 25 de abril de 1974. 7h30 da manhã. Sózinha com a minha mãe em Lisboa. Meu pai e irmãos em Luanda. É hora de ir para a Escola, o autocarro passa dentro de 5 minutos na Rodrigo da Fonseca. Vou-me despedir da minha mãe ao quarto, que dava para a rua. "Está tudo tão silencioso", disse e era verdade, não se ouvia o bulício de uma manhã como todas as outras. Eis senão quando toca o telefone, a minha mãe levanta-se, atende, era a minha avó Mimi a dizer que "parece que há qualquer coisa, a Nica telefonou a dizer que o Rui está fugido...não deixe a Carminho ir à Escola, Micéu." Ficámos assustadas e foi quando a minha mãe subiu as persianas para ver "o que se passava". Assim que abriu à janela foi mandada para dentro por dois soldados que guardavam o prédio da frente. A rua estava deserta e fechámos a janela, óbviamente, e interrogámo-nos em silêncio. Militares? Com espingardas? E começaram a chover telefonemas dos amigos: para enchermos a banheira de água, para saberem se tinhamos comida, velas...a emoção era grande. "Não tenho cigarros", disse a minha mãe, "tenho que sair a comprar" E assim fez. Arranjou-se, pos uma gabardine e saiu. Naquele seu jeito assertivo, convenceu os militares a deixarem-na ir comprar cigarros e foi escoltada por um deles até à Rua Castilho, à "Morte Lenta", a única mercearia aberta no bairro, que estava tomado pelos militares. Ao longo do dia, agarradas à telefonia e ao telefone, lá fomos sabendo aquilo a que todos os Portugueses se viram confrontados naquela manhã fria de 25 de abril: que um Golpe Militar tinha posto um ponto final a um Regime que, para mim, vinha da noite dos tempos e que, poucas semanas antes, parecia de pedra e cal, para durar para sempre. Tinha 13 anos. Era véspera dos meus anos. 25 de abril de 1974. No dia a seguir fiz 14. Quem é que pode esquecer o dia em que, à meia noite de uma Revolução em andamento, fez 14 anos?
25 de abril de 1974. 7h30 da manhã. Sózinha com a minha mãe em Lisboa. Meu pai e irmãos em Luanda. É hora de ir para a Escola, o autocarro passa dentro de 5 minutos na Rodrigo da Fonseca. Vou-me despedir da minha mãe ao quarto, que dava para a rua. "Está tudo tão silencioso", disse e era verdade, não se ouvia o bulício de uma manhã como todas as outras. Eis senão quando toca o telefone, a minha mãe levanta-se, atende, era a minha avó Mimi a dizer que "parece que há qualquer coisa, a Nica telefonou a dizer que o Rui está fugido...não deixe a Carminho ir à Escola, Micéu." Ficámos assustadas e foi quando a minha mãe subiu as persianas para ver "o que se passava". Assim que abriu à janela foi mandada para dentro por dois soldados que guardavam o prédio da frente. A rua estava deserta e fechámos a janela, óbviamente, e interrogámo-nos em silêncio. Militares? Com espingardas? E começaram a chover telefonemas dos amigos: para enchermos a banheira de água, para saberem se tinhamos comida, velas...a emoção era grande. "Não tenho cigarros", disse a minha mãe, "tenho que sair a comprar" E assim fez. Arranjou-se, pos uma gabardine e saiu. Naquele seu jeito assertivo, convenceu os militares a deixarem-na ir comprar cigarros e foi escoltada por um deles até à Rua Castilho, à "Morte Lenta", a única mercearia aberta no bairro, que estava tomado pelos militares. Ao longo do dia, agarradas à telefonia e ao telefone, lá fomos sabendo aquilo a que todos os Portugueses se viram confrontados naquela manhã fria de 25 de abril: que um Golpe Militar tinha posto um ponto final a um Regime que, para mim, vinha da noite dos tempos e que, poucas semanas antes, parecia de pedra e cal, para durar para sempre. Tinha 13 anos. Era véspera dos meus anos. 25 de abril de 1974. No dia a seguir fiz 14. Quem é que pode esquecer o dia em que, à meia noite de uma Revolução em andamento, fez 14 anos?E por isso vou a correr escrever. Para que as ideias escorram depressa para o papel e dêem espaço às novas que se apressam a tomar forma. Escrever é forrar as paredes interiores de ideias arrumadas.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Fazer anos no dia de uma Revolução em andamento
 25 de abril de 1974. 7h30 da manhã. Sózinha com a minha mãe em Lisboa. Meu pai e irmãos em Luanda. É hora de ir para a Escola, o autocarro passa dentro de 5 minutos na Rodrigo da Fonseca. Vou-me despedir da minha mãe ao quarto, que dava para a rua. "Está tudo tão silencioso", disse e era verdade, não se ouvia o bulício de uma manhã como todas as outras. Eis senão quando toca o telefone, a minha mãe levanta-se, atende, era a minha avó Mimi a dizer que "parece que há qualquer coisa, a Nica telefonou a dizer que o Rui está fugido...não deixe a Carminho ir à Escola, Micéu." Ficámos assustadas e foi quando a minha mãe subiu as persianas para ver "o que se passava". Assim que abriu à janela foi mandada para dentro por dois soldados que guardavam o prédio da frente. A rua estava deserta e fechámos a janela, óbviamente, e interrogámo-nos em silêncio. Militares? Com espingardas? E começaram a chover telefonemas dos amigos: para enchermos a banheira de água, para saberem se tinhamos comida, velas...a emoção era grande. "Não tenho cigarros", disse a minha mãe, "tenho que sair a comprar" E assim fez. Arranjou-se, pos uma gabardine e saiu. Naquele seu jeito assertivo, convenceu os militares a deixarem-na ir comprar cigarros e foi escoltada por um deles até à Rua Castilho, à "Morte Lenta", a única mercearia aberta no bairro, que estava tomado pelos militares. Ao longo do dia, agarradas à telefonia e ao telefone, lá fomos sabendo aquilo a que todos os Portugueses se viram confrontados naquela manhã fria de 25 de abril: que um Golpe Militar tinha posto um ponto final a um Regime que, para mim, vinha da noite dos tempos e que, poucas semanas antes, parecia de pedra e cal, para durar para sempre. Tinha 13 anos. Era véspera dos meus anos. 25 de abril de 1974. No dia a seguir fiz 14. Quem é que pode esquecer o dia em que, à meia noite de uma Revolução em andamento, fez 14 anos?
25 de abril de 1974. 7h30 da manhã. Sózinha com a minha mãe em Lisboa. Meu pai e irmãos em Luanda. É hora de ir para a Escola, o autocarro passa dentro de 5 minutos na Rodrigo da Fonseca. Vou-me despedir da minha mãe ao quarto, que dava para a rua. "Está tudo tão silencioso", disse e era verdade, não se ouvia o bulício de uma manhã como todas as outras. Eis senão quando toca o telefone, a minha mãe levanta-se, atende, era a minha avó Mimi a dizer que "parece que há qualquer coisa, a Nica telefonou a dizer que o Rui está fugido...não deixe a Carminho ir à Escola, Micéu." Ficámos assustadas e foi quando a minha mãe subiu as persianas para ver "o que se passava". Assim que abriu à janela foi mandada para dentro por dois soldados que guardavam o prédio da frente. A rua estava deserta e fechámos a janela, óbviamente, e interrogámo-nos em silêncio. Militares? Com espingardas? E começaram a chover telefonemas dos amigos: para enchermos a banheira de água, para saberem se tinhamos comida, velas...a emoção era grande. "Não tenho cigarros", disse a minha mãe, "tenho que sair a comprar" E assim fez. Arranjou-se, pos uma gabardine e saiu. Naquele seu jeito assertivo, convenceu os militares a deixarem-na ir comprar cigarros e foi escoltada por um deles até à Rua Castilho, à "Morte Lenta", a única mercearia aberta no bairro, que estava tomado pelos militares. Ao longo do dia, agarradas à telefonia e ao telefone, lá fomos sabendo aquilo a que todos os Portugueses se viram confrontados naquela manhã fria de 25 de abril: que um Golpe Militar tinha posto um ponto final a um Regime que, para mim, vinha da noite dos tempos e que, poucas semanas antes, parecia de pedra e cal, para durar para sempre. Tinha 13 anos. Era véspera dos meus anos. 25 de abril de 1974. No dia a seguir fiz 14. Quem é que pode esquecer o dia em que, à meia noite de uma Revolução em andamento, fez 14 anos?
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