Chamou-me a atenção
o meu querido amigo Zé Vasco Pimentel, amigo dessa infância que nos cai em cima
quando, por distração, abrimos o primeiro armário do nosso quarto das memórias,
que o tempo está guardado nas coisas. É uma grande verdade, Para nos
apropriarmos dele, basta olhar para um objeto, agarrar um pensamento e
obrigá-lo a descascar-se como se de uma Baboushka se tratasse, parando, quando mais
nos apetece, na estação de uma das pequenas aldeias da nossa memória para
passearmos pelos momentos que o nosso estado de espirito, caprichoso, escolheu,
nessa tarde. Eu habito, nesta casa, que agora é minha, em cada um dos objetos
que me envoltam, desde que nasci. Desde que me lembro e me consigo pensar que
eles habitam comigo. Embora nem todos me pertençam, pertencem à minha memória,
ao meu tempo que neles também já existe. Não tenho apego às casas porque
aprendi a mudar-me com a memória e a colocá-la pelas casas por onde vou
passando, nos objetos, nas rotinas, nos percursos, nos gestos, nos ambientes
recriados. Onde estou, sou, e comigo, a minha memória. Momentos felizes, os de
desfolhar o tempo guardado. Nas coisas e em nós.
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário