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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Duarte de Carvalho (2012) aparecem novas pistas sobre a ligação direta do crime ao tráfico de armas para o Irão.

O assunto de Estado mais negro da História recente de Portugal. Convém não esquecê-lo.
A 4 de dezembro de 1980 o avião onde seguiam Francisco de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa (e acompanhantes) explode pelo efeito de uma bomba colocada debaixo do assento do piloto. O crime é confessado anos depois por Farinha Simões que, ao ser abandonado por todos os que o protegiam, decidiu desvendar os aspetos operacionais do crime. Neste livro publicado pelo jornalista Frederico
O segredo de "Estado" que envolveu e ainda envolve o assassinato de Francisco de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa é uma mancha negra na nossa História. Momentos em que Portugal e alguns militares e civis portugueses se disponibilizaram para assegurar o tráfico ilícito de armas americanas, através de território português, para o Irão (impedido devido ao embargo decretado por Jimmy Carter e o Senado devido aos reféns americanos detidos pelos iranianos). Sá Carneiro, homem livre, político honesto e Homem de Estado reto e persona non grata dos americanos (que preferiam Mário Soares) é um obstáculo a remover como tantos outros o foram pelos americanos na cena internacional.
Um círculo alargado de portugueses, militares e civis, participam na organização do crime ou têm conhecimento dele. E o avião explode no fim da pista. E todo este assunto é rápidamente abafado nas malhas do Estado, com o consentimento dos responsáveis políticos de então, supostamente para evitar uma guerra civil.
Deputados da Comissão de Inquérito de Camarate pedem que se estabeleça o famoso "nexo de causalidade" entre o tráfico de armas e o assassinato de Sá Carneiro. Como se esse nexo já não tivesse sido estabelecido...Acontece, porém, que isso significaria que teríamos que envolver, nesse vínculo, personalidades políticas portuguesas ainda vivas e ativas e por a descoberto as atuações obscuras e ilícitas que "os americanos" levaram a cabo, ao longo do século XX, no mundo para proteger os seus interesses. Nada disto interessa à classe política nem ao poder. Nem aos americanos, como é de esperar.
Em Portugal, quem está do lado da Verdade, da transparência e é por princípio contrário a estes atos obscuros e ilícitos feitos em nome de interesses superiores, sente-se também vítima deste episódio de Camarate. Para muitos de nós, para mim, naquele dia morreu também uma forma de estar na política e de dedicar-se ao interesse público. E isso é imperdoável. Procurar a Verdade, neste assunto, é prestar homenagem a essa retidão, a essa honestidade, a essa frontalidade que caracterizou Francisco de Sá Carneiro. Honestidade, retidão e frontalidade que é o que muitos queremos para a vida pública nacional. E é com o apego a exemplos que se luta pelos princípios. É por isso que Camarate estará sempre na minha agenda. De vez em quando, convém revivê-lo. Quem quiser, o livro deste jornalista corajoso e penalizado desde então, revela algumas pistas que não deixam dúvidas sobre a trama organizada por portugueses ao serviços dos interesses americanos.

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