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domingo, 16 de agosto de 2015

A alegoria da chuva

Chove. Miudinho mas há tempo suficiente para alimentar uns carreirinhos de água que serpenteiem entre as pedras em direção ao ralo do jardim. Graças a Deus que chove, comento à Uva, que da ponta do seu focinho bicudo parecia perguntar-me se não teria deixado a rega aberta a noite toda. Chove sempre, a meados de agosto, em Sintra e há que interpretar esta diretriz da Natureza como um aviso à navegação: atenção que toda esta frondosidade exuberante e delicada que nos rodeia vive da água, não vive do sol! E uma segunda vez graças a Deus que o grande sistema que é a Natureza ainda funciona apesar de todas as sabotagens de que tem sido vítima para acomodar o sistema que esse outro Ser que é o Humano, com o qual convive, criou para assegurar o seu conforto e o seu bem-estar.
Chove, com a mais absoluta indiferença e desprezo pelo desejo humano de progredir, de crescer, de faturar, de comprar, de ter para ter sempre mais e mais...quem pára esta fobia desvairada do Humano pelo crescimento perpétuo de todas as curvas que sobem com uma ambição desmesurada pelos gráficos acima e nos são vendidas como êxitos, conquistas, prova acabada e inquestionável da sua inteligência superior e garante do nosso bem-estar?
Hoje chove em Sintra e eu alegro-me de que assim seja para que a Natureza descanse da ocupação selvagem a que tem sido sujeita pelo turismo frenético que a martiriza em contrapartida de uns quantos Euros, nunca os suficientes para compensar o impacto negativo deixado pela imundice, o ruído, a poluição, os maus tratos à Natureza, o assédio aos residentes, a perturbação do descanso a que temos direito porque, no final do dia, quem paga os impostos, somos todos.
Chove e vão circular pelas ruas e passeios e florestas de Sintra, menos turistas, graças a Deus. E que fique claro que não sou contra o turismo, muito pelo contrário. O que me revolta é a falta de planeamento inteligente e gestão responsável deste turismo que invade as nossas terras e que não garante que parte dos Euros que deixam seja para beneficiar, cuidar, proteger, mimar a nossa terra e os que nela habitamos. Garantir essa harmonia que tem que existir entre o bem-estar do Ser Humano e o bem-estar da Natureza. É por isso que hoje chove em Sintra...Porque a Natureza ainda está viva e ativa e ainda nos dá avisos à navegação. Hoje, quero sossego, diz. Porque as primeiras semanas de agosto em Sintra têm sido um inferno para ela e para aqueles que aqui vivemos. E bastam umas gotas valentes para que as rosas, à beira da estrada, voltem a sorrir e não tussam com os escapes permanentes dos carros, camionetas, autocarros, motas e outros que sobem a rua a bombar CO2...para gáudio dos comerciantes e do prestígio da Câmara. Só. (Tudo o que de bom foi feito em Sintra, vila, por Sintra deve-se à empresa dos Parques de Sintra e à gestão do António Lamas. Tudo o resto está na mesma há mais de 30 anos.)

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