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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Portugueses, cansados de política? Eu, Portuguesa, cansada dos que estão cansados...

Portugueses, cansados de política? Eu, Portuguesa, cansada dos que estão cansados...A falta de interesse pelas eleições presidenciais deve-se ao "cansaço" dos Portugueses pela política, diz o grande Miguel Sousa Tavares, argumentando que, depois de terem tido que aguentar com o processo das eleições legislativas e, pior, com o processo de formação do Governo, uma "seca monumental", os Portugueses, coitados, estão cansados, desmotivados, fartos...e isso é, aparentemente, "normal", "humano", embora preocupante, considera ainda, pois no dia 20 estaremos a eleger um Presidente pelo módico espaço de tempo de 10 anos. Miguel Sousa Tavares alerta, numa voz profunda e grave, mas encolhe os ombros e sacode o capote, bem ao estilo português, que trata sempre de reduzir a transcendência de seja do que for à condição de um vulgar tremoço, como forma de mostrar a nossa superioridade e capacidade de controlo sobre tudo o que acontece na vida.
Não teria maior importância, de facto, o comentário de Miguel Sousa Tavares, que só dá importância ao que lhe interessa (por exemplo considerar que o jornal O Público é de interesse público e devia ser ajudado pelo Estado) caso o seu comentário tivesse sido feito entre amigos, entre tremoços e algumas imperiais na cervejaria da esquina de casa dele e não na SIC, à hora nobre, exercendo a sua função de comentador (e isso, pelos vistos pode levar longe) de um poder, que é o quarto da democracia e que tem mais poder que muitos outros, oriundos dos outros três poderes.
Porque é uma leviandade que Miguel Sousa Tavares se fique pelos alertas em voz profunda e melódica e que traga à colação "o tal cansaço físico, intelectual e moral" pela política e pela Política que os Portugueses evidenciam ao não se interessarem minimamente pelas eleições presidenciais, como forma de justificar uma eventual "abstenção" nacional nestas eleições presidenciais. E dizer que é uma leviandade é o mínimo que pode ser dito de alguém que esquece, quando lhe convém e lhe interessa, que faz parte desse quarto poder que também está sujeito às regras da ética e que deveria lutar, de forma positiva, pelos Princípios e Valores que conformam o nosso sistema político. Votar é uma obrigação. É um dever. É um direito. É a única forma, infelizmente, que temos de exercer o poder que nos é dado e uma responsabilidade à qual não devíamos fugir em nenhuma circunstância e que poucos justificativos tem, sob o ponto de vista ético, moral e político.
Mas eu ainda vou mais além. Como membro titular desse quarto poder - que em Portugal é de tão duvidosa consistência como os outros três - Miguel Sousa Tavares devia ter colocado sobre os ombros da Cidadania, o peso de toda a responsabilidade que significa ser Cidadão. E aproveitar a janela que tem sobre Portugal e os Portugueses para fazer um apelo sério e "ameaçador" não apenas ao voto mas à participação ativa de todos no debate sobre a figura do Presidente da República e da sua função. E mais. Deveria ter dirigido esse apelo aos colegas do quarto poder para não desvalorizarem - como ele fez, os candidatos e os debates. Porque essa é a essência da democracia. Essa é a base da nossa legitimidade para exigir e ter, como Cidadãos, uma sociedade mais justa e melhores condições de vida. Os candidatos não são bons? Hoje não são. Mas não é desvalorizando-os que vamos pelo bom caminho. É admitindo-os e levando-os a discutirem, com seriedade e consistência, as suas propostas.
Mas não. Tudo são tremoços e cavaqueira e leviandades. Cansaço? Fadiga? Desinteresse? E depois, como é que é? Quando houver necessidade, quando surgir a primeira "crise" (ou se agudizar a que temos) nessa altura todos gritam, todos barafustam, todos atiram à cara, todos exigem aquele Presidente da República que todos temos na cabeça e que consideramos que devia ser aquele que reside em Belém e que devia fazer, intervir, falar, resolver. Mas nessa altura, todos esquecemos que na altura certa, no momento crucial, estávamos todos "cansados demais", "fartos demais", todos tão "blasés demais" para discutirmos e debatermos quem é que deveria ocupar a cadeira de Presidente.
Cansada da política? Cansada de debater? Cansada de agir? Nunca. Cansada dos que não deviam estar cansados, isso sim. Muito cansada. Mas com forças ainda para alinhar em qualquer iniciativa que tenha como finalidade varrer o pátio público destas criaturas levianas e irresponsáveis. Do primeiro, do segundo, do terceiro e do quarto poder!

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Que teria ela inventado para o dia dos 55 anos?

O meu calendário, como o de todos, já vem com datas pré-fabricadas. O dia em que começa o verão, aquele em que muda a hora, o feriado assim, o feriado assado, aquela efeméride, são aquelas bolinhas verdes que vêm já muito bem postas na régua, tipo o material de base do Ikea. Depois, há umas quantas bolinhas azuis, amarelas, pretas, cor-de-rosa, lilás, castanhas e encarnadas (que vêm num saquinho muito arranjadinho) que são as que personalizam os calendários, à escolha do freguês, sei lá, por exemplo: As nossas férias, as dos filhos (por exemplo, cor-de-laranja), os nossos anos (pode ser amarela) os dias de pagamentos (se forem os dos impostos, só podem ser encarnadas) o dia do cão ir ao veterinário, o dentista do menino, a revisão do carro, para quem gosta de futebol, não há bolinhas que cheguem, o dia disto, o dia daquilo e por aí fora e por aí adiante. Há uma bolinha, a preta, que durante anos, reservei sempre para o dia de hoje, dia 29 de Dezembro. Os anos da Cristina. Porque era o dia dos anos da Cristina, porque era um dia que, acontecesse o que acontecesse, era incontornável, era obrigatório, era o dia dos anos dela e que, porque ela adorava fazer anos, era um must, era uma efeméride. "O que é que vais fazer este ano?". Acho que nunca ou raros foram os anos - e para mim foram 35 anos - em que a ouvi dizer: "Nada". Ou era um jantar com a família, ou era um café depois do jantar com a família, ou era um jantar reduzido, fora, em casa, no Restelo, em Sintra, nas Pedras Altas, havia sempre, sempre, uma combinação. Bolinha preta porquê? Preta a cor do cabelo, preto a cor dos olhos, a cor da classe, preta a cor da incondicionalidade, da constância, a cor da noite, do infinito. Hoje e sempre, dia 29 de dezembro, é um dia especial. Que teria ela feito hoje, pergunto-me? À Assunção Vassalo, ao Manel Vassalo, à Madalena Vassalo e ao pai Manel, um abraço especial pelo dia de hoje. Que teria ela inventado para o dia dos seus 55 anos?
P.S. A foto não é a melhor, aliás é para esquecer mas é única e foi irrepetível. Bruges, 1988.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal

O Natal também é uma manta, um sofá, um café, um cigarro, um livro, uma lareira, umas vozes familiares que se vão esvaindo no entardecer gradual de uma sonolência de paz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

DO QUE PRECISAMOS É DE UMA MACRO-OPERAÇÃO DE RESGATE PSICOLÓGICO

Um país livre, uma economia de mercado, uma sociedade justa? Deixem-me rir! Portugal é uma sociedade onde, mental e realmente, o Estado não foi criado para gerir os interesses comuns (o interesse geral) mas sim para gerir os interesses do ou dos partidos que chegam ao poder, os interesses dos oligopolios económicos e os interesses de algumas corporações formais (médicos, professores, etc) ou informais, até os interesses da Comunicação Social. Este Estado vísivel e invisível, é omnipresente e omnipotente e por intermédio de uma rede de vasos comunicantes que todos construimos, estende os seus tentáculos a toda a sociedade. Todos querem ser amigos de algum destes braços do Estado, todos procuram ter alguma influência porque todos sabemos que sem ele nada se faz, nada acontece, nada é possível. Todos têm ou querem ter um amigo Ministro, Presidente da Câmara, Embaixador, Cônsul, Diretor Geral, Deputado, Presidente de um oligopolio, administrador de uma grande empresa, Secretário Geral de uma Corporação. Porque todos sabem que o seu poder e o seu prestígio se mede pelas relações que tem e não pelo que é. Todos tecem esta rede porque todos querem viver sob a sua proteção. E debaixo desta "crosta" desenvolvem-se relações doentes e podres que viciam e apodrecem a liberdade, a justiça e a igualdade. Não tem a ver com a dimensão, tem a ver com a cultura, a mentalidade, a ambição e o dinamismo. Desde o Marquês de Pombal que é assim. Uma sociedade infantil, amedrontada e dependente. Prisioneira do poder que ela própria organiza para não ser livre. Do que precisávamos era de uma macro-operação de resgate psicológico!

domingo, 20 de dezembro de 2015

A Realpolitik europeia de hoje, obriga à celebração de um Contrato Social europeu

No outro dia escrevi aqui que o verdadeiro défice de que padece a Europa - e os seus Estados Membros - é o défice da democracia. A meu ver caminhamos inexoravelmente para uma ditadura imposta por um poder que, embora decida cada vez mais diretamente sobre a vida e os destinos das pessoas-Cidadãos, não responde diretamente perante elas. Afastamo-nos, assim, dos fundamentos da democracia, dos seus princípios gerais, de aqueles que conformam o Contrato Social que regula a convivência das Comunidades Humanas. Urge, pois, na minha opinião, celebrar um novo contrato de convivência e de exercício do poder político, a nível europeu.
Porque já não faz qualquer sentido reformar os Estados, isoladamente. O espaço europeu, o destino europeu vem ditado pela necessidade de abordar e resolver problemas, necessidades e desafios que afetam a Comunidade Humana universal. Nenhum Estado pode, por si só, fazer-lhes face.
E nenhum Estado, nenhum triunvirato de Estados, pode arrogar-se da legitimidade de decidir, pela via do seu maior peso político dentro das Instituições, pela Cidadania. Chegados aqui, o processo de construção da Europa, enquanto espaço de convivência e de ação comum, deve ser devolvido-entregue à sua Cidadania, única garantia de que o projeto político assente efetivamente nos Valores e Princípios Gerais que um dia, há mais de dois séculos, fundaram os nossos Estados, as nossas respetivas Comunidades Políticas.
Para que a Política se aproxime de novo da Verdade - debate tão velho quanto a nossa existência e tão atual, por força das atuais circunstâncias - é necessário celebrarmos um Contrato Social entre europeus. Algo que nunca foi seriamente equacionado pelo medo que os que detêm o Poder Político institucional europeu, de serem desbancados do exercício desse poder. O que mostra bem o afastada que está a política, dita europeia, da Verdade que deve conformá-la.
Este contrato deve fundamentar-se no princípio segundo o qual a Verdade que eu (Cidadão) carrego tende ir ao encontro com a Verdade carregada pelo outro (Cidadão), mesmo quando este é um adversário político; porque a “minha” Verdade e a Verdade “dele” precisam uma da outra; porque cada uma das duas perde significado sem a outra. Sem que cada uma perca a sua identidade mas com a consciência de que ambas concorrem para uma “unidade na Verdade”, que é mais profunda e mais forte do que qualquer divisão.
Num momento em que na Europa cresce a fragmentação política, a indiferença da Cidadania, se sedimenta uma liderança sem autoridade e responsabilidade política e são postos em causa Valores e Princípios fundamentais de convivência, o único movimento político realmente necessário é um Movimento — de políticos e de cidadãos — que reconstrua as condições de unidade da política e que ilumine novamente as bases e os objetivos comuns: Nunca antes a Realpolitik se aproximou tanto da necessidade de assegurar a nossa sobrevivência e convivência comuns. Mas entre a memória do passado, a realidade que nos envolve e os desafios que se colocam, que outra Realpolítik senão a de um Contrato Social Europeu?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Duarte de Carvalho (2012) aparecem novas pistas sobre a ligação direta do crime ao tráfico de armas para o Irão.

O assunto de Estado mais negro da História recente de Portugal. Convém não esquecê-lo.
A 4 de dezembro de 1980 o avião onde seguiam Francisco de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa (e acompanhantes) explode pelo efeito de uma bomba colocada debaixo do assento do piloto. O crime é confessado anos depois por Farinha Simões que, ao ser abandonado por todos os que o protegiam, decidiu desvendar os aspetos operacionais do crime. Neste livro publicado pelo jornalista Frederico
O segredo de "Estado" que envolveu e ainda envolve o assassinato de Francisco de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa é uma mancha negra na nossa História. Momentos em que Portugal e alguns militares e civis portugueses se disponibilizaram para assegurar o tráfico ilícito de armas americanas, através de território português, para o Irão (impedido devido ao embargo decretado por Jimmy Carter e o Senado devido aos reféns americanos detidos pelos iranianos). Sá Carneiro, homem livre, político honesto e Homem de Estado reto e persona non grata dos americanos (que preferiam Mário Soares) é um obstáculo a remover como tantos outros o foram pelos americanos na cena internacional.
Um círculo alargado de portugueses, militares e civis, participam na organização do crime ou têm conhecimento dele. E o avião explode no fim da pista. E todo este assunto é rápidamente abafado nas malhas do Estado, com o consentimento dos responsáveis políticos de então, supostamente para evitar uma guerra civil.
Deputados da Comissão de Inquérito de Camarate pedem que se estabeleça o famoso "nexo de causalidade" entre o tráfico de armas e o assassinato de Sá Carneiro. Como se esse nexo já não tivesse sido estabelecido...Acontece, porém, que isso significaria que teríamos que envolver, nesse vínculo, personalidades políticas portuguesas ainda vivas e ativas e por a descoberto as atuações obscuras e ilícitas que "os americanos" levaram a cabo, ao longo do século XX, no mundo para proteger os seus interesses. Nada disto interessa à classe política nem ao poder. Nem aos americanos, como é de esperar.
Em Portugal, quem está do lado da Verdade, da transparência e é por princípio contrário a estes atos obscuros e ilícitos feitos em nome de interesses superiores, sente-se também vítima deste episódio de Camarate. Para muitos de nós, para mim, naquele dia morreu também uma forma de estar na política e de dedicar-se ao interesse público. E isso é imperdoável. Procurar a Verdade, neste assunto, é prestar homenagem a essa retidão, a essa honestidade, a essa frontalidade que caracterizou Francisco de Sá Carneiro. Honestidade, retidão e frontalidade que é o que muitos queremos para a vida pública nacional. E é com o apego a exemplos que se luta pelos princípios. É por isso que Camarate estará sempre na minha agenda. De vez em quando, convém revivê-lo. Quem quiser, o livro deste jornalista corajoso e penalizado desde então, revela algumas pistas que não deixam dúvidas sobre a trama organizada por portugueses ao serviços dos interesses americanos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Neste Natal, ofereça aos seus um "políticamente correto"

Há-os de várias cores, modelos, tamanhos. Para ocasiões de luxo ou mais ao estilo "casual" (leia-se em inglês) ou ainda para momentos tertulianos. A oferta é grande, Portugal é, neste particular, um país de abundância, criatividade e eficácia. O investimento tem retorno garantido, há colunas de admiradores, seguidores, fans, defensores, lutadores, dispostos e disponíveis para se arrumarem atrás de qualquer "politicamente correto" que se compre para se viver comodamente na ribalta a gozar, a usufruir...aquilo que o tuga gosta: comprar a Sorte Grande para viver bem e não ter que fazer nada o resto da vida. Pois bem, este Natal, graças à entrevista que o nosso "buldozer mediático" deu ontem na TV, o mercado do politicamente correto está aberto ao público com novos produtos, novas ideias, novas modas. Prevejo um grande dinamismo na economia só à custa dos confrontos entre os vários "politicamente corretos" que foram ontem lançados no mercado. Passo a descrevê-los:
1. É politicamente correto, para uns, afirmar-se com os pulmões em máxima rotação e as carótidas ao rubro, que o Sócrates é um malandrão, um corrupto, um desenvergonhado, um criminoso e que devia apodrecer na prisão.
2. É políticamente correto, para outros, dizer-se que os malandrões são os juízes, os magistrados, os procuradores, os investigadores, sejam da Relação, do MInistério Público, da Autoridade Tributária, da DIAP, da DCIAP ou lá quais forem as siglas que identificam uma corporação que mais parece a Maçonaria que se vinga, a seu bel prazer, de uma série de vítimas que incomodam ou incomodaram e puseram em causa a classe.
3. É, também, políticamente correto dizer-se, e alguns fazem-no com fervor religioso, que à Justiça o que é da Justiça e ao mundo o que é mundano, ou seja, "não me com-pro-me-ta", como dizia o Jô Soares. É aquela posição impossível de quem se coloca numas escadas de tal forma que não deixa saber se sobe ou desce, a arte do equilibrista que vive à espera de ver quem ganha a jogada para se imiscuir, sem ser notado, com a multidão dos seguidores.
4. Mas como a economia tem que crescer e para isso precisa de incorporar novos clientes, novos consumidores, antecipo aqui um novo "políticamente correto" que fará furor na temporada que se segue à deste Natal e que está já disponível nas lojas vanguardistas e de moda tipo rebelde, amante de causas perdidas e revoluções eternamente adiadas. Permite-lhe, a si, que não se vê encaixado em nenhum dos três produtos atrás sinalizados, advogar e defender que uns e outros estão intimamente ligados e a corrupção não tem trincheiras, essa é uma ilusão que nos pretendem vender, uns e outros, para desviarem a nossa atenção daquilo que é a Verdade. Atenção que este "políticamente correto", sendo de nova geração, vai com um "dispositivo", uma espécie de "óculos" semelhantes aos que nos dão nos cinemas 3D e que, quando colocados, fazem aparecer as ligações, as conexões entre todos os "manegam" o poder neste nosso país. Com estupefação, incredulidade e indignação, descobriremos que afinal os malandrões são-no todos...incrível! Oooh, espanto, afinal a corrupção é um enorme cefalópode, infinito-pode (substitua o infinito pelo número de patas que acha que o "bicho" tem) com infinitas caras, nomes, apelidos, cargos, funções, atribuições e relaciona tudo e todos...o problema deste novo produto de "políticamente correto" é que sem o tal dispositivo, ninguém consegue detetar essa teia maravilhosa e surpreendente de pessoas todas unidas por uma mesma causa: burlar o país e a nós todos.
Escolha um destes "politicamente correto", este Natal e presenteie os seus com aquele que achar que lhes dá mais felicidade e prazer. E dizem que não somos criativos e que não sabemos tirar partido das adversidades...Há países onde há só dois "políticamente correto". Os de um lado contra os do outro. Nós somos infinitamente mais criativos. Há quatro formas de ser e estar neste nosso cantinho chamado Portugal, plantado nos subúrbios dessa Europa duolítica envelhecida e gasta, que nunca para, nunca fica de braços cruzados, nunca se resigna e está sempre pronto para desbravar novos mares, novos mundos, novos mercados...Aplausos, pois, para todos os que tornaram e tornam possível esta magnífica obra de arte chamada Portugal, chamada Portugueses, chamada Todos Nós! Somos o máximo! E não esqueça, este Natal ofereça aos seus o que cada um dos seus quer...Fique descansado, ninguém saberá o que verdadeiramente pensa...(he, he, he, engane-os a todos)!

sábado, 12 de dezembro de 2015

Narrativas da alma que não conhece a solidão

Da janela de minha casa organizam-se e desenvolvem-se um sem fim de narrativas, como hoje se diz (há quem lhes chame "storytelling", é mais cool), tantas quantas a minha alma criar, de acordo com os seus múltiplos estados de espírito. Milhões de histórias potenciais a partir de um olhar sonhador sobre o primeiro plano - uma mesa de ferro com seis cadeiras à espera de serem ocupadas com conversas que podem abraçar o Universo - a partir de um sentimento de melancolia em relação à laranjeira, no segundo plano, tornado-a protagonista de uma história que remonta à minha infância, a partir de uma terceira relação que se vai formando, lentamente, no horizonte mais distante, sem que o meu olhar dela seja ainda consciente mas que vai crescendo, à medida que a história do segundo plano vai chegando ao fim até que a minha alma lhe passa o testemunho e eis senão quando surge uma nova narrativa, a terceira, na qual é a própria alma por inteiro que se expande e se transforma e confunde com as tonalidades e as formas de um cenário onde a imaginação se desmultiplica em tantas narrativas quantas as que compõem as facetas da minha alma. Passam as horas e o tempo deixa-se amarrar à teia de narrativas que vão sendo construídas pela alma que, como uma criança, se escapa pela janela, à hora proibida, atraída pelo encanto e a excitação de um sem fim de protagonistas que estão à espera de o serem nas narrativas daqueles para cuja alma jamais existirá a solidão.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

9:58 da manhã. Lisboa

9:58 da manhã. Lisboa. 7 de dezembro. Um dia como qualquer outro. (Não fossem os anos da amiga Mafalda Taquenho e os anos de casada da amiga Isabel Rebelo de Andrade Santos, lógico). Tão bom ou tão mau como a sucessão de dias que tem sido a vida de todos nós que nascemos depois de 1960. Em paz. Vim trazer o meu filho Luis a Lisboa, ao Liceu Francês. No caminho, fiz-lhe perguntas sobre a matéria do teste de História. As duas Grandes Guerras. Datas, conceitos, factos. Batalhas, estratégias, personalidades. Faz hoje, 7 de dezembro, anos do ataque a Pearl Harbour. A Europa estava ocupada. A Inglaterra sob fogo. O dia à dia plácido e inconsequente de milhões de Europeus transformado em inferno. À espera dos americanos. Foi há 70 anos...E essas guerras, ele percebeu, não surgem do nada. O Blitzkrieg é apenas uma estratégia militar. A guerra começa a tomar forma, lentamente, quando, ante as dificuldades, deixamos de ter respeito uns pelos outros. Quando deixamos de ouvir, de dialogar, de perceber. A partir desse momento, as Instituições que criámos para gerir a concordia deixam de ter valor, deixam de ser uma garantia. Passa a imperar a lei do mais forte, daquele que grita mais, daquele que está disposto a deitar tudo a perder para impor a sua verdade. Se não acreditamos com firmeza e coragem no dialogo e na concordia, na tolerância e no respeito e defendemos com unhas e dentes as Instituições que representam esses Valores, há sempre quem esteja disposto a impor a sua Verdade. Essa Verdade só existe e só se impõe porque não tem nada pela frente que lhe resista. Nenhuma voz mais alto se "alevanta", como dizia o poeta. Em 1938, a Europa, as Instituições, a paz, a vida plácida e serena do quotidiano desaparecem em pouco menos de uns meses. O Blitzkrieg invade a Polónia, o Saarland, a Checoslováquia e irrompe pela Bélgica, Holanda, Luxemburgo e França. Sem oposição. São os Valores que cedem como castelos de cartas, manteiga, fumo.
Todos levamos dentro a fraqueza e a grandeza. Nenhum de nós está na posse da Verdade. E ante esta Certeza, a inteligência e a humildade -duas facetas da nossa Grandeza - convidam-nos a sermos capazes de ouvir, falar, discutir, aceitar. Para ultrapassar as fraquezas que tão humanas são. Com firmeza. Com convicção. Sem concessões.
Depositei o Luis no Liceu. Espero que possa dar conta das datas, dos factos e das vicissitudes das duas grandes guerras. Mas acima de tudo o que espero é que tenha percebido que acredito, convictamente, nestes Valores. E que foi a sua ausência a verdadeira causa daquela destruição. E que o mesmo voltará a acontecer se não soubermos bater-nos por eles, hoje e sempre. Cada dia. Cada instante. Boa sorte, Luis! Vai correr bem de certeza absoluta!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Escuridão


A escuridão. É negra. Imensa. Vasta, uniforme. Estática e densa, distante, fria e só. Não começa nem acaba, está, cobre, envolve, é espaço e tempo, impõe-se, é silêncio. A alma, impenetrável, espelhada na infinita solidão do Universo.



                          

sábado, 28 de novembro de 2015

EUROPA: O VERDADEIRO DÉFICE A SUPRIMIR

A Europa foi em tempos um espaço e um projeto de paz, liberdade e de bem-estar. Pôde sê-lo porque os Estados Unidos assumiram, em nosso nome e para o nosso bem comum, o ónus da nossa defesa e proteção contra a ameaça do bloco soviético, a única que podia por em perigo o projeto de construção europeia. Todos os projetos de criação de uma verdadeira política de defesa e segurança, com todas as consequências que lhe são inerentes, falharam, se bem se lembram. E tudo ia pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis, até ruir o Império soviético. E longe de significar o final da História e o final das ameaças, o vazio que por ele foi deixado passou a ser ocupado por uma multiplicidade de ameaças mais subtis, mais sofisticadas, mais dispersas, mais exigentes. 
É fácil olhar para trás, para 1990, e dizer, hoje, que os Europeus foram irresponsáveis e não estiveram à altura de tomar as decisões que deveriam ter tomado para que hoje, o projeto europeu continuasse a ser uma certeza inabalável de paz, liberdade e de bem-estar. Mas a verdade é que essas decisões estruturantes e estratégicas não foram tomadas. Pensou-se e agiu-se na crença de que a História, na sua versão maniqueísta - bons e maus - tinha acabado e de que após sete décadas de Guerra fria, nada mais grave podia ameaçar o mundo e a Europa. E, neste contexto, duas decisões foram "levianamente" adiadas quando não o deveriam ter sido: em primeiro lugar corremos, sem pensar, a integrar no projeto europeu, os países da Europa de Leste. Pressionados por ingleses e alemães e pela “dívida histórica para com países irmãos e sociedades martirizadas”, decidimos dar prioridade absoluta e imediata ao "alargamento" da Europa em detrimento do seu "aprofundamento". E aprofundar teria significado refletir sobre os objetivos, as condições e a viabilidade dessa União Europeia alargada.
Quando por fim foram tomadas essas decisões, uma década depois, com o Tratado de Lisboa, o mundo já não era o mesmo de 1992 e, face às ameaças externas, graves e difusas, e ante as contradições internas que se começavam a fazer sentir, as respostas europeias enfraqueceram-na em vez de a fortalecerem. Faltou clarividência, sentido estratégico e coragem política. Ante o interesse geral europeu, prevaleceram os interesses dos Estados e, com eles cresceram as inúmeras fragilidades que fizeram dela uma presa fácil da crise financeira internacional, da crise económica interna, da crise dos refugiados e da ameaça certa do terrorismo.
Mas houve uma segunda decisão que então não foi tomada e que ainda hoje é um vazio cujas consequências comprometem gravemente a continuidade do projeto europeu: o modelo político da construção europeia. Não tanto o modelo de regime em si, que pode ser discutido, mas a construção efetiva dos fundamentos políticos de um futuro regime político. A falta de coragem e de interesse político para democratizar plenamente a União Europeia enfraqueceu-a decisivamente e hoje assistimos, por um lado ao divórcio da Cidadania deste grande projeto europeu e, por outro, à apropriação, por parte dos seus grandes Estados, das suas instâncias de decisão e da propagação através das suas malhas, dos seus interesses nacionais. E a tensão entre interesses que são contraditórios torna-se insuportável, ao ponto de ser legítimo pensar que este projeto europeu tem, efetivamente, os dias contados.
Sou uma europeísta convicta e militante. Mas de uma Europa que sabe ter sempre presente, em qualquer momento e circunstância, que os seus objetivos latentes são, antes todos os outros, a preservação da paz, a garantia da liberdade e a promoção do bem-estar dos seus Cidadãos. E para dar sentido e alcance a essa Europa, é indispensável democratizar, de forma limpa, transparente e efetiva, a União. 64 anos volvidos da Declaração Schumann, a legitimidade das decisões sobre os grandes destinos europeus deve residir na sua Cidadania e nos seus representantes eleitos por via do sufrágio direto e universal. Chegou a hora de dar esse passo fundamental não só para preservar o património dos Valores que nos são mais intrínsecos, mas fundamentalmente para construir uma Europa forte, unida, próspera, livre, justa e invencível, em torno das pessoas, dos seus Cidadãos. A força da Europa, neste momento já não pode residir na legitimidade democrática dos Estados, mas sim na vontade da sua Cidadania.
Face às ameaças e desafios com que hoje nos confrontamos e que questionam diretamente os Valores e Princípios que são os nossos, todos somos mais capazes de ultrapassar as diferenças que nos têm separado no respeito das diversidades que nos caracterizam. O que os atos terroristas do passado 11 de novembro trouxeram à superfície, foram os denominadores comuns que nos unem e sendo eles profundos e verdadeiramente estruturantes da nossa identidade europeia, devem ser trasladados á União e estrutura-la de forma a que possa ser indestrutível antes as ameaças que a desafiam.
Mais do que nunca, a solução é mais Europa. Mas não podemos errar outra vez: Mais Europa significa colmatar o que revelou ser, ao longo destes 60 anos, o seu maior défice: a falta de democracia. É este o verdadeiro défice que importa suprimir. Sempre, sempre, que na História da Humanidade as sociedades optaram pela via democrática, foi a Humanidade inteira que ganhou. Sempre. Se tivermos a coragem e a determinação de tornar a Europa um espaço de liberdade e de democracia, a Europa também ganhará. E com ela, todos nós, europeus.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Matérias para reflexão.

A liberdade
A Liberdade é um Valor Fundamental inerente à condição humana. Estruturante da condição humana. Só um ser livre pode desenvolver todo o seu potencial. Todas as suas qualidades. Ser, na sua plenitude. Se regras existem, que limitam a liberdade, elas têm como objetivo preservá-la enquanto valor fundamental e garantir a todos o seu exercício. Como princípio e valor fundamental, a liberdade impregna toda a atividade humana, justifica-a, dá-lhe razão de ser. Deste Princípio Fundamental decorrem outros, como a democracia, que nos garante a liberdade de escolha, a existência de alternativas, a pluralidade de opções. Quando, por variadíssimas razões, limitamos essa possibilidade, a possibilidade de escolher, de dizer sim a uma opção e não, a outra, estamos a condicionar a nossa liberdade, a possibilidade de seguirmos e exercermos, sem consequências de maior, as nossas convicções, os nossos ideais, as nossas preferências, os contextos onde sentimos que nos podemos realizar mais plenamente.
A Europa
A Europa que hoje estamos a construir, é uma Europa que limita as escolhas. Que não oferece a possibilidade de seguir um caminho ou optar por outro. É uma Europa que diz que não podem existir alternativas a um determinado modelo económico, a uma determinada disciplina, a uma determinada visão. Não é a minha Europa. Não é o modelo de sociedade onde quero viver. Não me conformo com o caminho único porque quero ser livre e poder escolher. Mas a verdade é que essa Europa de pensamento único e monolítico agregou um tal poder que hoje, sem querermos e sem sermos conscientes, somos prisioneiros dos seus dogmas, das suas imposições, das suas complexidades, de umas inevitabilidades que nos encurralam e nos limitam angustiantemente a nossa liberdade.
A liberdade condicionada
Hoje, não existe, na Europa, alternativa credível e viável ao pensamento monolítico ditado pelos países fortes controlados pelo poder financeiro. Não basta e não interessa ser-se contra a Alemanha ou contra a Holanda ou contra os Diktats de um Eurogrupo. De facto, o poder financeiro apoderou-se da voz dos Estados nessa Europa gerida em Bruxelas que, por não ser nem sequer formalmente democrática, não admite oposição. Onde fazer oposição? As veleidades que uns tínhamos de poder construir, um dia, uma Europa plenamente democrática esvaíram-se com a morte da Convenção Europeia e a imposição do intergovernamentalismo. A crise económica, o grande pretexto, foi o golpe de misericórdia nesta Europa de Cidadãos atordoados com as maravilhas inebriantes do poder de compra. Deixamo-nos comprar e hoje estamos todos, todos mesmo, nas mãos daqueles que nos venderam uma felicidade falsa e precária. Chamem-lhe capital, poder financeiro, mercados. Não tem rosto, nem Pátria, nem nome, nem domicílio nem sequer uma morada eletrónica. Mas condiciona irremediávelmente a nossa liberdade e está em vias de enterrar as nossas democracias.
O furto do bom senso
É tudo uma questão de perspetiva e de visar o alvo certo. O que está em causa não é a mera sustentabilidade das sociedades. Que o condicionalismo que nos impos esse senhor ou senhora que está por trás do poder financeiro não nos tolha a razão! Façam zoom-out. Afastem-se do barulho ensurdecedor dos media, dos peritos, dos conselheiros, dos políticos que servem esse poder financeiro e observem a geografia e a história europeia no seu todo. Porque é todo o continente europeu, o berço da liberdade, a mãe da democracia, a arquiteta do humanismo, a pátria da ciência e da filosofia e a sede do cristianismo universal, que estão ameaçados. Hoje, nós, os Europeus, estamos confinados ao debate sobre condições de disciplina orçamental. Nos nossos Parlamentos,hoje, fazem-se discursos inflamados, de vida ou de morte, sobre o cumprimento ou não cumprimento de regras orçamentais. O Eurogrupo é a nossa preocupação, o nosso referente, a nossa angústia, a nossa miséria. Tolheram-nos o pensamento, arrebataram-nos o espírito, limitaram-nos a razão, furtaram-nos o bom senso. O que é que está verdadeiramente em causa? Longe do dia-à-dia, o que é que deve motivar, realmente, a nossa preocupação? Onde é que devemos colocar o bom-senso? Qual é o nosso dever, enquanto cidadãos, políticos, governantes? Que rezará de nós, a História Europeia, daqui a umas décadas? Que rosto representará a Europa, na História do século XXI da nossa Humanidade, depois de Cristo se, ante a pobreza que se vai agregando, à nossa volta e atinge uma enormíssima proporção dos nossos jovens, da nossa classe média, dos nossos idosos, focalizamos o nosso espírito e concentramos a nossa razão na obediência a um poder financeiro que irá semear mais miséria que as guerras fratricidas que nos ocuparam durante séculos? Seremos mais um Capítulo negro da História da Humanidade.
A alternativa da consciência
Como construir as alternativas a este pensamento monolítico que outro objetivo não tem senão a de enfraquecer a Europa e reduzir os Europeus a escravos de um poder financeiro que já deu provas de quais são os seus Valores, os seus Princípios, os seus objetivos, a sua estratégia e, pior, os seus resultados?
Que fazer chegados ao ponto de não só termos que aceitar limitar a nossa liberdade, abandonar as nossas democracias mas também e parece que definitivamente outros valores que, cristãos ou não, são inerentes ao Ser Humano: a tolerância, o respeito, o amor ao próximo, a caridade, a convivência pacífica. Hoje, os Europeus, temos medo. Fechamo-nos sobre a nossa própria miséria e não queremos ver que não é com bombas nem metralhadoras que deixaremos de ter medo. É a pobreza que nos deve afligir e não as armas.
A alternativa está longe de ser viável. Mas há um começo. E este chama-se consciência. Começa com a informação. O conhecimento. Análise. A reflexão. Só quando ganharmos consciência da realidade é que nos poderemos mobilizar. Reagir. Construir alternativas. Alternativas de bom-senso. Ancoradas sobre a proteção e a defesa da liberdade. Dela decorrem inúmeros outros Valores e Princípios, que virão. Mas hoje, o que está em causa é, definitivamente a liberdade. É esse o pilar que está a ser posto em causa. Não nos iludamos nem fechemos os olhos. É matéria para reflexão. Embora eu seja da opinião que começa a ser tarde para ficarmos no sofá, tranquilamente, a refletir.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

As quadras da vida

Se a vida queres viver
Faz dela uma farsa.
Se não sabes ser comparsa
Só te resta morrer.
Se na vida queres vingar
Assalta sempre a ocasião,
De comparsa ou vilão
sairás sempre a ganhar.
Pouco importa o que não és
se souberes fazer de conta
que és generoso nos tagatés
e nenhum dedo se te aponta
Se tiveres, porém, uma desgraça
não esperes nada de ninguém
como ratos de uma ameaça
fugirão de ti com desdém.
São estas as quadras da vida
Para quem quer saber viver
Resta, porém, a alternativa
de deixar-se morrer.


Solidão

A solidão impregna a alma
Do cheiro a tabaco frio
Na boca o sabor amargo
Da mágoa do vazio
Horas e horas fumadas
De silêncios fixos a pensar
Na solidão a queimar
Uma morte anunciada.






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