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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

António Costa: O nosso Churchill?

Como já disse aqui várias vezes, sou fiel ao projeto político encarnado por Francisco Sá Carneiro. Enquanto não sentir que existe um partido político que siga as mesmas linhas políticas e tenha para o país o projeto que Sá Carneiro professava, não "milito" em nenhum partido. Isso permite-me não estar toldada por nenhuma paixão clubista e poder, com as limitações que tenho, ter a minha própria opinião sobre o desafio político que temos, como Comunidade, ante nós.

O previsível Cavaco Silva
Se alguém espera que o Presidente da República vá fazer outra coisa que não a de chamar Passos Coelho a formar Governo, engana-se. O PR primou por interpretar à letra a Constituição e de não se afastar nem um milímetro do que tem sido a letra e a prática constitucional. Que Cavaco Silva fique para a História como o primeiro Presidente que quebrou essa dita prática de confiar ao partido mais votado a missão de formar Governo, é tão absurdo e irrealista que só os românticos de esquerda é que podem acalentar um absurdo de tal calibre.

Que ninguém espere que Cavaco saia dos carris e comece agora a inovar e a fazer malabarismos em cima de uma corda. Não o fará. E, sobretudo, não ficará para a História como o Presidente conservador que dá posse a um Governo de coligação à esquerda. Tal como Jorge Sampaio não quiz ficar para a História como o Presidente que tendo tido a possibilidade de derrubar um Governo conservador, não o fez. A Esquerda neste país jamais lhe perdoaria. A Direita deste país jamais perdoará semelhante traição a Cavaco Silva. E Cavaco Silva quer viver em paz os anos que ainda tem e ser um referente para os seus, a sua família.

Os desafios de Passos Coelho e António Costa
Terá Passos Coelho a habilidade de atrair a abstenção de alguns socialistas e assegurar a sua lealdade? Terá António Costa a coragem e a capacidade de unir a esquerda e de derrubar o Governo?

A natureza e alcance do desafio que se coloca aos dois é substancialmente diferente. Para António Costa o desafio é Político, com maiúscula. Para Passos Coelho é apenas uma questão de estratégia. Passo a explicar.

António Costa
António Costa tem a possibilidade de unir a esquerda e de criar condições para que aceda ao Governo do país.  Nunca tal hipótese passou pela cabeça de ninguém, neste país. Mas hoje podemos estar à porta da única opção política que nunca foi experimentada no pós 25 de abril, por culpa do assalto ao poder que os comunistas tentaram em 1975 e da qual guardamos má memória. Mas atenção: repudiámos essa tentativa matreira e velhaca de assalto ao poder que foi Vasco Gonçalves. Mas...E se os Comunistas estiverem, hoje, dispostos a enterrar a via Vasco Gonçalves e a governar no respeito da Constituição e dos compromissos assumidos pelo país? Quererá António Costa e conseguirá António Costa ser o forjador da reabilitação e reconversão dos comunistas à democracia constitucional? É o único escolho de peso que António Costa tem que ultrapassar. Porque a associação do Bloco de Esquerda, embora possa parecer complexa, não tem este fardo histórico. Os Bloquistas não oferecem menos garantias de estabilidade do que aquela que oferecia Paulo Portas antes de se formar o primeiro Governo PSD/CDS. Recordem-se da "pataleta" que teve e que esteve quase a provocar a queda do Governo. Portanto...a pretensa e potencial falta de previsibilidade dos bloquistas é similar à que oferecia Portas...

Passos Coelho
O desafio de Passos Coelho é de pura estratégia política de bastidores: Tem que empenhar-se (tem apoio da Comunicação Social e dos principais representantes do sistema) em convencer a dita "ala direita" do Partido Socialista a colaborar, se não na governabilidade pelo menos na estabilidade governativa. Traídos e enxovalhados por António Costa, são uma presa fácil que aspira a voltar à liderança do partido e a enterrar António Costa. Como é lógico, se isso acontecer, estamos perante uma fratura na família socialista de repercussões inimagináveis que não só arrasta Costa mas que pode reduzir o Partido Socialista a uma expressão eleitoral insignificante. Se conseguir esta proeza, a Coligação deverá empenhar-se a fundo para que Marcelo Rebelo de Sousa seja o próximo Presidente. Porquê? Para que invoque a existência de uma nefasta "estabilidade instável" (Marcelo é perito em criar novos conceitos) e convoque eleições. E aí sim, a Coligação sairá em força e poderá, facilmente, conseguir a tal maioria absoluta que deixou escapar esta vez.

António Costa, o nosso Churchill?
Não sou vidente e ninguém é. A grande questão é a de saber se António Costa é esse tal Político de visão estratégica e estruturante de um modelo de país alternativo ao que tem vindo a ser construído ao longo destes 40 anos pelos dois partidos - PSD/PS - centrais. Porque existe um país que nunca teve expressão governativa e que vive à margem do centrão político. É um país real, são pessoas como todos e que são órfãs de uma opção de governo. Acredito que António Costa nunca tenha pensado nesta possibilidade. Mas a ocasião existe. A minha intuição diz-me que ele vai avançar. As ocasiões, às vezes, fazem nascer grandes Políticos. Pense-se em Churchill, por quem nunca ninguém apostou até nascer, do nada, a ocasião que fez dele um dos maiores Estadistas Europeus. Como disse, não tenho partido. Mas devo dizer que, como Portuguesa, neste momento da História de Portugal preferia que nascesse um Churchill que, se tivesse visão, convicções e fosse mobilizador do descontentamento reinante e dos apátridas políticos, poderia ser um verdadeiro Estadista.

Será António Costa capaz de ser esse Estadista? O nosso Churchill?



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