Depois do luar, o amanhecer em Sintra, mais uma curta-metragem sem som do estado da alma. Se eu fosse guia turística, era isto que tentaria explicar às pessoas que aqui vêm: que as cores, a luz, as formas, a temperatura, a humidade, os sons, os movimentos que Sintra oferece são estados de espírito com os quais nos devemos (podemos) identificar e que existe uma série de percursos sempre diferentes, sempre inéditos, sempre capazes de nos desmaterializar até nos transformarmos em apenas espírito. A nossa alma está aí, ao virar de cada olhar, entre as ramagens, delicada e esbelta contra a luz, no cimo da montanha, na sucessão de tonalidades que ora descansam ora surpreendem, na patine da memória, na densidade fina e fresca dos silêncios, na luz, a mais sublime das arquitetas dos sentidos, tudo em nós, tudo de nós se espelha em imagens do espírito que forra a nossa alma. Amanheceres de renda fina e delicada, memórias antigas e eternas, percursos, caminhos, sinuosos, misteriosos, sempre por adivinhar, surpresas já escritas e outras ainda por escrever, a cada instante de luz, a cada agitar de folhagem, na sucessão de imagens em que Sintra espelha e declina a nossa alma.
E por isso vou a correr escrever. Para que as ideias escorram depressa para o papel e dêem espaço às novas que se apressam a tomar forma. Escrever é forrar as paredes interiores de ideias arrumadas.
domingo, 30 de agosto de 2015
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Let us be puzzled...
Os ingleses têm uma expressão muito sugestiva para caracterizar aqueles momentos em que, perante uma realidade que se apresenta aparentemente inconciliável, nos sentimos confusos, perplexos, desconcertados: I am puzzled. Todos nos encontrámos já, muitas vezes, nessa situação: peças que não encaixam umas nas outras, que nada têm a ver umas com as outras, que se anulam ou se sobrepõem. Sabemos que as temos que usar a todas mas não há forma de conseguirmos usá-las todas na construção de um desenho coerente...I am puzzled. Eu sinto-me um pouco assim quando olho para a realidade à minha frente. Muito do que vejo e observo são peças, complexos de peças que navegam, aparentemente, sem rumo nem sentido, num oceano que não pára de oscilar, provocador e desafiante, tornando ainda mais difícil e instável, a construção de um desenho, uma imagem, uma explicação coerente e produtiva. Há a tentação de dar explicações parciais, por conveniência, por oportunismo, por ignorância. Nenhuma delas resiste porque as peças não utilizadas não desaparecem e teimam em aparecer. Se não houver quem as detecte, o tempo encarrega-se de as trazer à tona e dar cabo das explicações apressadas.
Não há fórmulas mágicas para compreender o Todo que nos rodeia. Nem ciência exata que o explique. Nem a experiência, por si só, tem as respostas. Isto leva-me a pensar que existe uma determinada "distância" que é preciso construir, onde nos temos que colocar, para conseguir visualizar o desenho que usa todas as peças que temos na frente. Não é apenas uma distância geográfica, nem temporal, nem intelectual nem empírica mas sim o conjunto de todas estas distâncias, na proporção certa, com a combinação certa, com a chave correta: a que mobiliza todos os ativos armazenados no cérebro, não sei quais, e que constrói a imagem certa. Ele há uma atitude certa para que este processo tenha uma chance de acontecer: a humildade. A aceitação de que não sabemos. I am puzzled. Mais sugestivo, não há. Mais eficaz, também não. E mais inteligente, também não. O ponto de partida para resolver uma realidade absurdamente desconcertante. Let us be puzzled first, to "step back" afterwards to see the big picture at the end.
Não há fórmulas mágicas para compreender o Todo que nos rodeia. Nem ciência exata que o explique. Nem a experiência, por si só, tem as respostas. Isto leva-me a pensar que existe uma determinada "distância" que é preciso construir, onde nos temos que colocar, para conseguir visualizar o desenho que usa todas as peças que temos na frente. Não é apenas uma distância geográfica, nem temporal, nem intelectual nem empírica mas sim o conjunto de todas estas distâncias, na proporção certa, com a combinação certa, com a chave correta: a que mobiliza todos os ativos armazenados no cérebro, não sei quais, e que constrói a imagem certa. Ele há uma atitude certa para que este processo tenha uma chance de acontecer: a humildade. A aceitação de que não sabemos. I am puzzled. Mais sugestivo, não há. Mais eficaz, também não. E mais inteligente, também não. O ponto de partida para resolver uma realidade absurdamente desconcertante. Let us be puzzled first, to "step back" afterwards to see the big picture at the end.
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Só a morte me pode "lixar"!
Setembro de 1994. Telefono ao meu pai, de Bruxelas, como cada dia. Nesse dia, ao subir da Vila para casa, em Sintra, a pé, disse-me, sentira uma dor. Com o historial que tinha, era um enorme balde de água fria. Não obstante, como acontecera no passado, fiquei à espera do comentário displiscente em relação a mais essa "dor", de tantas outras que já tivera. O silêncio, porém prolongou-se e foi finalmente cortado por uma sentença que, vindo dele, nãotinha apelo nem agravo: "Estou lixado!" O chão naquele dia fugiu-me debaixo dos pés. Os meus olhos fixaram pela primeira vez na minha vida, uma escuridão desconhecida, fria, desolada, solitaria, um medo terrível, terrorífico, de um final, de um caminho sem retorno possível, o confronto impiedoso com o "não há nada a fazer". Embora a vida continuasse igual por mais uns tempos, o meu pai morreu a 6 de novembro. Foi há 21 anos. 
A expressão "estou lixado" adquiriu para mim um significado transcendente. Nunca o meu pai a usara antes. Só quando a morte me bater à porta é que eu vou ter razão para dizer "estou lixada". Porque senão, não vejo o que possa lixar-me a vida que escolhi e que vivo com a consciência tranquila, de alma e coração entregues ao que faço. Que Deus me dê muitos e muitos anos antes de ter que admitir: "Estou lixada".
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Conversas ao por do sol
- "Não me sinto infeliz, apenas triste."
- "Vai dar ao mesmo..."
- "Não..."
- "Estás triste, não pareces feliz, logo estás infeliz..."
Sorriu, com um olhar melancólico. Não lhe apetecia falar nem dar explicações. A juventude era tão categórica. Há uns anos atrás também combatera com vigor todos os indícios de tristeza que se infiltrassem na sua paisagem interior e se propagassem à sua imagem externa...
Apesar de tudo, comentou:
- "À medida que o tempo passa vamos aprendendo a domar essa fera..."
- "Qual fera?"
- "A felicidade. É uma fera. Tem-nos a todos aterrorizados. Até a uma determinada altura na vida...não sei bem quando...depois, tudo muda..."
Parou.
-"Olha."
-"O quê?"
- "À tua frente. Olha."
- "Sim. Olho para o quê?"
- "Para o pôr do sol. Não te diz nada?"
- "Está bonito, sim, mas...vês, quando olhas para o pôr-do-sol, ficas mais triste ainda...não gosto de te ver assim...é como quando ouves músicas do teu tempo...ficas triste e às vezes até choras...és masoquista. Não percebo porque é que procuras coisas que te fazem infeliz..."
- "Voltamos ao mesmo. A tristeza não é sinónimo de infelicidade. Mas já vi que não percebes..."
- "Não tem nada que explicar. Eu, se choro, é porque me sinto infeliz...ninguém chora porque se sente feliz..."
- "Pois...é precisamente essa contradição que se desfaz com a idade. Há coisas grandes que se vivem que nos fazem ficar tristes mas que não significam necessariamente que nos façam sentir infelizes. A tristeza é uma forma muito particular de viver a alma. É talvez a única forma de chegarmos verdadeiramente ao fundo da alma. Os tons ficam mais esbatidos, menos agressivos, há menos barulho, menos interferências...podes concentrar-te e chegar ao fundo de ti...as lágrimas são um mero reflexo mecânico de uma grande emoção...sinal de que encontraste algo verdadeiramente importante. Tão importante, tão sensível que choras. Mas acredito que não sejam as mesmas lágrimas que tu conheces..."
-"Estás a chorar? Deixa ver..."
- "Não. Agora estou a conversar contigo. Não é assim tão fácil virem-me as lágrimas aos olhos. Há uma enorme diferença entre ser piegas e deixar-se emocionar por determinadas coisas "grandes". São lágrimas diferentes..."
Só a tristeza é capaz de proporcionar vivências extraordinárias...sem tempo nem distância...mas isso não lhe disse. Explicar-lhe que havia dias em que gostava de sentir-se triste, era interferir na sua forma de sentir. Não tinha esse direito. Há idades para tudo. E lágrimas diferentes para todas elas. As dela, agora, já eram doces.
- "Não..."
- "Estás triste, não pareces feliz, logo estás infeliz..."
Sorriu, com um olhar melancólico. Não lhe apetecia falar nem dar explicações. A juventude era tão categórica. Há uns anos atrás também combatera com vigor todos os indícios de tristeza que se infiltrassem na sua paisagem interior e se propagassem à sua imagem externa...
Apesar de tudo, comentou:
- "À medida que o tempo passa vamos aprendendo a domar essa fera..."
- "Qual fera?"
- "A felicidade. É uma fera. Tem-nos a todos aterrorizados. Até a uma determinada altura na vida...não sei bem quando...depois, tudo muda..."
Parou.
-"Olha."
-"O quê?"
- "À tua frente. Olha."
- "Sim. Olho para o quê?"
- "Para o pôr do sol. Não te diz nada?"
- "Está bonito, sim, mas...vês, quando olhas para o pôr-do-sol, ficas mais triste ainda...não gosto de te ver assim...é como quando ouves músicas do teu tempo...ficas triste e às vezes até choras...és masoquista. Não percebo porque é que procuras coisas que te fazem infeliz..."
- "Voltamos ao mesmo. A tristeza não é sinónimo de infelicidade. Mas já vi que não percebes..."
- "Não tem nada que explicar. Eu, se choro, é porque me sinto infeliz...ninguém chora porque se sente feliz..."
- "Pois...é precisamente essa contradição que se desfaz com a idade. Há coisas grandes que se vivem que nos fazem ficar tristes mas que não significam necessariamente que nos façam sentir infelizes. A tristeza é uma forma muito particular de viver a alma. É talvez a única forma de chegarmos verdadeiramente ao fundo da alma. Os tons ficam mais esbatidos, menos agressivos, há menos barulho, menos interferências...podes concentrar-te e chegar ao fundo de ti...as lágrimas são um mero reflexo mecânico de uma grande emoção...sinal de que encontraste algo verdadeiramente importante. Tão importante, tão sensível que choras. Mas acredito que não sejam as mesmas lágrimas que tu conheces..."
-"Estás a chorar? Deixa ver..."
- "Não. Agora estou a conversar contigo. Não é assim tão fácil virem-me as lágrimas aos olhos. Há uma enorme diferença entre ser piegas e deixar-se emocionar por determinadas coisas "grandes". São lágrimas diferentes..."
Só a tristeza é capaz de proporcionar vivências extraordinárias...sem tempo nem distância...mas isso não lhe disse. Explicar-lhe que havia dias em que gostava de sentir-se triste, era interferir na sua forma de sentir. Não tinha esse direito. Há idades para tudo. E lágrimas diferentes para todas elas. As dela, agora, já eram doces.
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Praia Grande
Hoje realizei, pela primeira vez, que em linha reta, a minha família vem para esta praia há mais de cem anos (1902). Cinco gerações e o mesmo por do sol, as mesmas rochas, a mesma ondulação. O sol volta sempre a nascer e por-se neste mesmo horizonte. Nós, amanhã, seremos diferentes de hoje e um dia deixaremos de cá estar...que pensará de nós, o sol?
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Uma farsa para rir a bandeiras despregadas e não se deixar convencer.
O caso dos cartazes mostra bem o que vai nos bastidores mentais dos políticos e dos seus aparelhos. A batalha política joga-se no campo do marketing, na construção de cenários que têm como objetivo convencer-nos da veracidade das motivações, preocupações, empenhos e, pior, dos resultados e do seu impacto nas nossas vidas. O episódio dos "outdoors" não teria maior repercussão se, por trás destes cenários fabricados, existissem personagens credíveis, que têm valores e princípios, em que acreditam, que professam e pelos quais mostram a sua convicção, profunda. Mas, como penso, de profundo não há nada e é bom que o assumamos numa atitude de maturidade e coerência. Eu não acredito. Nem me deixo enganar pela pouca importância que querem dar à história dos cartazes. Que embora seja um incidente de percurso, não nos enganemos, é assim que os políticos e os seus aparelhos têm vindo a gerir o bem comum, de há anos a esta parte. E as razões são sérias, não são "faits divers". Um e os que o rodeiam, pretendem convencer-nos que embora tendo sido o segundo do Sócrates nada teve a ver com o roubo ao Estado e aos Portugueses que foi perpetrado nas nossas barbas, impunemente, até hoje. Se era o segundo e sabia da forma como era gerido o bem comum, é cúmplice. Se não sabia, é incompetente e não serve para gerir nada de ninguém porque não oferece confiança, muito pelo contrário. Um dos outros esteve mais do que implicado no caso dos submarinos - não me atirem areia para os olhos e não me façam de tonta - e só se safou porque durante a época do Sócrates a impunidade era válida para todos porque beneficiava a todos. As artimanhas e as obscuridades são tantas que não oferece mais confiança do que o outro. O terceiro, o mais angélico dos três, ainda há pouco louvava - em público, note-se - um dos vigaristas do sistema mais acabado, o Dias Loureiro...constituído arguido em vários processos ligados ao caso BPN mas não só. 
E não vamos mais longe. Porque as segundas e terceiras linhas são segundas e terceiras linhas para assegurar uma gestão do bem comum que todos os anos, há mais de 30 anos, rouba uma fatia, grossa, de recursos públicos para investir em iniciativas, projetos, pessoas e negócios de cujos rendimentos o povo português não tirou nem ganhou qualquer benefício, antes pelo contrário, chegámos mesmo ao cúmulo de estarmos a pagar, com os nossos impostos, as consequências deste roubo organizado e mafioso.
Não sou "ayatola" nem pretendo fazer de justiceira. Longe disso. Eu não sou chamada a julgar as responsabilidades penais. Apenas as políticas. A Constituição dá-me esse direito e essa obrigação. Portanto, não dá para continuar a fechar os olhos ou a olhar para o lado, discutindo apenas aquilo que nos é apresentado públicamente como sendo o único que podemos ter em conta na avaliação da idoneidade dos candidatos e na confiança que nos merecem para executar o que dizem que vão executar. Os cartazes são mais uma das manifestações que provam a ligeireza com que o bem comum é tratado num país onde, na esfera pública, tudo é permitido, tudo é válido, tudo é possível devido apenas à falta de rigor, de seriedade e de exigência com que nós, os Cidadãos, gerimos o mandato de escrutínio e avaliação que nos é dado pela Constituição, à hora de votar. Temos a obrigação de ir mais fundo, na avaliação do que nos é proposto e marcar a agenda política que nos interessa para que os nossos bens, as nossas vidas, o nosso futuro não continue a ser gerido por uma máfia organizada que tem tanta desfaçatez, tanta lata, tanta confiança de que vai ser outra vez eleita que não se importa de fabricar cartazes falsos, de louvar criminosos em público, de rir-se nas nossas barbas com as histórias de submarinos arquivadas ou que passeia alegremente a sua cumplicidade nas fraudes do Sócrates vestido de anjinho.
Gargalhadas, é o que me merece tudo isto. A política, em Portugal, e mais agora nesta campanha eleitoral é digna de uma farsa de Gil Vicente, de uma sátira de Ramalho Ortigão, de uma "revista" do tempo da outra senhora, ou de uma comédia do Vasco Santana, Ribeirinho e António Silva. Rir, a bandeiras despregadas, é o que tenho vontade, quando os oiço e os vejo...porque no dia das eleições, nenhum deles me vai conseguir convencer a dar-lhes o meu voto. Nenhum. Porque são responsáveis, políticamente, pela farsa política que montaram e andam a gerir, à minha custa, à nossa custa, há anos sem fim. Basta!
Não sou "ayatola" nem pretendo fazer de justiceira. Longe disso. Eu não sou chamada a julgar as responsabilidades penais. Apenas as políticas. A Constituição dá-me esse direito e essa obrigação. Portanto, não dá para continuar a fechar os olhos ou a olhar para o lado, discutindo apenas aquilo que nos é apresentado públicamente como sendo o único que podemos ter em conta na avaliação da idoneidade dos candidatos e na confiança que nos merecem para executar o que dizem que vão executar. Os cartazes são mais uma das manifestações que provam a ligeireza com que o bem comum é tratado num país onde, na esfera pública, tudo é permitido, tudo é válido, tudo é possível devido apenas à falta de rigor, de seriedade e de exigência com que nós, os Cidadãos, gerimos o mandato de escrutínio e avaliação que nos é dado pela Constituição, à hora de votar. Temos a obrigação de ir mais fundo, na avaliação do que nos é proposto e marcar a agenda política que nos interessa para que os nossos bens, as nossas vidas, o nosso futuro não continue a ser gerido por uma máfia organizada que tem tanta desfaçatez, tanta lata, tanta confiança de que vai ser outra vez eleita que não se importa de fabricar cartazes falsos, de louvar criminosos em público, de rir-se nas nossas barbas com as histórias de submarinos arquivadas ou que passeia alegremente a sua cumplicidade nas fraudes do Sócrates vestido de anjinho.
Gargalhadas, é o que me merece tudo isto. A política, em Portugal, e mais agora nesta campanha eleitoral é digna de uma farsa de Gil Vicente, de uma sátira de Ramalho Ortigão, de uma "revista" do tempo da outra senhora, ou de uma comédia do Vasco Santana, Ribeirinho e António Silva. Rir, a bandeiras despregadas, é o que tenho vontade, quando os oiço e os vejo...porque no dia das eleições, nenhum deles me vai conseguir convencer a dar-lhes o meu voto. Nenhum. Porque são responsáveis, políticamente, pela farsa política que montaram e andam a gerir, à minha custa, à nossa custa, há anos sem fim. Basta!
domingo, 16 de agosto de 2015
A alegoria da chuva
Chove. Miudinho mas há tempo suficiente para alimentar uns carreirinhos de água que serpenteiem entre as pedras em direção ao ralo do jardim. Graças a Deus que chove, comento à Uva, que da ponta do seu focinho bicudo parecia perguntar-me se não teria deixado a rega aberta a noite toda. Chove sempre, a meados de agosto, em Sintra e há que interpretar esta diretriz da Natureza como um aviso à navegação: atenção que toda esta frondosidade exuberante e delicada que nos rodeia vive da água, não vive do sol! E uma segunda vez graças a Deus que o grande sistema que é a Natureza ainda funciona apesar de todas as sabotagens de que tem sido vítima para acomodar o sistema que esse outro Ser que é o Humano, com o qual convive, criou para assegurar o seu conforto e o seu bem-estar.
Chove, com a mais absoluta indiferença e desprezo pelo desejo humano de progredir, de crescer, de faturar, de comprar, de ter para ter sempre mais e mais...quem pára esta fobia desvairada do Humano pelo crescimento perpétuo de todas as curvas que sobem com uma ambição desmesurada pelos gráficos acima e nos são vendidas como êxitos, conquistas, prova acabada e inquestionável da sua inteligência superior e garante do nosso bem-estar?
Hoje chove em Sintra e eu alegro-me de que assim seja para que a Natureza descanse da ocupação selvagem a que tem sido sujeita pelo turismo frenético que a martiriza em contrapartida de uns quantos Euros, nunca os suficientes para compensar o impacto negativo deixado pela imundice, o ruído, a poluição, os maus tratos à Natureza, o assédio aos residentes, a perturbação do descanso a que temos direito porque, no final do dia, quem paga os impostos, somos todos.
Chove e vão circular pelas ruas e passeios e florestas de Sintra, menos turistas, graças a Deus. E que fique claro que não sou contra o turismo, muito pelo contrário. O que me revolta é a falta de planeamento inteligente e gestão responsável deste turismo que invade as nossas terras e que não garante que parte dos Euros que deixam seja para beneficiar, cuidar, proteger, mimar a nossa terra e os que nela habitamos. Garantir essa harmonia que tem que existir entre o bem-estar do Ser Humano e o bem-estar da Natureza. É por isso que hoje chove em Sintra...Porque a Natureza ainda está viva e ativa e ainda nos dá avisos à navegação. Hoje, quero sossego, diz. Porque as primeiras semanas de agosto em Sintra têm sido um inferno para ela e para aqueles que aqui vivemos. E bastam umas gotas valentes para que as rosas, à beira da estrada, voltem a sorrir e não tussam com os escapes permanentes dos carros, camionetas, autocarros, motas e outros que sobem a rua a bombar CO2...para gáudio dos comerciantes e do prestígio da Câmara. Só. (Tudo o que de bom foi feito em Sintra, vila, por Sintra deve-se à empresa dos Parques de Sintra e à gestão do António Lamas. Tudo o resto está na mesma há mais de 30 anos.)
Chove, com a mais absoluta indiferença e desprezo pelo desejo humano de progredir, de crescer, de faturar, de comprar, de ter para ter sempre mais e mais...quem pára esta fobia desvairada do Humano pelo crescimento perpétuo de todas as curvas que sobem com uma ambição desmesurada pelos gráficos acima e nos são vendidas como êxitos, conquistas, prova acabada e inquestionável da sua inteligência superior e garante do nosso bem-estar?
Hoje chove em Sintra e eu alegro-me de que assim seja para que a Natureza descanse da ocupação selvagem a que tem sido sujeita pelo turismo frenético que a martiriza em contrapartida de uns quantos Euros, nunca os suficientes para compensar o impacto negativo deixado pela imundice, o ruído, a poluição, os maus tratos à Natureza, o assédio aos residentes, a perturbação do descanso a que temos direito porque, no final do dia, quem paga os impostos, somos todos.
Chove e vão circular pelas ruas e passeios e florestas de Sintra, menos turistas, graças a Deus. E que fique claro que não sou contra o turismo, muito pelo contrário. O que me revolta é a falta de planeamento inteligente e gestão responsável deste turismo que invade as nossas terras e que não garante que parte dos Euros que deixam seja para beneficiar, cuidar, proteger, mimar a nossa terra e os que nela habitamos. Garantir essa harmonia que tem que existir entre o bem-estar do Ser Humano e o bem-estar da Natureza. É por isso que hoje chove em Sintra...Porque a Natureza ainda está viva e ativa e ainda nos dá avisos à navegação. Hoje, quero sossego, diz. Porque as primeiras semanas de agosto em Sintra têm sido um inferno para ela e para aqueles que aqui vivemos. E bastam umas gotas valentes para que as rosas, à beira da estrada, voltem a sorrir e não tussam com os escapes permanentes dos carros, camionetas, autocarros, motas e outros que sobem a rua a bombar CO2...para gáudio dos comerciantes e do prestígio da Câmara. Só. (Tudo o que de bom foi feito em Sintra, vila, por Sintra deve-se à empresa dos Parques de Sintra e à gestão do António Lamas. Tudo o resto está na mesma há mais de 30 anos.)
sábado, 15 de agosto de 2015
O meu mundo, é outro, tenham lá santa paciência...
Hoje ouvi o comentário do Marques Mendes, na SIC. Não vivemos no mesmo mundo. Quem o ouve pensa que "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis" (Pangloss, Candide, Voltaire)...o mundo é, de facto, para quem sempre viveu e viverá dos frutos de um sistema que chuta para a frente os problemas, maravilhoso, encantador, divertido...Os fogos? O ano foi especialmente quente e ainda estamos abaixo da média dos últimos anos...Os dados da macro-economia, simpáticos, animadores, estamos no bom caminho. Sócrates vai pagar a Santos Silva? Um fait divers, nada de grave. As rentrées políticas? Comentários elegantes para uns e outros. O "acordo" do Eurogrupo com a Grécia" Boas notícias, claro. Abre-se de orelha a orelha o sorriso oficial, "se tivessem feito como Portugal...isto das aventuras, tem que se lhe diga...e não é que o povo grego está desiludido, assegura, porque o pior teria sido se as pretensões do Siryza tivessem ido para a frente, não isso é que não! Quanto às presidenciais, a análise ficou-se por comentáriozitos apimentados, nada que o elevasse a mente brilhante na reta final que acabou com um sorriso satisfeito e orgulhoso de si próprio, "como adoro ter-me conhecido", até para a semana, infelizmente para o país e para todos nós. 
Deprimente, este Portugal satisfeito e otimista que aparece nas televisões e nos jornais e discute outdoors e passa de helicóptero por cima dos incêndios, que ignora os historiais pesados que carregam todos esses amigalhaços da política e discute as suas propostas como se elas fossem credíveis e, pior ainda, como se fosse verdade que as fossem implementar quando todos sabemos que não vão e que continua a burla perpetrada por uns quantos contra todos, mercê da ignorância, do temor, do medo que reina no país.
Uma sátira, eis o que podemos fazer. Escrever uma sátira cruel e irreverente, que os apanhe a todos no flagrante delito de abuso, descarado, da posição dominante de que usufruem, pintando o país de um rosa-laranja berrante que fere, que é de mau gosto, que destoa, que quer à força e à martelada impingir-se ao país real, meter-se na vida das pessoas, explicar a vida às pessoas, lavar os cérebros com sabão macaco para que fiquemos todos a pensar branquinho, branquinho.
Ainda tive a pouca sorte de ver passar pelo écran o Marco António, a chamar bombistas à oposição, e acontecia isto ainda antes de entrar na sardinhada dos laranjinhas, agora coligados com os do Portas...não desejo ver o que poderá dizer quando acabar a jantarada...
Não...não vivo no mundo do Marques Mendes, no mundo desta comunicação social que alimenta esta gente e contribui para nos passar um atestado de "parolos a ver passar o Mercedes"...no mundo das trincheiras onde uns arremessam sardinhas e recebem de volta carapaus, entre copos, gargalhadas e palmadas satisfeitas e orgulhosas por se conhecerem. Não, o meu mundo é outro.
Uma sátira, eis o que podemos fazer. Escrever uma sátira cruel e irreverente, que os apanhe a todos no flagrante delito de abuso, descarado, da posição dominante de que usufruem, pintando o país de um rosa-laranja berrante que fere, que é de mau gosto, que destoa, que quer à força e à martelada impingir-se ao país real, meter-se na vida das pessoas, explicar a vida às pessoas, lavar os cérebros com sabão macaco para que fiquemos todos a pensar branquinho, branquinho.
Ainda tive a pouca sorte de ver passar pelo écran o Marco António, a chamar bombistas à oposição, e acontecia isto ainda antes de entrar na sardinhada dos laranjinhas, agora coligados com os do Portas...não desejo ver o que poderá dizer quando acabar a jantarada...
Não...não vivo no mundo do Marques Mendes, no mundo desta comunicação social que alimenta esta gente e contribui para nos passar um atestado de "parolos a ver passar o Mercedes"...no mundo das trincheiras onde uns arremessam sardinhas e recebem de volta carapaus, entre copos, gargalhadas e palmadas satisfeitas e orgulhosas por se conhecerem. Não, o meu mundo é outro.
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
O céu
O céu. Salpicado de milhões de pequenas luzes, que refletem o nosso passado. É curioso. O passado brilha no céu. O presente vive connosco. O futuro, esse, é uma ilusão. No entanto é a obcessão do Homem. Construir o futuro, deixar para o futuro, adivinhar o futuro...vivemos o presente com os olhos postos no futuro. Mas ao erguermos os olhos para o céu, a única certeza que ele nos oferece é a do que já aconteceu, há milhares de anos...porque será assim?
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
É-nos pedido que escolhamos entre o mau e o pior. Porque o descrédito que uns e outros merecem...é brutal.
É lamentável e mais do que isso inútil seguir o pretenso debate político entre os partidos que aspiram a governar o país a partir de outubro. Porque "aquilo" a que assistimos, da galeria, não só está a milhas largas de poder ser qualificado de debate como muito remotamente poderá ser do âmbito da Política. O problema, porém, não está sequer na forma ou no conteúdo dos arremessos, que só por si justificava o nosso alheamento. (Deixo de lado a questão da corrupção na esfera pública porque é um tema que, por si só, justifica esse descrédito).
O verdadeiro problema é que o descrédito da classe política é de tal ordem e atinge uma tal magnitude - pelo menos para mim - que tudo o que possam dizer, avançar como argumento, esgrimir, trazer à colação...peca pela mais elementar falta de credibilidade. Eu, pura e simplesmente, não acredito que não estejam, uns e outros, a tentar deitar poeira para os olhos dos eleitores para conseguirem ter os votos mínimos que lhes garantam o acesso ao poder. Apenas isso. E porquê?
Em primeiro lugar porque uns e outros exerceram já responsabilidades políticas, em diferentes âmbitos e cargos, ao longo do tempo, não podendo, nem uns nem outros eximirem-se da responsabilidade pelo "Estado da Nação". A economia, a educação, o ensino, a cultura, a saúde, o ambiente, as exportações, o emprego-desemprego, as infraestruturas, a agricultura e todas as áreas de governo são realidades estruturais que não variam substancialmente ao simples toque da mudança de governo, de quatro em quatro anos. Para termos uma opinião fundamentada, temos que olhar para os últimos 15 anos, pelo menos. O debate, esse, anda pela análise trimestral dos dados...
Em segundo lugar porque todos sabemos que os problemas que abordam - desemprego, emprego, saúde, educação, envelhecimento da população, etc, são problemas sistémicos, querendo isto dizer que só mudam para melhor se quem tiver responsabilidades governamentais os abordar conjuntamente e "radicalmente", ou seja, indo ao fundo das questões. Não ouvi, nem li, nem vi ninguém ainda falar de "abordagem sistémica", logo não acredito que queiram ou saibam resolver alguma coisa.
Em terceiro lugar, ninguém fala no modelo de sociedade e menos ainda de modelo de Estado e da sua reforma profunda. Todos sabemos que o nosso modelo de sociedade não está preparado para fazer face aos grandes desafios deste século: a demografia (no nosso caso, catastrófica), os recursos naturais, o modelo energético, a gestão dos recursos hídricos, a gestão das nossas florestas, a desertificação do interior, a Educação para a criatividade, o saber e a competitividade, o modelo económico...nada disto é debatido, não há propostas inovadoras, que nos indiquem onde pode estar o nosso potencial.
Por último, estou cada vez mais convencida que o nosso grande mal reside nos veículos que são os partidos políticos. Uns agrupamentos de gestão dos interesses de pessoas sem preparação, sem conhecimento algum sobre a realidade do país, sem mundo e sem experiência, sem visão e sem abertura de espírito, controladores dos seus pequenos espaços de poder que se dividem entre si, de costas viradas para o interesse geral.
Em quarto lugar, a questão europeia, o futuro da UEM e a nossa pertença a este Clube, brilha pela sua ausência. O que não abona a favor da credibilidade do debate político uma vez que o que irá suceder no teatro europeu nos próximos tempos é a principal condicionante da ação política de qualquer Governo português nos próximos 20 anos. O que se diz, a este respeito, é de uma pobreza franciscana, banalidades e meras declarações de princípio sem qualquer alcance ou significado.
Neste particular, pouco me importa a opinião de outros sobre o assunto. Não vejo transação possível nem espaço para debate sobre a valia, a idoneidade, a competência dos partidos que optam ao Governo para gerirem os destinos do país. Ninguém me convence, ao olhar para os figurões e menos figurões, que estão nas listas eleitorais de uns e de outros, da idoneidade destes personagens que vão gerir o meu país a partir de outubro. Sinceramente, dá mesmo vontade de emigrar. Seja para o estrangeiro seja para dentro de nós próprios. Em outubro será, de novo, uma tristeza. Porque se nos pede que escolhamos entre o mau e o pior. Porque o descrédito que todos merecem, é brutal...
Em primeiro lugar porque uns e outros exerceram já responsabilidades políticas, em diferentes âmbitos e cargos, ao longo do tempo, não podendo, nem uns nem outros eximirem-se da responsabilidade pelo "Estado da Nação". A economia, a educação, o ensino, a cultura, a saúde, o ambiente, as exportações, o emprego-desemprego, as infraestruturas, a agricultura e todas as áreas de governo são realidades estruturais que não variam substancialmente ao simples toque da mudança de governo, de quatro em quatro anos. Para termos uma opinião fundamentada, temos que olhar para os últimos 15 anos, pelo menos. O debate, esse, anda pela análise trimestral dos dados...
Em segundo lugar porque todos sabemos que os problemas que abordam - desemprego, emprego, saúde, educação, envelhecimento da população, etc, são problemas sistémicos, querendo isto dizer que só mudam para melhor se quem tiver responsabilidades governamentais os abordar conjuntamente e "radicalmente", ou seja, indo ao fundo das questões. Não ouvi, nem li, nem vi ninguém ainda falar de "abordagem sistémica", logo não acredito que queiram ou saibam resolver alguma coisa.
Em terceiro lugar, ninguém fala no modelo de sociedade e menos ainda de modelo de Estado e da sua reforma profunda. Todos sabemos que o nosso modelo de sociedade não está preparado para fazer face aos grandes desafios deste século: a demografia (no nosso caso, catastrófica), os recursos naturais, o modelo energético, a gestão dos recursos hídricos, a gestão das nossas florestas, a desertificação do interior, a Educação para a criatividade, o saber e a competitividade, o modelo económico...nada disto é debatido, não há propostas inovadoras, que nos indiquem onde pode estar o nosso potencial.
Por último, estou cada vez mais convencida que o nosso grande mal reside nos veículos que são os partidos políticos. Uns agrupamentos de gestão dos interesses de pessoas sem preparação, sem conhecimento algum sobre a realidade do país, sem mundo e sem experiência, sem visão e sem abertura de espírito, controladores dos seus pequenos espaços de poder que se dividem entre si, de costas viradas para o interesse geral.
Em quarto lugar, a questão europeia, o futuro da UEM e a nossa pertença a este Clube, brilha pela sua ausência. O que não abona a favor da credibilidade do debate político uma vez que o que irá suceder no teatro europeu nos próximos tempos é a principal condicionante da ação política de qualquer Governo português nos próximos 20 anos. O que se diz, a este respeito, é de uma pobreza franciscana, banalidades e meras declarações de princípio sem qualquer alcance ou significado.
Neste particular, pouco me importa a opinião de outros sobre o assunto. Não vejo transação possível nem espaço para debate sobre a valia, a idoneidade, a competência dos partidos que optam ao Governo para gerirem os destinos do país. Ninguém me convence, ao olhar para os figurões e menos figurões, que estão nas listas eleitorais de uns e de outros, da idoneidade destes personagens que vão gerir o meu país a partir de outubro. Sinceramente, dá mesmo vontade de emigrar. Seja para o estrangeiro seja para dentro de nós próprios. Em outubro será, de novo, uma tristeza. Porque se nos pede que escolhamos entre o mau e o pior. Porque o descrédito que todos merecem, é brutal...
terça-feira, 4 de agosto de 2015
A patine da vida
À medida que a vida vai avançando, vai adquirindo "patine", essa sabedoria que encontramos nas coisas usadas e que parece que as ensina a moldarem-se à nossa maneira de ser: aquele casaco velho de lã cada vez mais macia, a nossa almofada de sempre que tão bem aprendeu a adormecer-nos, a seda das folhas do livro do Eça de Queiróz que veio de cada dos avós e que cada vez dão mais prazer em folhear, o sofá de forro descolorido que adquiriu uma habilidade especial para curar as nossas dores de cabeça, a chávena da Vista Alegre de procelana fina, embora bicada e de dourados esbatidos, que nos serve há anos o melhor primeiro café da manhã...Todos eles adquiriram patine, uma sabedoria e uma doçura que nos levam a sentir por eles um carinho especial e a conceder-lhes um lugar destacado e eterno na hierarquia dos nossos afetos. Como estes objetos, que se vão tornando sábios com o tempo e o uso, também a nossa vida se vai moldando ao Universo que nos rodeia e este vai-lhe acrescentando finas camadas de vivências que lhe vão amaciando as arestas, suavizando as texturas, esbatendo as cores, amadurecendo a personalidade. Ou seja, patine. Espera-se é que o Universo, à nossa volta, sinta por nós o mesmo carinho que temos por estes objetos que envelheceram connosco e não nos substitua por recém-chegados sem história, sem sabedoria, sem...lá está... a tal patine.
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