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sábado, 12 de dezembro de 2015

Narrativas da alma que não conhece a solidão

Da janela de minha casa organizam-se e desenvolvem-se um sem fim de narrativas, como hoje se diz (há quem lhes chame "storytelling", é mais cool), tantas quantas a minha alma criar, de acordo com os seus múltiplos estados de espírito. Milhões de histórias potenciais a partir de um olhar sonhador sobre o primeiro plano - uma mesa de ferro com seis cadeiras à espera de serem ocupadas com conversas que podem abraçar o Universo - a partir de um sentimento de melancolia em relação à laranjeira, no segundo plano, tornado-a protagonista de uma história que remonta à minha infância, a partir de uma terceira relação que se vai formando, lentamente, no horizonte mais distante, sem que o meu olhar dela seja ainda consciente mas que vai crescendo, à medida que a história do segundo plano vai chegando ao fim até que a minha alma lhe passa o testemunho e eis senão quando surge uma nova narrativa, a terceira, na qual é a própria alma por inteiro que se expande e se transforma e confunde com as tonalidades e as formas de um cenário onde a imaginação se desmultiplica em tantas narrativas quantas as que compõem as facetas da minha alma. Passam as horas e o tempo deixa-se amarrar à teia de narrativas que vão sendo construídas pela alma que, como uma criança, se escapa pela janela, à hora proibida, atraída pelo encanto e a excitação de um sem fim de protagonistas que estão à espera de o serem nas narrativas daqueles para cuja alma jamais existirá a solidão.

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