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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

It's about democracy!

O mais inteligente, para mim, é não alterar as regras do jogo. Porque essas regras provaram, até hoje, ser as melhores regras entre todas as regras possíveis.
Cavaco tem todo o direito de pensar que a Coligação é a que reúne as melhores condições para governar porque a ele lhe compete interpretar, nesta fase, onde estão os "superiores interesses de Portugal". E, nesta fase da nossa História coletiva, o "superior interesse de Portugal" está em não por em causa a frágil credibilidade que a Coligação conseguiu construir junto de quem verdadeiramente decide sobre os nossos destinos. Desde logo, com os sucessivos Tratados que fomos assinando, o nosso destino há muito que deixou de depender formalmente da Assembleia da República, passando a estar nas mãos, em larga medida, das Instituições da UE. De há cinco anos a esta parte, mais ou menos, as Instituições da UE viram-se surpreendidas pelo facto de esse poder lhes ter sido arrebatado pelos tais "mercados financeiros" que demonstraram a sua capacidade de decidir sobre o nosso destino sem que possamos, de hoje em diante, ter qualquer voto na matéria. 
A Coligação, com a ajuda das Instituições da UE, conseguiu ser vista, ao longo destes quatro anos, como uns agentes que mereceram credibilidade para que os tais mercados não nos massacrassem ao ponto de passarmos todos a viver na mais miserável das misérias. Podiam tê-lo feito. Tivemos a ocasião de ver, quase em direto, a capacidade que tinham de ajoelhar Governos e pessoas. 
São esses tais mercados, junto de quem as Instituições da UE mantém, por ora, uma certa credibilidade - afinal representam, formalmente a Europa - que decidem onde devemos situar os tais "superiores interesses de Portugal" para não morrermos todos à fome. E Cavaco interpretou que a Coligação era quem estava em melhor situação para garantir essa tal benevolência. Muito bem. Como disse, tinha todo o direito porque a Constituição o autoriza. 
Mas a segunda parte do discurso, chamemos-lhe assim, foi uma consumada asneira e uma jogada ditada pelo facciosismo que nos põe todos em risco, coletivamente. Porque sendo verdade que estamos todos nas mãos desse conjunto de mãos invisíveis que nos comandam à distância, não é menos verdade que enquanto não nos mandarem os tanques para fechar a Assembleia da República, é possível que a Coligação tenha os dias contados e que seja impossível, a Cavaco, recusar a nomeação de António Costa para chefiar um Governo que ele sim, poderá ter um apoio parlamentário que garanta a tal governabilidade. E então? Que irá acontecer? Irá dizer de novo que os "superiores interesses de Portugal" estão em manter a Coligação em gestão corrente porque a tal "mão invisivel" assim o fez saber (ou que decorreu da sua interpretação do que a tal mão invisivel quer)? É isso? Ou ajudará a dar credibilidade à outra opção, pondo a sua credibilidade ao serviço da democracia portuguesa e assinará a "carta de crédito" que poderia ajudar a António Costa a assegurar junto da tal "mâo invisivel" que irá cumprir à risca o plano de pagamento da nossa dívida? O que é que acham que Cavaco deveria fazer? O que é que é mais "inteligente coletivamente"? Tentar reforçar ao máximo a credibilidade de uma opção que tem a maioria dos votos no Parlamento ou marimbar para isso e privilegiar os seus, porque já têm essa credibilidade e o apoio das Instituições da UE, Merkel incluída? Eu apenas pergunto, colocando a questão onde deve ser colocada, sem esconder ou dissimular o que está verdadeiramente em jogo. 
Porque...não nos enganemos. O que estamos a assistir é a um braço de ferro entre a sobrevivência do sistema democrático e dos seus fundamentos e a emergência de uma Nova Ordem que nos é ditada por um conjunto de poderes diluídos que assentam na força e indispensablidade do capital. Não faço juizos de valores ou pelo menos não me apetece fazê-los. Apenas coloco a questão onde deve ser colocada, penso eu. Não há nada pior do que entrar em campo com um ar de tolos e parolos. 
E outra coisa, antes de terminar. Passos Coelho também não tinha nenhuma credibilidade quando começou a governar. Era Sócrates quem a merecia e lembro-me bem que dias antes do PEC IV ser chumbado tanto Durão Barroso como Merkel sairam em favor de Sócrates. Lembro-me até que Passos Coelho passou pela humilhação de ser-lhe dito, pela Chanceler, que na véspera do seu encontro em Berlim tinha almoçado com o amigo Sócrates. É certo que Passos não se apresentou com uma coligação apoiada pelo Partido Comunista. Mas há alguém que ainda duvida que Merkel ou as mãos invisíveis têm algum prurido em apoiar Partidos Comunistas ou Bloquistas ou o que for? Não sejamos tolos nem parolos. A Coligação tem o crédito que tem enquanto não houver outros que ofereçam a mesma credibilidade. E agora sim, vou dar a minha opinião: prefiro não alterar as regras do jogo e ater-me àquilo que é a democracia, sistema em que acredito e que defendo. Porque hoje poderá estar em causa uma maioria de esquerda face a uma minoria de direita. Mas amanhã pode ser o contrário. E nessa altura...nessa altura, de nada serve torcer a orelha. O mal estará feito. O mais inteligente, para mim, é não alterar as regras do jogo. Porque essas regras provaram, até hoje, ser as melhores regras entre todas as regras possíveis. E para terminar: nada me dará mais gozo do que ver os comunistas e os bloquistas a queimarem os dedos e mais, no jogo da democracia.

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