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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

É-nos pedido que escolhamos entre o mau e o pior. Porque o descrédito que uns e outros merecem...é brutal.

É lamentável e mais do que isso inútil seguir o pretenso debate político entre os partidos que aspiram a governar o país a partir de outubro. Porque "aquilo" a que assistimos, da galeria, não só está a milhas largas de poder ser qualificado de debate como muito remotamente poderá ser do âmbito da Política. O problema, porém, não está sequer na forma ou no conteúdo dos arremessos, que só por si justificava o nosso alheamento. (Deixo de lado a questão da corrupção na esfera pública porque é um tema que, por si só, justifica esse descrédito).
O verdadeiro problema é que o descrédito da classe política é de tal ordem e atinge uma tal magnitude - pelo menos para mim - que tudo o que possam dizer, avançar como argumento, esgrimir, trazer à colação...peca pela mais elementar falta de credibilidade. Eu, pura e simplesmente, não acredito que não estejam, uns e outros, a tentar deitar poeira para os olhos dos eleitores para conseguirem ter os votos mínimos que lhes garantam o acesso ao poder. Apenas isso. E porquê?
Em primeiro lugar porque uns e outros exerceram já responsabilidades políticas, em diferentes âmbitos e cargos, ao longo do tempo, não podendo, nem uns nem outros eximirem-se da responsabilidade pelo "Estado da Nação". A economia, a educação, o ensino, a cultura, a saúde, o ambiente, as exportações, o emprego-desemprego, as infraestruturas, a agricultura e todas as áreas de governo são realidades estruturais que não variam substancialmente ao simples toque da mudança de governo, de quatro em quatro anos. Para termos uma opinião fundamentada, temos que olhar para os últimos 15 anos, pelo menos. O debate, esse, anda pela análise trimestral dos dados...
Em segundo lugar porque todos sabemos que os problemas que abordam - desemprego, emprego, saúde, educação, envelhecimento da população, etc, são problemas sistémicos, querendo isto dizer que só mudam para melhor se quem tiver responsabilidades governamentais os abordar conjuntamente e "radicalmente", ou seja, indo ao fundo das questões. Não ouvi, nem li, nem vi ninguém ainda falar de "abordagem sistémica", logo não acredito que queiram ou saibam resolver alguma coisa.
Em terceiro lugar, ninguém fala no modelo de sociedade e menos ainda de modelo de Estado e da sua reforma profunda. Todos sabemos que o nosso modelo de sociedade não está preparado para fazer face aos grandes desafios deste século: a demografia (no nosso caso, catastrófica), os recursos naturais, o modelo energético, a gestão dos recursos hídricos, a gestão das nossas florestas, a desertificação do interior, a Educação para a criatividade, o saber e a competitividade, o modelo económico...nada disto é debatido, não há propostas inovadoras, que nos indiquem onde pode estar o nosso potencial.
Por último, estou cada vez mais convencida que o nosso grande mal reside nos veículos que são os partidos políticos. Uns agrupamentos de gestão dos interesses de pessoas sem preparação, sem conhecimento algum sobre a realidade do país, sem mundo e sem experiência, sem visão e sem abertura de espírito, controladores dos seus pequenos espaços de poder que se dividem entre si, de costas viradas para o interesse geral.
Em quarto lugar, a questão europeia, o futuro da UEM e a nossa pertença a este Clube, brilha pela sua ausência. O que não abona a favor da credibilidade do debate político uma vez que o que irá suceder no teatro europeu nos próximos tempos é a principal condicionante da ação política de qualquer Governo português nos próximos 20 anos. O que se diz, a este respeito, é de uma pobreza franciscana, banalidades e meras declarações de princípio sem qualquer alcance ou significado.
Neste particular, pouco me importa a opinião de outros sobre o assunto. Não vejo transação possível nem espaço para debate sobre a valia, a idoneidade, a competência dos partidos que optam ao Governo para gerirem os destinos do país. Ninguém me convence, ao olhar para os figurões e menos figurões, que estão nas listas eleitorais de uns e de outros, da idoneidade destes personagens que vão gerir o meu país a partir de outubro. Sinceramente, dá mesmo vontade de emigrar. Seja para o estrangeiro seja para dentro de nós próprios. Em outubro será, de novo, uma tristeza. Porque se nos pede que escolhamos entre o mau e o pior. Porque o descrédito que todos merecem, é brutal...

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