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domingo, 30 de agosto de 2015

Sintra ou o filme da declinação da alma

Depois do luar, o amanhecer em Sintra, mais uma curta-metragem sem som do estado da alma. Se eu fosse guia turística, era isto que tentaria explicar às pessoas que aqui vêm: que as cores, a luz, as formas, a temperatura, a humidade, os sons, os movimentos que Sintra oferece são estados de espírito com os quais nos devemos (podemos) identificar e que existe uma série de percursos sempre diferentes, sempre inéditos, sempre capazes de nos desmaterializar até nos transformarmos em apenas espírito. A nossa alma está aí, ao virar de cada olhar, entre as ramagens, delicada e esbelta contra a luz, no cimo da montanha, na sucessão de tonalidades que ora descansam ora surpreendem, na patine da memória, na densidade fina e fresca dos silêncios, na luz, a mais sublime das arquitetas dos sentidos, tudo em nós, tudo de nós se espelha em imagens do espírito que forra a nossa alma. Amanheceres de renda fina e delicada, memórias antigas e eternas, percursos, caminhos, sinuosos, misteriosos, sempre por adivinhar, surpresas já escritas e outras ainda por escrever, a cada instante de luz, a cada agitar de folhagem, na sucessão de imagens em que Sintra espelha e declina a nossa alma.

                                 

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