Há dias de sobrolho franzido. Ensombrados de nuvens pesadas e escuras, abafados e sem horizonte. Na alma chove torrencialmente, as contrariedades não saem de passeio e resmungam pelos cantos, embirrentas, enervantes. A paciência fica ansiosa, a alegria desbota e o otimismo não ouviu o despertador e por isso deixou-se ficar, como se fosse domingo e não fosse preciso levantar-se. São dias em que as ...horas se multiplicam por minutos intermináveis, curvas e mais curvas, um trânsito insuportável, uma teimosia quezilenta e estéril, só apetece fugir e despir a circunstância apertada que incomoda e cansa como se não fôssemos mas sim um equívoco, enganou-se, não tem importância, boa tarde, a cabeça dói, as opções estão entupidas, que maçada, outra vez, não me apetece, este chato, outra vez a prolongar-se pelos nervos acima, não encontro, não sei onde está, já te disse mil vezes que não e não é não, que barulho ensurdecedor, não aguento mais, fica por fazer, bichas de preguiças acumuladas que vão ficar por fazer, não me apetece, já disse, vou chegar atrasada, tanto pó, nem olho, que saudades, arrastadas, um fundo baço de tristeza assobia no lume, chocalha, deita por fora, haverá quem saiba o que fazer, mas eu não e nesses dias até mesmo a almofada decide não sê-lo e adormeço e porque sim, porque estes dias existem, o meu sobrolho, embirrento, decidiu franzir-me a vida...
 
 
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