Aqueles jacarandás
que me cruzam
cada dia,
ao virar das esquinas,
são nuvens delicadas
de memórias passadas
vestidas de lilás.
Frascos de cristal e prata
doirados de perfumes
secos, gastos e refinados
sobre mármore rosa polido
pentes de osso e marfim
em escovas de javali
sob o olhar doce e perdido
da Virgem de talha dourada
relíquia venerada,
de joias adornada.
Sopra a brisa
pela cambraia fina
de renda trabalhada
e agita o lilás,
cai a pétala delicada
sobre as folhas amareladas
de um livro de orações,
colares, pedras, brasões,
flores pálidas espalhadas
pelas imagens espelhadas
na memória
vestida de lilás
em cada esquina
de cada dia
naqueles jacarandás.

 
 
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