Páginas

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ai, Sintra, Sintra...



Os anjos também têm "after hours" e há quem os sinta a vagabundearem pelo Universo, a estas horas solitárias com cara de quem teve uma noite gloriosa. Parei o carro e tirei à pressa o telemovel do bolso para tentar apanhar um que se me cruzou no caminho, aqui na Curva do Duche e captei-o nestes dois momentos. Se olharem bem, dá para ver esta criatura esculpida de luz e brisa, suaves e sossegadas, a avançar com um sussurro de asas de fundo, deixando atrás de si uma melodia transparente e cristalina que vai ficando escrita nestas paisagens de palácios e jardins de Sintra e que depois é vendida aos turistas, horas mais tarde, quando se passeiam por aqui, sob as narrativas mais diversas mas todas elas sem classe e a preços de saldo, infelizmente. Se o pessoal responsavel pelo chamado Centro histórico se passeasse por aqui a estas horas e visse os anjos a regressarem ao Céu depois de uma noite de trabalho na fabrica do elixir que cura as doenças da Alma...talvez percebessem, finalmente, o atraso de vida que é continuar a vender as lendas e a poesia das mantas, chinelos, loiça, pins, hamburguers, postais e t shirts do galinho de Barcelos, ainda que expliquem que esta narrativa remonta ao tempo dos mouros e paga royalties aos reis cavaleiros...negócios de valor não são para pálpebras brutamontes, pesadas demais para estarem abertas às horas a que os anjos regressam ao paraíso.
Ai Sintra, Sintra,
que tristeza levares no coração,
este templo sagrado
cujo tesouro mais bem guardado
é tão generosamente em vão..

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores, fãs, detratores, amigos, interessados