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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Portugueses, cansados de política? Eu, Portuguesa, cansada dos que estão cansados...

Portugueses, cansados de política? Eu, Portuguesa, cansada dos que estão cansados...A falta de interesse pelas eleições presidenciais deve-se ao "cansaço" dos Portugueses pela política, diz o grande Miguel Sousa Tavares, argumentando que, depois de terem tido que aguentar com o processo das eleições legislativas e, pior, com o processo de formação do Governo, uma "seca monumental", os Portugueses, coitados, estão cansados, desmotivados, fartos...e isso é, aparentemente, "normal", "humano", embora preocupante, considera ainda, pois no dia 20 estaremos a eleger um Presidente pelo módico espaço de tempo de 10 anos. Miguel Sousa Tavares alerta, numa voz profunda e grave, mas encolhe os ombros e sacode o capote, bem ao estilo português, que trata sempre de reduzir a transcendência de seja do que for à condição de um vulgar tremoço, como forma de mostrar a nossa superioridade e capacidade de controlo sobre tudo o que acontece na vida.
Não teria maior importância, de facto, o comentário de Miguel Sousa Tavares, que só dá importância ao que lhe interessa (por exemplo considerar que o jornal O Público é de interesse público e devia ser ajudado pelo Estado) caso o seu comentário tivesse sido feito entre amigos, entre tremoços e algumas imperiais na cervejaria da esquina de casa dele e não na SIC, à hora nobre, exercendo a sua função de comentador (e isso, pelos vistos pode levar longe) de um poder, que é o quarto da democracia e que tem mais poder que muitos outros, oriundos dos outros três poderes.
Porque é uma leviandade que Miguel Sousa Tavares se fique pelos alertas em voz profunda e melódica e que traga à colação "o tal cansaço físico, intelectual e moral" pela política e pela Política que os Portugueses evidenciam ao não se interessarem minimamente pelas eleições presidenciais, como forma de justificar uma eventual "abstenção" nacional nestas eleições presidenciais. E dizer que é uma leviandade é o mínimo que pode ser dito de alguém que esquece, quando lhe convém e lhe interessa, que faz parte desse quarto poder que também está sujeito às regras da ética e que deveria lutar, de forma positiva, pelos Princípios e Valores que conformam o nosso sistema político. Votar é uma obrigação. É um dever. É um direito. É a única forma, infelizmente, que temos de exercer o poder que nos é dado e uma responsabilidade à qual não devíamos fugir em nenhuma circunstância e que poucos justificativos tem, sob o ponto de vista ético, moral e político.
Mas eu ainda vou mais além. Como membro titular desse quarto poder - que em Portugal é de tão duvidosa consistência como os outros três - Miguel Sousa Tavares devia ter colocado sobre os ombros da Cidadania, o peso de toda a responsabilidade que significa ser Cidadão. E aproveitar a janela que tem sobre Portugal e os Portugueses para fazer um apelo sério e "ameaçador" não apenas ao voto mas à participação ativa de todos no debate sobre a figura do Presidente da República e da sua função. E mais. Deveria ter dirigido esse apelo aos colegas do quarto poder para não desvalorizarem - como ele fez, os candidatos e os debates. Porque essa é a essência da democracia. Essa é a base da nossa legitimidade para exigir e ter, como Cidadãos, uma sociedade mais justa e melhores condições de vida. Os candidatos não são bons? Hoje não são. Mas não é desvalorizando-os que vamos pelo bom caminho. É admitindo-os e levando-os a discutirem, com seriedade e consistência, as suas propostas.
Mas não. Tudo são tremoços e cavaqueira e leviandades. Cansaço? Fadiga? Desinteresse? E depois, como é que é? Quando houver necessidade, quando surgir a primeira "crise" (ou se agudizar a que temos) nessa altura todos gritam, todos barafustam, todos atiram à cara, todos exigem aquele Presidente da República que todos temos na cabeça e que consideramos que devia ser aquele que reside em Belém e que devia fazer, intervir, falar, resolver. Mas nessa altura, todos esquecemos que na altura certa, no momento crucial, estávamos todos "cansados demais", "fartos demais", todos tão "blasés demais" para discutirmos e debatermos quem é que deveria ocupar a cadeira de Presidente.
Cansada da política? Cansada de debater? Cansada de agir? Nunca. Cansada dos que não deviam estar cansados, isso sim. Muito cansada. Mas com forças ainda para alinhar em qualquer iniciativa que tenha como finalidade varrer o pátio público destas criaturas levianas e irresponsáveis. Do primeiro, do segundo, do terceiro e do quarto poder!

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