Páginas

domingo, 29 de julho de 2012

Andar na vida

Há dias em que a vida acorda entroviscada. Passeia-se, sombria, pela casa e sente a melancolia na pele, no café que arrefece, de olhos distraídos e pensamentos distantes, embaciados, o vazio que escorre, gota a gota, em monosílabos, sem saber ao certo porquê, é apenas isso, um sabor sem côr, devagarinho, instala-se, cansado, entre as ideias desiludidas, em pedaços, desarrumados de ainda ontem, quando eram feéricos, demais, hoje só sei que o dia avança de luz apagada ao encontro da vida que continua, é preciso, vou, já vou, atrás da voz, sem pensar, vou e acabo por ir, pela estrada fora, carregada de tudo acumulado e de nós formados pela voz adiada, empurrada pela névoa da manhã, apertam, olho para o lado, que sem sentido, deixo-me ir no sem saber porquê, chegam mais nós, a saudade, não bastava já o que a noite deixara à porta, e tudo parece que chega por fim, numa enxurrada, uma doçura que nos toca, um raio de sol ao dobrar da esquina, e cedo, empurrada por mim própria para fora de mim, varro-me, que atropelo, não ligues, não vale a pena, é assim mesmo, acontece, chora-se e que alívio, o porquê não sei.
Mas sei que as manhãs não estão condenadas a entardecer nessa escuridão com que amanhecem na alma e que o dia, uma vez desanuviado, vai desabrochando aos poucos em tudo o que nos rodeia de côr, aqui e ali, uma palavra, acolá um gesto, mais além um sorriso, devagarinho, abre a janela, deixa entrar o sol, apanho o cheiro a eucalipto, esquece, esqueço, arrumo, dou rumo, enfio-me nas palavras e dou uma gargalhada no lugar certo, acerto, faz sentido não dar peso ao passado, passado está, não é assim, desanuviar, respirar fundo, acertar o passo, olhar em frente, eu sei, ter fé, saber esperar, a rosa no momento certo, naquela jarra, era hoje e não ontem e assim já dou um amanhã à vida, que o amanhecer veste-se de luz e esperança para mais tarde, só lá mais para a tardinha, esmorecer nessa suavidade que abranda, adoça, silencia e pesa nas pálpebras, lentamente, deixa-se ir, em paz, como tem que ser, serenamente, o sono, a distância, escurece, deixa de haver luz, faz sentido, só assim o dia faz sentido.

Os três rebentos de jacarandá

O meu sonho, a minha esperança, a minha motivação, a minha fé, o meu compromisso, a minha lealdade, a minha determinação, o meu esforço e também a minha preocupação, dúvidas, insegurança, hesitação e medo sob a forma de três rebentos de jacarandá de Lisboa, aparentemente frágeis pela sua delicadeza e perfeição mas que irão com toda a certeza vingar. Por aquelas mil e uma razões que todos carregamos no nosso íntimo mas que geralmente nem as paredes confessamos. Ai, que vergonha...:)))

terça-feira, 24 de julho de 2012

Brilhos


Algures num compartimento da minha cabeça habita a magia dos contos da minha infância. (Abro um parêntese para certificar que o "belicismo" dos alemães possui na outra face essa maravilhosa capacidade de criar mundos que cintilam de magia senão não teria eu guardado estas gravações). Por vezes as neuronas acordam-me a cavalgar nessas minhas imagens infantis em que abundam as florestas densas e misteriosas, as crianças loiras de tranças e calções enfiadas num gorro e num cachecol, os gnomos sábios e trabalhadores, os rebuçados, o chocolate e as nozes, os animais curiosos e de caudas peludas, as casinhas de madeira iluminadas na noite escura, onde através das vidraças quadriculadas, brilha sempre um abeto nórdico de Natal e se ouvem cânticos afinados, a neve branca e fofa que cobre tudo e todos, trenós, renas e sacos de serapilheira cheios de presentes trazidos por um S. Nicolau grave e bondoso, um mundo pintado, cantado e encantado de fantasia bri...lhante e envolvente que faz sorrir. Decerto que este capricho neuronal matinal não serve para nada em concreto. Porque a infância já vai longe e com o primeiro café vem também servida - uma "querideza" - a implacável e incontornável agenda da realidade. Mas fica um halo de magia no ar, uma fosforescência que envolve, impregna e se desprende do meu estado de espírito e que, sem querer, abrilhanta e ilumina a realidade. Tiro para mim, duas conclusões: mais uma prova de que o presente, como tal, não existe. O que existe é uma "corrente de consciência" que une o passado (memória) ao futuro e o antecipa e molda. A outra conclusão é de que a realidade objetiva não existe. As coisas não "brilham" por si próprias. O brilho está em nós. No mundo da fantasia os seres possuem varinhas mágicas. É por isso que não me importo que as minhas neuronas vasculhem no quarto onde guardo os contos que me explicaram na Escola alemã e brinquem com essas varinhas.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ser despedido

Viver o próprio despedimento é passar por um dos momentos mais duros na vida. É um processo que se abate sobre nós como uma cascada de ondas violentas em que a massa ininterrupta de água, quando não nos derruba no primeiro instante, nos vai enfraquecendo e desiquilibrando e atordoando até não sermos capazes de lhe oferecer mais resistência, concentrando-se então a luta na procura de um novo ponto de apoio e sobrevivência. A ondulação não é eterna - há quem diga que as vagas se deslocam a sete - e quem já se sentiu enrolado na rebentação sabe que, em melhores ou piores condições, se emerge sempre à superfície. O levantar não é fácil. A perda brusca da sustentabilidade vital assusta, dá medo, corroi a confiança que temos em nós próprios e deixa sequelas e às vezes feridas. Mas também deixa lições: a primeira é de que o Ser Humano está programado para sobreviver e leva nele gravados os mecanismos e ferramentas para ultrapassar as piores circunstâncias e vivèncias. A segunda é a de que olhamos para a vida e a forma de estar nela de uma maneira diferente. A experiência apetrecha-nos. E por último que, por muito violentas que sejam as ondas, elas são apenas sete seguidas. Depois da queda vem a ascensão. E uma nova bonança. É preferível não passar por esta experiência, claro. Mas quem diz que ela não serviu para testar qualidades ocultas e colocar-nos numa nova perspectiva que, de outra forma, jamais se nos apresentaria aos nossos olhos? Apesar de tudo, quem é apanhado pelas ondas e vem a rebolar, atordoado, até à praia, agradece profundamente que alguém, neste percurso vertiginoso, lhe dê uma mão e ajude a recuperar o equilíbrio perdido. E mostre solidariedade e compreensão!

Assassina de plantas

Sempre tive uma relação especial com as plantas. Embora seja trapalhona e muito pouco germânica no cuidado que exigem. Mas a coisa é tão curiosa e surpreendente que até parece que existe uma relação qualquer que acontece numa dimensão que me escapa. Quando estava em Bruxelas comecei por ter em casa duas grandes plantas: uma palmeira e um ficus (sempre lhe chamei assim, mas o nome deve ser outro). A verdade é que tinha a certeza de que ambas se dividiam a minha atenção e tinham chegado a um pacto de não agressão entre elas. Isto virou dogma quando comecei a comprar outras plantas. Morreram todas. Em Barcelona estas duas plantas morreram porque a senhora da casa era uma outra palmeira. Todas as que vieram a seguir também morreram. Agora que eu não estou em Barcelona a palmeira está a definhar, coitada...Em Lisboa enchi a casa e a varanda de plantas. Como levo aqui pouco tempo ainda não percebi bem as relações de poder que se vão estabelecendo entre elas. Mas ando atenta...muito atenta! E procuro esconder o carinho que tenho por alguma delas...custa muito viver com a etiqueta de "assassina de plantas"...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Mico por terras de Angola

A estas horas o Mico já deve andar por Luanda. Primeiro trabalho, primeira vez em África, primeiro contacto com Angola, primeira vez em Luanda. A primeira vez de "algo" na nossa vida é sempre um momento único e irrepetível. Muito embora a experiência possa modificá-la ou acrescentá-la, esse momento deixa uma impressão digital na alma que será sempre a primeira, a mais original, a mais pura, a mais genuína. Pedi ao Mico (sugestão de mãe) que tivesse os sentidos bem abertos na vivência destes primeiros momentos, como se faz com uma máquina fotográfica: máxima exposição à luz. Para captar o mais que pode através dos 5 sentidos e com isso conseguir ter uma "perspectiva" de 360º desta primeira experiência africana. África tem que ser vivida com os sentidos não só porque é assim que ela quer ser vista (senão não seria tão exuberante) mas também porque a razão, sobretudo a que é formatada pela experiência europeia, nos enche de preconceitos e juízos de valor que fazem com que não consigamos compreender a sua verdadeira essência. Fico cheia de vontade de saber como foi este primeiro embate. Quanto ao trabalho, o primeiro, é fantástico que seja em Angola. Entra de cabeça no mundo dos países que serão os actores do crescimento económico mundial nos próximos anos. Países inseguros, de rumo incerto e com uma dinâmica interna que se situa numa latitude completamente diferente da nossa, na Europa. Ainda bem que assim é. Que sorte que ele tem. Eu, aos 24 fui para o então Novo Mundo para o Portugal de 1984. Ele vai para o que agora é o Novo Mundo para a Europa, essa África rica, desmesurada, incontrolável e explosiva...O mundo evolui mas os padrões de evolução são os mesmos. Boa sorte Mico! Entre com o pé direito e viva a fundo! Deus estará sempre consigo e nós, aqui, sempre atentos, na retaguarda, solidários, na expectativa e para o que der e vier! :-))))))

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pensar é estar de férias

Estou de férias, sempre que penso. Porque pensar é estar "rapatanadamente" (termo que usava a minha mãe) instalada numa cadeira de lona às riscas, quase na horizontal, a observar o bulício de uma feira de aldeia, imersa na música pimba, impregnada do cheiro de farturas e sardinhas, peganhenta de algodão doce mais a caneca ganha nas rifas, o desvario dos carrinhos de choque, a areia embirrenta que entra no sapato, fecho os olhos e vejo um enorme cenário salpicado de emoções e sensações coloridas e ruidosas e, lá está, ondulantes e ininterruptas, a aparecer e a desaparecer, umas teimosas outras menos, há de tudo, convincentes, charlatãs, fugazes, persistentes, embirrentas e doces, complicadas ou simples, caríssimas ou pechinchas, ideias há-as para todos os gostos e necessidades, basta sorrir, de mansinho e sorrateiramente e elas caem na armadilha, e escorregam como aquela bolinha de rebuçado da máquina de vidro, pelo tubo da mente diretamente para a consciência. Este tipo de férias, nos dias que correm, enquadram-se perfeitamente nas medidas de austeridade preconizadas. Como no mundo das ideias tudo corre à velocidade da luz, seja em forma de fotão ou de onda, e não se ocupa espaço, não se incomoda o tempo e não se gasta um cêntimo...vou a correr patentá-lo antes que alguém se lembre de o usar e incluir no próximo pacote de austeridade. Assim vão ter que me pagar royalties e...se calhar até posso pagar-me umas boas férias a sério! É tudo uma questão de imaginação! :-)

Reflexões sobre o amanhecer

Dá-me imenso jeito que a luz, na sua essência mais remota, possa ser entendida e descrita (roughly) também como uma onda. Como, a essa escala, os modelos de representação são só matemáticos, sou "relativamente" livre para imaginar, à minha escala, e portanto sentir o ondular do amanhecer através das frinchas das portadas das janelas, seja em Lisboa, em Barcelona ou em Djakarta (onde nunca estive) sem transgredir as leis fundamentais da física. É que a progressiva inserção na realidade não se faz linearmente. O amanhecer não é um jacto de luz, saído de uma mangueira, que vai aumentando de intensidade e inundando a escuridão. É antes uma suave ondulação onde os nossos sentidos vão detetando, alternadamente, a luz e as sombras, até adquirirem plena consciência da manhã, que sem ferir, se esgueirou pelas frinchas das portadas. A diferença entre o amanhecer de Lisboa e o de Barcelona, agora no verão, está na amplitude dessa onda (Em Djakarta não sei como é, só sei que deve ter uma amplitude muito dela). Enquanto que em Lisboa essa amplitude é menor, mais reduzida, em Barcelona, o ondular é mais pronunciado. Em Lisboa o amanhecer é suave. Em Barcelona, feérico. Logo, em Lisboa é preciso mais café para acordar, em Barcelona menos! Espero que os físicos do CERN considerem esta associação relevante e no próximo choque frenético de partículas consigam averiguar o porquê e como da relação entre a luz e a cafeína. Não sei se a Humanidade, mas eu agradeceria.

Um exemplo para a Humanidade

Stoyanka Koleva é uma amiga búlgara de Barcelona. É professora da instrução primária. O marido também. Emigraram, com dois filhos, há muitos anos, para Barcelona. Podem imaginar o que aconteceu e o que tiveram que fazer para para poderem sobreviver em Barcelona. Só que, por convicção, esforço e tenacidade, profundamente enraizados neles, não quiseram nunca e só sobreviver. Aprendi búlgaro com a Stoyanka e tive o enorme privilégio de sentir, nas inúmeras horas em que com paciência e tenacidade, ía talhando na minha massa cinzenta, os circuitos da lógica e do sentido da língua búlgara, a convicção, a tenacidade e a capacidade de sacrifício que a animava: queria proporcionar aos filhos o futuro que a vida lhe tinha roubado a ela, na Bulgaria. Sem ponta de amargura, sem lamento algum, antes pelo contrário. Havia alguma lágrima de emoção, na voz, nalguns daqueles momentos búlgaros mais íntimos...claro que sim. Mas eram só breves notas outonais numa personalidade eminentemente de verão! Hoje o filho licenciou-se em Engenharia pela Universidade Politécnica da Catalunha. É o Euromilhões dos que, por convicção, se esforçam e não cedem à tentação de ver a vida como um fato predeterminado que há que vestir, contrafeitos, por força de um fado malfadado. A Stoyanka, o marido e os filhos ambicionaram mais, esforçaram-se por mais, não cederam ao menos que ía aparecendo nos dias piores e hoje têm esse mais, nesta impressionante fotografia do filho, à porta da Universidade Politécnica da Catalunha, com o "canudo" na mão. Tiro-lhes o chapéu, com profunda admiração! Sei os enormes sacrifícios que fizeram e ao que muitas vezes foi preciso sujeitarem-se. Fui testemunha, muito próxima, de como lhes iam dando a volta e como a dignidade nunca esteve em causa. Afirmo, peremptóriamente, que a Stoyanka e a família são um exemplo para a Humanidade! Nem mais, nem menos! Честито, семейство! Браво Стоянка!!!

domingo, 8 de julho de 2012

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DA UNIÃO



Carlos Costa Neves*
Maria do Carmo Marques Pinto**
...
A União que construímos é já hoje uma união política. Imperfeita, incompleta, por vezes perversa, mas ainda assim uma união política.
O percurso trilhado após a queda do Muro de Berlim, na base dos compromissos então possíveis, explica as atuais insuficiências. Em Maastricht foi decidido evoluir de “comunidade económica” para “união política”, assente em diversos pilares que, mais tarde, se revelaram desequilibrados na dimensão e na robustez. Distinguimos o mercado único incompleto, a moeda desprovida de mecanismos de defesa, a união económica insipiente, a política externa sem ambição e o caráter difuso do sistema de governação. A crise económico-financeira de 2008 potenciou todas as fragilidades e imperfeições da União.
Desde então, temos andado em busca do tempo perdido. É certo que a vertente económica foi robustecida com a assinatura do Tratado Intergovernamental. No entanto, quanto ao pilar monetário, do importante fez-se o urgente, como tornará a acontecer quando, em socorro do sistema financeiro, avançarmos na criação da união bancária. Quanto ao sistema de governação definido pelo Tratado de Lisboa, constata-se que, sendo difuso, propicia a sobreposição de interesses particulares ao comum.
A imperfeição desta União reflete-se ainda na sua reconhecida incapacidade para se apresentar, na cena internacional, a uma só voz, como exige a natureza dos desafios decorrentes da globalização, do alimentar ao energético, do financeiro ao demográfico, sem esquecer o ambiental, o que limita a defesa dos interesses que representa, o aproveitamento das oportunidades que se oferecem, a proteção dos princípios e valores que professa.
Esta união politica não peca, no entanto, apenas por defeito ou omissão. A “insustentável leveza” que a caracteriza tem consequências que podemos qualificar como perversas. Senão vejamos! Sustentamos uma PAC que apoia os produtores com base no “histórico” da produção de cada um dos Estados Membros, o que põe em causa as mais elementares regras da concorrência. As contas de “deve e haver” não contabilizam a intangibilidade dos ganhos de que beneficiaram as economias do centro da Europa na sequência do alargamento, o que acentua a “divergência” entre estas e as demais economias da União. A palavra de ordem das instituições europeias face à crise financeira de 2008 foi “reforcem o investimento público”, sem considerar a situação económico-financeira particular de cada Estado Membro. Esta surpreendente e inédita terapia europeia equivaleu, para países como Portugal, a deitar gasolina na fogueira. Persiste a coexistência de acordos comerciais, entre a União e Estados terceiros, com acordos bilaterais que outorgam condições mais favoráveis a Estados Membros. Pela falta de mecanismos de garantia solidária da dívida, o Euro funciona como “moeda estrangeira” para certos Estados Membros, entre os quais Portugal, já que o custo do acesso ao crédito é assimétrico, logo gerador de desigualdades penalizadoras, incompatíveis com a noção de mercado único. E os exemplos não terminariam!
Qual deve ser a resposta? Uma imagem vale por mil palavras! O processo de construção europeia é como um avião de grande envergadura que, embalado na pista de descolagem, ultrapassou o “ponto de não retorno”, o momento crucial a partir do qual já não há volta atrás! A União, face aos desafios impostos pela crise e pela globalização, só tem como alternativa à sua “insustentável leveza”, reunir a vontade politica necessária para dar um salto qualitativo na construção de uma verdadeira união politica.
Por outras palavras, neste “ponto de não retorno” em que se encontra o processo de integração europeia, o único passo sério, sensato e realista é “refundar” a União Europeia, lançando uma união política assente numa nova legitimidade democrática, na qual as politicas definidas sejam efetivamente geridas no plano europeu e dotada dos recursos próprios necessários ao cumprimento das suas atribuições.
O que há uns anos atrás era pura ficção, hoje é necessidade inadiável. A construção europeia, falaciosamente qualificada de económica, deve assumir-se, sem complexos, como uma construção eminentemente politica, como no início aconteceu, o que deu origem ao processo de integração mais original, complexo e próspero da História da Humanidade. Ainda que as circunstâncias não sejam as de 1951, os desafios que hoje enfrentamos determinam uma união ambiciosa, coerente, eficaz e assumidamente política. A bem dos cidadãos europeus e dos do resto do mundo.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mico em Luanda


Acabei de saber que o meu filho vai trabalhar para Luanda. É um projeto de curta duração. Mas vai. Fiquei emocionada. Há, na ida do Mico para Luanda, o sinal de que lhe calhou a ele hoje, fazer essa viagem que, antes dele, a fizeram os meus avós e a minha mãe (1946), os meus pais, os meus irmãos e eu (1973). Luanda é, por isso e pelo que lá vivemos, muito mais do que um lugar na geografia, ainda q...ue em Africa a geografia seja particularmente exuberante e não deixe ninguém indiferente. Luanda marcou um rumo diferente nas nossas vidas e é, por isso, uma referência vital e emocional inesquecível. Que o meu filho, que nasceu e foi criado em Bruxelas e cresceu em Barcelona, sem nunca ter vivido em Lisboa (onde, apesar de tudo Angola está presente) sem nunca ter tido qualquer relação com Angola, agora, vá para Angola como primeiro destino profissional, é um sinal de que essas referências do passado fizeram, fazem e farão sentido na vida destas três gerações e que a ida dele para Angola não é um acontecimento solto e sem nexo...É possível que ele encolha os ombros e não ligue a isto. Mas também não precisa de fazer-me caso, hoje. Um dia saberá que foi assim. Que não existem casualidades, na vida, e de que ele há sinais, nos percursos das famílias que, mais do que factos, são elos de uma cadeia que, no fundo, são a manifestação, à escala da realidade, da cadeia de ADN. E que esta lógica que relaciona o que somos e o que fazemos e o que nos acontece, é algo que, muito possivelmente nos transcende. Para mim, é uma janela aberta para debruçar-me sobre a "essência da vida". Um programão!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Dias de sobrolho franzido

Há dias de sobrolho franzido. Ensombrados de nuvens pesadas e escuras, abafados e sem horizonte. Na alma chove torrencialmente, as contrariedades não saem de passeio e resmungam pelos cantos, embirrentas, enervantes. A paciência fica ansiosa, a alegria desbota e o otimismo não ouviu o despertador e por isso deixou-se ficar, como se fosse domingo e não fosse preciso levantar-se. São dias em que as ...horas se multiplicam por minutos intermináveis, curvas e mais curvas, um trânsito insuportável, uma teimosia quezilenta e estéril, só apetece fugir e despir a circunstância apertada que incomoda e cansa como se não fôssemos mas sim um equívoco, enganou-se, não tem importância, boa tarde, a cabeça dói, as opções estão entupidas, que maçada, outra vez, não me apetece, este chato, outra vez a prolongar-se pelos nervos acima, não encontro, não sei onde está, já te disse mil vezes que não e não é não, que barulho ensurdecedor, não aguento mais, fica por fazer, bichas de preguiças acumuladas que vão ficar por fazer, não me apetece, já disse, vou chegar atrasada, tanto pó, nem olho, que saudades, arrastadas, um fundo baço de tristeza assobia no lume, chocalha, deita por fora, haverá quem saiba o que fazer, mas eu não e nesses dias até mesmo a almofada decide não sê-lo e adormeço e porque sim, porque estes dias existem, o meu sobrolho, embirrento, decidiu franzir-me a vida...

Seguidores, fãs, detratores, amigos, interessados