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terça-feira, 4 de agosto de 2015

A patine da vida

À medida que a vida vai avançando, vai adquirindo "patine", essa sabedoria que encontramos nas coisas usadas e que parece que as ensina a moldarem-se à nossa maneira de ser: aquele casaco velho de lã cada vez mais macia, a nossa almofada de sempre que tão bem aprendeu a adormecer-nos, a seda das folhas do livro do Eça de Queiróz que veio de cada dos avós e que cada vez dão mais prazer em folhear, o sofá de forro descolorido que adquiriu uma habilidade especial para curar as nossas dores de cabeça, a chávena da Vista Alegre de procelana fina, embora bicada e de dourados esbatidos, que nos serve há anos o melhor primeiro café da manhã...Todos eles adquiriram patine, uma sabedoria e uma doçura que nos levam a sentir por eles um carinho especial e a conceder-lhes um lugar destacado e eterno na hierarquia dos nossos afetos. Como estes objetos, que se vão tornando sábios com o tempo e o uso, também a nossa vida se vai moldando ao Universo que nos rodeia e este vai-lhe acrescentando finas camadas de vivências que lhe vão amaciando as arestas, suavizando as texturas, esbatendo as cores, amadurecendo a personalidade. Ou seja, patine. Espera-se é que o Universo, à nossa volta, sinta por nós o mesmo carinho que temos por estes objetos que envelheceram connosco e não nos substitua por recém-chegados sem história, sem sabedoria, sem...lá está... a tal patine.

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