar paralelismos. Fica aqui um: na Bulgária os interesses económicos - os oligarcas com ligações às mafias regionais ou russas - estão representados nos diferentes centros de poder formais, de forma proporcional: todos tèm representação nos partidos, todos têm participação (maior ou menor) nas principais empresas (às vezes por setores), todos estão, portanto no Parlamento, no poder judicial, nas autarquias, na Presidência da República, no Governo. A estrutura de poder formal está organizada verticalmente. Porém, o poder real organiza-se horizontalmente. Com as informações e explicações que os meus amigos espiões me iam dando sobre o "Who is who" búlgaro, fiz um mapa de todo o poder formal. Com quadradinhos a representar os cargos e as pessoas. E atribuí uma determinada cor a cada interesse económico. O resultado foi espetacular: em vez de obediência vertical (Ministro que obdece a Primeiro Ministro, Diretor que obedece a Diretor-Geral, etc) em função da hierarquia ou do partido, as obediências eram horizontais e extravazavam as organizações. Tudo começou quando me apercebi que o Ministro da Economia não fazia caso nenhum ao que lhe dizia o Primeiro Ministro (que era o meu chefe). Percebi, depois, que a lealdade do Ministro era para com um determinado poder económico que o tinha colocado lá por controlar uma determinada fação do partido. E assim sucessivamente até ter o mapa completo. Repito: em Portugal, mutatis mutandis, dá-se o mesmo. O que é preciso é desvendar a anatomia do poder em Portugal. É por isso que me é tão dificil aceder ao poder: pessoas como eu não são bem-vindas. Eu quero que o meu país melhore. Não estar por conta de nenhum interesse económico. Só isso!

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