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sábado, 2 de abril de 2016

Matisse, a luz, a cor e as clívias da minha sala

No outro dia, à hora em que o sol vira a sul e me entra pela janela da sala, a minha jarra de clivias transformou-se, subitamente, numa natureza morta de uma qualquer pintura de Matisse e iluminou-me a sala com a alegria exuberante das cores que forram os seus quadros. Tudo aconteceu numa fração de segundo, apenas tive tempo de me imobilizar e reter a respiração para não perturbar esse estranho fenómeno com que me deparei. As clívias, de repente, pareciam ter adquirido uma consciência, algo que as fez transcenderem-se a si próprias e aspiraram, absorveram e processaram toda a luz do Universo e a de tudo o que as rodeava, mergulhámos na escuridão e, como por milagre, como se tivessem sido tocadas por uma varinha mágica, todas as suas mais minúsculas células explodiram em uníssono numa dessas labaredas de cor que o mestre pintor imortalizou nos seus quadros. No preciso instante em que isso aconteceu eu vi a alma de Matisse a capturar a cor e a transmiti-la à tela graças a essa estranha e surpreendente transformação - que presenciei mais calada que um rato - das clívias em reator nuclear que absorveu a luz e lhes permitiu tingirem-se na cor mais esplendorosa e vibrante que a minha alma sentiu e quiz ver. Foi um momento único e maravilhoso este que vivi, no outro dia, ao entrar involuntariamente na sala à hora do trânsito solar de este a sul defronte da minha janela. Passam-se coisas extraordinárias nas nossas costas, não passam?

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